sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Xico Pratas


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José Saúde

Visitei, recentemente, o amigo Xico Pratas, um dos ícones do jornalismo desportivo do nosso habitat, mormente no “Diário do Alentejo”, onde se manteve ao longo de vários anos, e com ele dissequei esplêndidas recordações que outrora marcaram o panorama existencial do futebol em Beja. A sua imagem corporal aponta inevitavelmente para uma vida que já vai longa. O Xico nasceu na velha Pax Júlia a 16 de agosto no longínquo ano de 1928, tendo feito na pretérita quarta-feira 89 risonhas primaveras. O tom de voz acusa irremediáveis ausências numa dicção que teima em não dar tréguas, ainda assim é sob uma coordenada conjetura de vida que se propôs desafiar eternas memórias de inigualáveis acontecimentos desportivos que lhe foram literalmente triviais. O seu espólio de imaculadas lembranças é vasto. Recordou os gloriosos tempos do Desportivo de Beja, clube do qual é o sócio n.º 4, falou de momentos áureos do emblema do seu coração e de excelentes equipas que protagonizaram épocas inolvidáveis. Mencionou nomes de magníficos craques que tiveram como berço a urbe paxjuliana e enalteceu jovens atletas que dantes suscitaram interesses de clubes de grande dimensão nacional. Articulámos, em conjunto, então nomes de miúdos oriundos do Desportivo e Despertar que transitaram para o Benfica, Sporting, Belenenses, Vitória de Guimarães e de Setúbal, entre outros, e concluímos que essa bênção conhecida é agora chão que já deu uvas. Viajámos por estreitas vielas e olhámos infalivelmente uma componente que analisada à lupa nos deixa atónitos e sobretudo desolados: a falta de infraestruturas próprias do histórico Desportivo. Mirámos a certeza e mergulhámos na atual veracidade do emblemático grémio. Avocámos que o heráldico símbolo do passado é agora quase um ilustre desconhecido. A pesada herança legada aos vindouros por senhores que casualmente geriram a agremiação é assustadora. O Desportivo é hoje um clube com uma mão cheia de nada. Na sede, sita na rua do Sembrano, contemplam-se, ainda, alguns dos troféus conquistados. Por outro lado, lobrigámos a temática infraestrutural seguida por outras coletividades da cidade, Despertar, Zona Azul e Centro de Cultura e Desporto do Bairro Nossa Senhora da Conceição, que construíram, atempadamente, um património que lhes permite respirar de alívio. Do passado fascinante do Desportivo resta a elementar nostalgia e pouco mais sobra. Enalteça-se, porém, o trabalho desenvolvido pelos atuais responsáveis que a muito custo lá vão fabricando omeletes sem ovos. Xico, voltaremos um dia à conversa porque somos, felizmente, daqueles decanos que conhecemos o palanque desportivo bejense de antigamente.

Fonte: http://da.ambaal.pt

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