sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Abelardo Mestre: o homem da bicicleta


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“O meu fascínio pelo ciclismo vem desde criança. Nesse tempo, nos anos Sessenta, ouvia na rádio os relatos emotivos dos finais das etapas da Volta a Portugal, em que sobressaíam nomes como Alves Barbosa, Sousa Cardoso, António Pisco, Vítor Tenazinha, Jorge Corvo ou Perna Coelho. Eles entusiasmavam um público imenso e cativavam as crianças”, revela Abelardo Mestre, 69 anos, programador informático, aposentado, nascido na freguesia de Azinheira dos Barros, no concelho de Grândola.



Texto e Foto Firmino Paixão

Fundador da tertúlia de cicloturismo “Os tigres da rotunda”, confessa que “o ciclismo começou por ser uma paixão e agora é quase uma doença de que nunca mais me vou ver livre. Deslumbrava-me com as bicicletas e com os corredores que, em dia de festa, em Beja, a 15 de agosto, disputavam um circuito numa avenida pejada de público ao rubro no incentivo aos ciclistas amadores”.
O gosto pelo ciclismo e a intensidade com que acompanha provas evoluiu para a necessidade de registar imagens para memória futura. Hoje em dia ciclismo e fotografia prevalecem no léxico de Abelardo Mestre: “Sim, são registos que ficarão na história das diferentes iniciativas e a imagem casa bem com o ciclismo. O ciclismo é movimento, é colorido, integra-se perfeitamente na natureza e há fotografias que parecem quadros”.
Descomprometido com qualquer publicação, que não seja o seu próprio blogue, Abelardo refere: “Faço tudo isso por prazer e gasto bastante tempo com esta atividade, são horas e horas agarrado ao computador, felizmente, agora já é tudo digital e, de certa forma, tratam-se as coisas melhor e com mais qualidade do que antigamente. O digital permite-nos tratar a fotografia ou o filme, e como domino a tecnologia de edição, tenho mais facilidade. Sempre é diferente da impressão em papel. Faço verdadeiras reportagens com todo o prazer”.
Confessa-se “um fraco praticante”. “Era melhor rolador do que trepador. Quando aparecia uma subida era uma verdadeira carga de trabalhos”, diz, e lembra que o marco que assinala todo o seu entusiamo pelas bicicletas “foram as transmissões radiofónicas que eu ouvia na infância, todo aquele entusiamo e fulgor do locutor a relatar o final de cada etapa. Mais tarde percebi que podia haver ali alguma encenação à mistura, mas que nos fazia vibrar, isso fazia”.
O entusiasta da velocipedia tem uma grande proximidade com as provas da região, que acompanha e fotografa: “Procuro estar em todas e, de certa forma, vou fazendo um trabalho relacionado com elas, faço o meu arquivo, que um dia ficará para alguém que tenha interesse em possuir estes registos de imagem, senão, acabarão por se perder”. Um trabalho que mereceria alguma visibilidade, concorda Abelardo: “É um arquivo enormíssimo, já pensei fazer uma mostra, para que as pessoas recordem esses momentos, tenho fotografias que já nem me lembro onde as tirei, com 20 ou 30 anos, que não tive o cuidado de identificar”.
Quanto ao ídolo que gostaria de fotografar, tem poucas dúvidas: “Talvez o Alberto Contador. É um lutador, um ciclista de ataque, dá espetáculo e eu sempre gostei desse tipo de ciclistas. Hoje em dia os corredores já têm um nível muito aproximado e se não existirem ataques nós adormecemos. Mas o que gostava mesmo era de acompanhar uma das tiradas míticas do Tour de França, uma etapa nos Pirenéus, um momento que eu viveria com enorme intensidade”.
Abelardo Mestre recorda-se de ter acompanhado algumas Voltas à Margem Esquerda: “Uma prova que foi um marco da nossa região ao nível do ciclismo popular” e sublinha a passagem de Miguel Indurain pelo Alentejo: “Lembro-me de o ver passar, estava eu perto de Vila Alva, foi o momento mais alto da Volta ao Alentejo, nunca tinha visto tanta gente na estrada, e na chegada a Beja estava uma verdadeira multidão, algo que nunca tinha acontecido”. Contudo, não esquecerá também a sua experiência na comunicação social: “Tive muito gosto em colaborar com o ‘Jornal O Ás’ e com o programa ‘Desportivamente’, na Rádio Pax, aliás, acho que, nessa altura, fizemos um bom trabalho na divulgação da modalidade”. Tudo isso, antes de se ter comprometido com “Os tigres da rotunda”, uma tertúlia de ciclistas que ajudou a fundar: “Organizámo-nos junto do hospital de Beja, na companhia do ‘Jaiminho’ (Jaime Costa) que recordo com saudade. Ele dizia ter sido o descobridor do ciclismo em Beja, mas, realmente, foi quem motivou a reunião deste grupo. Como ele trabalhava no hospital, juntávamo-nos ali perto, cinco ou seis entusiastas. Mas o grupo começou a engrossar, vinham já ciclistas de outros lados e mudámos a nossa concentração para a rotunda de Lisboa, a já denominada ‘Rotunda dos tigres’”.

Fonte: http://da.ambaal.pt/

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