sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Francisco Gaitinha, um percurso de quase quatro décadas ligado ao judo
“Quando chego ao dojo e visto o kimono potencio todos aqueles sentimentos que fazem parte do Código Moral do Judo, a gentileza, a coragem, a sinceridade, a honra, a modéstia, o respeito, o autocontrolo e a amizade”, confessou Francisco Gaitinha, conhecido judoca bejense.
Texto e foto Firmino Paixão
“São regras fundamentais” assegurou. “São normas comportamentais que nos devem guiar, não só quando estamos no tapete, mas que fazem parte dos nossos hábitos diários, por isso, confesso que me sinto outra pessoa. Quando pisamos o tapete sentimo-nos realizados, só privilegiamos a amizade”.
Uma carreira longa e ímpar dedicada a uma modalidade que serviu como atleta, árbitro e dirigente. Uma história de vida contada na primeira pessoa: “Comecei a trabalhar aos 12 anos na Fotopax, aos poucos fui descobrindo que o meu patrão, Manuel Fonseca, era praticante de judo. Um dia perguntei-lhe se poderia experimentar. Nesse tempo era complicado, era um desporto algo elitista, mas ele autorizou-me, o meu pai também. Aos 14 anos comecei a praticar judo e não mais parei”, revelou, com alguma saudade, recordando: “O meu primeiro mestre foi o fotógrafo Manuel Fonseca, foi ele que me deu a mão para eu abraçar esta modalidade, e hoje sinto uma verdadeira paixão pela modalidade, aliás, o Judo Clube de Beja é a minha segunda casa, é aqui que me sinto bem”.
Como atleta teve uma carreira prestigiante. Foi campeão nacional e subiu a vários pódios de torneios nacionais e internacionais, com relevo para os que tributam a carreira e a memória de Kiyoshi Kobayashi, que venera com enorme respeito e gratidão, pelo que o mestre japonês fez, também, pelo judo bejense. Francisco Gaitinha subiu progressivamente na hierarquia do dojo bejense, mas fez questão de acentuar: “Quando chegou a Beja o médico cirurgião Vítor Costa, no ano de 1982, incentivou-nos a competir de uma forma mais intensa. Começámos a participar em competições de uma forma mais regular, na altura existiam algumas limitações, mas o mestre Vítor Costa deu um impulso muito grande para que nós participássemos em provas, ainda hoje o faz. É um exímio campeão e um grande treinador, saudamo-lo sempre que está presente, porque é uma pessoa muito conhecedora do judo”.
Pelo gosto e dedicação pela modalidade foi, com naturalidade, que Gaitinha progrediu na graduação: “Cheguei ao cinto negro, atualmente sou 4.º dan, este ano estou a treinar e a aperfeiçoar determinadas katas para chegar ao 5.º dan, que é o topo dos cintos negros, depois, o seguinte será o 6.º dan, que é a graduação que tem um cinto branco e vermelho, uma das máximas que ambicionamos e a mais alta que temos em Beja, que é a do doutor Vítor Costa”.
Francisco Gaitinha, hoje com 52 anos, enveredou mais tarde, em 1989, pela carreira de árbitro. Foi juiz estagiário, regional e nacional, chegando à elite em 2002 e galardoado em 2007, pela Federação Portuguesa de Judo, com o título de “Árbitro elite do ano”. Durante 20 anos integrou a Comissão Nacional de Arbitragem e atualmente preside à recém-criada Associação Nacional de Árbitros.
O seu currículo de bons serviços prestados ao judo não ficaria completo se não enveredasse ainda pela carreira de treinador: “Fiz os cursos de 1. º e 2.º grau, dei aulas em vários clubes no Baixo Alentejo, fui diretor técnico da Associação de Judo de Beja durante 26 anos, treinador de judo na Escola Superior de Educação durante três anos e há 27 anos no meu clube”. O seu clube, o Judo Clube de Beja, emblema a que tem dedicado uma vida e que serve com uma invulgar polivalência: “Há 22 anos que sou presidente do Judo Clube de Beja, o mais antigo de Portugal, é um orgulho enorme estar à frente deste clube, tenho aqui feito um pouco de tudo, naturalmente, com a ajuda dos meus colegas de direção, melhorámos o ginásio, eliminámos um pilar que estava no meio da sala e aumentámos o espaço de treino, construímos balneários, climatizámos as instalações, temos uma sala de musculação, um espaço de sauna, temos uma sede que nos orgulha, qualquer pessoa pode frequentar, deixar os miúdos a praticar judo e ao mesmo tempo fazerem sauna ou musculação”.
Francisco Gaitinha sabe que “sem respeito não há confiança” e que “a amizade é o mais puro dos sentimentos”, princípios consagrados no Código do Judo e assegurou: “Somos irmãos uns dos outros, somos todos amigos, não foi por acaso que a Unesco distinguiu o judo como o melhor desporto de formação para crianças e jovens, como o desporto mais completo e que promove os valores da amizade, participação, respeito e esforço para melhorar”. Mas sempre recorda que: “Tenho muitos atletas que subiram ao pódio como campeões, mas tenho muito mais atletas que foram campeões na vida social”.
Fonte: http://da.ambaal.pt
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