“Era uma vez um alentejano que emigrou para ao Luxemburgo…”. Assim podia começar esta história, em analogia com as anedotas que o seu protagonista contava no programa televisivo “Levanta-te e Ri”.
Texto e foto Firmino Paixão
António castanho nasceu em Horneberg, na Alemanha, há 40 anos, mas é um bejense de quatro costados, apesar de ter emigrado há cerca de cinco anos para o Luxemburgo. Hoje vive na cidade de Esch-sur-Alzette, a segunda maior do país, a “capital do ferro”. Trabalhou em Beja na área da restauração, treinou equipas jovens no Desportivo de Beja e no Despertar, hoje treina nos escalões de formação do Jeunesse Esch, clube que ocupa o sexto lugar na Liga do Luxemburgo. Mas o mais marcante da sua personalidade foi sempre o bom humor. E foi isso que um dia o levou à televisão para participar no programa “Levanta-te e Ri”.
“Isto aqui no Alentejo estava difícil, tinha uns amigos no Luxemburgo que me fizeram um convite para passar lá algum tempo e eu fui experimentar, adaptei-me e fiquei”, António castanho justificou assim a sua saída do País. E revelou: “Tentei arranjar trabalho e fui bem-sucedido, depois as coisas foram normalizando, porque, mais tarde, levei a família e tornou-se tudo muito mais fácil”.
Na bagagem deste multifacetado emigrante viajaram as suas inúmeras experiências, mas António castanho revelou: “Evitei trabalhar na restauração, os horários não são bons para estarmos com a família, procurei uma área diferente e encontrei trabalho na construção”, no entanto “escondi o humor, algumas pessoas reconheceram-me dos programas de humor, mas eu deixei isso de parte. Penso que o futebol e o humor não ligam bem e preferi valorizar a vertente desportiva e voltar a treinar, do que fazer alguns espetáculos no Luxemburgo, que ainda fiz, mas tentei afastar-me rapidamente disso. Preferi que as pessoas me conhecessem lá por aquilo que eu era e fazia naquele momento, não pelo que tinha feito no passado”.
Nessa medida procurou o futebol como seu porto de abrigo. “Foi realmente o futebol que me fez sentir bem, que me fez ficar melhor e integrar-me mais na comunidade e no país. Estou num país onde dão muito valor à família e apreciam quem faça alguma coisa em prol da comunidade e eu procurei inserir-me no futebol. Fiz amizade com um elemento da direção do Jeunesse, clube onde estou, mais tarde ele fez-me o convite para treinar e graças a Deus lá estou, e muito feliz com o que faço”.
“Trabalho na área da formação, comecei nos sub/9, que lá chamamos pupilos, este ano já estou com os sub/13 que são os minis”. Um país diferente, outros métodos, outros conceitos, apesar da universalidade do futebol, “no Luxemburgo valoriza-se muito a prática desportiva, mas em todas as modalidades, não só o futebol, tudo o que é desporto tem muito valor e depois as modalidades têm condições para evoluir, para crescer, apoiam muito as famílias para que os filhos possam praticar desporto. Não se vive o desporto com a mesma paixão com que nós vivemos aqui o futebol, valoriza--se a prática e não a competição, mas dá-se muito valor e muito apoio à família para que os seus filhos tenham acesso ao desporto”, acentuou castanho, lembrando que “no inverno, o futebol deixa-se de praticar nos campos, mas a prática desportiva não para, os miúdos até aos 17 anos vão para os pavilhões”. No entanto, referiu, “existe uma cultura diferente em relação ao desporto, privilegia-se a formação em detrimento da competição. O clube onde estou é um histórico do futebol e talvez o clube com mais títulos naquele país”. E ambição em evoluir para outros patamares? “Para já não, a minha prioridade é aprender a língua luxemburguesa, falo alemão, francês e português, tenho muitos jogadores que são portugueses, mas depois temos jugoslavos e italianos que falam luxemburguês e esse é um idioma que eu terei que saber, mas o futebol tem uma linguagem universal”.
Depois, existe a saudade, esse sentimento bem português que se atenua no verão. “Sentimos sempre saudades do nosso grupo, da nossa família, das rotinas que tínhamos antes, mas não sou eu apenas que tenho saudades só porque estou lá fora. As pessoas que aqui ficaram sentem alguma saudade do que era a sua terra, de outros tempos, de como isto era antes, nos anos 90, por exemplo. Mudou tudo e todos nós temos saudades desses tempos, uns conseguiram safar-se aqui, outros não conseguiram e emigraram, mas alguns tiveram que voltar, porque não se adaptaram”.
E o humor quando sai da gaveta? “O humor está muito bem guardado para momentos certos. O humor facilita a vida, ajuda no trabalho, alivia as preocupações, e no desporto também facilita a união do grupo. Se pudermos fazer alguém que está ao nosso lado sorrir de felicidade, sentimo--nos melhor, comportamento gera comportamento, alegria gera felicidade”.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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