sexta-feira, 29 de setembro de 2017
60 anos em Beja Judo
“O mestre Kobayashi teve sempre a cidade de Beja no coração. Ficou conhecido com o ‘pai do judo’ em Portugal. Um desportista excecional. Tinha o mundo rendido aos seus pés, era um grande ser humano, um diplomata, uma pessoa extraordinária”, recorda Mário de Almeida, num tempo em que o Judo Clube de Beja comemora 60 anos de atividade.
Texto e foto Firmino Paixão
O empresário bejense, com 85 anos de vida, muitos deles dedicados à modalidade, lembra também que “Kiyoshi Kobayashi foi condecorado pelo governo japonês pelo intercâmbio comercial que promoveu entre o Japão e Portugal. São facetas que não devemos esquecer, além de ter aplicado também os seus conhecimentos nas terapias alternativas. Salvou muita gente. Foi um mestre excecional, quer no ensino e na partilha dos seus conhecimentos de judo, como no seu percurso de vida”.
Mário de Almeida manteve sempre uma relação muito próxima com Kobayashi, falecido em 2013, no Japão, com 88 anos, após meio século de vida em Portugal. Hoje em dia é a filha que mantém a ligação a Beja: “A Sachico conhece aquilo que foi o percurso do seu pai nesta cidade e a importância que ele teve para o judo bejense e nacional. Ela gosta muito do Judo Clube de Beja”, refere o antigo judoca.
Há muito que Mário deixou de vestir o kimono com que praticava e ensinava os mais novos: “Já não sinto força para isso, tudo passa, é a vida, temos que a compreender tal qual ela se nos apresenta”. Mas Mário de Almeida assegura que “o judo forma pessoas com uma mentalidade muito mais sã. É um desporto bastante físico, mas não é nada agressivo. O judo é quase uma atividade educativa mental. Para além do aspeto desportivo, tem uma componente educacional, uma componente psicológica, tem disciplina. O tapete é algo onde o respeito e a disciplina são fundamentais, sobretudo entre as diversas graduações dos praticantes”.
Mário de Almeida está entre os poucos fundadores do clube ainda vivos. “Sou o sócio número um, algo de que me orgulho imenso. Costumo até dizer, e isto é verdade, que fui o primeiro pobre a entrar no judo, porque a modalidade era muito cara nessa altura. Era uma atividade muito restrita. Trazer o mestre Kobayashi a Beja custava muito dinheiro, então, era o senhor Cruz Martins e outros lavradores da época que sustentavam isso”.
Entre os vários momentos da sua dedicação à modalidade, inscreve-se um período em que presidiu ao Judo Clube de Beja, mas reconhece que “o caminho tem que ser feito pelos novos, a renovação é uma coisa muito importante em todas as áreas e reconheço que foi depois de eu ter deixado a presidência do clube que existiu um grande desenvolvimento, porque a gente também estaciona, temos essa tendência com o passar dos anos. Por isso é sempre importante dar lugar aos mais novos para que apareçam novas ideias e outras dinâmicas”.
Instalada hoje na rua Conselheiros Meneses, a sede inicial do clube, recorda, “era numa das dependências da casa do senhor Cruz Martins, na avenida Miguel Fernandes. Mas passámos também pela travessa do Cepo e houve uma altura em que estivemos, por empréstimo, no antigo quartel, hoje Pousada de São Francisco, porque celebrámos uma convenção com o Exército para utilização desse espaço, com a contrapartida de ensinarmos judo aos oficiais”.
Há rostos que marcam a história do clube, sobretudo aqueles que lhe arquitetaram os alicerces, e Mário de Almeida recorda alguns: “Cruz Martins foi o grande impulsionador, isso é algo que não podemos esquecer porque foi ele que trouxe o mestre Kobayashi até Beja, curiosamente, fixou-se em Portugal através do Judo Clube de Beja, mas também Manuel Fonseca, o professor Prista Caetano, Machado de Ascensão. Tudo isto no início, porque depois existiram outras figuras também muito importantes na afirmação do clube”.
E mantê-lo ao longo de 60 anos é quase como criar um filho: “Pode crer que sim. Tivemos uma altura em que o judo podia ter acabado em Beja. Existiu essa ameaça e eu tive a felicidade de impedir que isso acontecesse”. Uma boa razão para que nos dias de hoje acompanhe a atividade do clube: “Estou presente nos seus momentos mais significativos. Tenho vivido com entusiamo os momentos em que conseguimos os melhores resultados, nomeadamente os títulos nacionais conseguidos pelo Francisco Gaitinha, os títulos nacionais e internacionais conquistados pelo doutor Vítor Costa, que já ganhou, inclusive, vários títulos europeus nos campeonatos de judo entre a classe médica, e que foi uma pessoa determinante no crescimento da modalidade e valorização do clube”.
Seis décadas assinaladas no dia de amanhã com a realização, em Beja, da Taça Internacional Kiyoshi Kobayashi, “um tributo muito justo ao grande mestre, mas também muito natural. Será um dia especial para o Judo Clube de Beja”, conclui Mário de Almeida.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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