Apesar de ser um mundo de alegria, com golos e títulos, o futebol
também tem o seu "lado negro", faceta que Henrique, Luiz Ricardo e
Wagner, atletas brasileiros que representam o Almodôvar, sentiram na
pele.
Chegaram a Portugal em 2014 para representar o Estrela de Portalegre,
alimentados pelo sonho de ir mais além. Mas a ilusão durou pouco:
acabaram com fome, sem dinheiro e abandonados pela empresa "fantasma" de
novos talentos que os contratou. E viram-se sinalizados pelo Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras como vítimas de tráfico de seres humanos.
"Foi uma experiência completamente diferente de todas aquelas que já
tinha vivido", confidencia ao "CA" o avançado Wagner, de 22 anos. "Por
onde passei os clubes sempre me disponibilizaram tudo e aquilo foi algo
novo, uma lição de vida. A gente aprende a dar valor às pequenas
coisas", acrescenta.
Henrique e Luiz Ricardo partilham a opinião do colega que virou "irmão".
"Passámos dificuldades juntos, estamos jogando juntos
A gente virou
irmãos", vinca o médio Henrique, 25 anos. "O que a gente passou lá fica
para a vida", complementa Luiz Ricardo, 23 anos, que faz todo o flanco
direito.
Luiz Ricardo, Henrique e Wagner vivem hoje em Faro, no mesmo
apartamento. E partilham ainda mais uma coisa: a camisola do Almodôvar,
onde chegaram no início da temporada e redescobriram o prazer do futebol
após o pesadelo vivido em Portalegre. "Todos nos receberam muito bem, é
tudo amigo. Estamos da melhor maneira possível.", reconhece Luiz
Ricardo. "O Almodôvar abriu as portas à gente, acolheu a gente,
ajudou-nos em tantas coisas
E a gente redescobriu o gosto pelo futebol.
Voltámos a fazer aquilo que gostamos e a ter uma vida normal e
tranquila", diz Wagner.
A época tem sido positiva e os três acreditam que o Almodôvar até podia
estar na luta pelo título. "Tivemos alguma infelicidade", justifica
Henrique. Mas ainda há a Taça do Distrito de Beja [o Almodôvar está nas
meias-finais, recebendo o Odemirense] e os três brasileiros já sonham em
levantar o troféu. "Espero terminar a temporada com esse título",
sintetiza Luiz Ricardo.
Depois virá o final da época e não se sabe qual o destino de Henrique,
Luiz Ricardo e Wagner. Até poderão ficar em Almodôvar para 2017-2018,
mas os três continuam a alimentar o sonho de ser alguém no mundo do
futebol.
"Sei que tenho qualidades e o que tiver de chegar vai chegar. Mas se não
chegar, não estou preocupado", revela Henrique. "Quero ser
profissional, é o meu maior objectivo. Foi por isso que vim para a
Europa", acrescenta Luiz Ricardo. "Desde que cheguei a Portugal que
quero chegar à I Liga e jogar num 'time' grande. É por isso que vou
lutar", remata Wagner.
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