sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Canoa: o vício e a paixão de Inês Esteves


“Aos catorze anos fui pela primeira vez convocada para uma seleção nacional, num momento que coincidiu também com a conquista da minha primeira medalha internacional. Acho até que foi por esse motivo que a canoagem se tornou um compromisso mais sério para mim, um vício e uma paixão”, recordou a canoísta Inês Esteves, atleta do Clube Náutico do Litoral Alentejano (CNLA), de Vila Nova de Milfontes, terra que há vinte e sete anos a viu nascer. Licenciada em Ciências do Desporto, é mestranda em Treino de Alto Rendimento.

Texto e Foto Firmino Paixão

“Comecei a praticar aos nove anos, foi tudo muito rápido, muito inesperado. Naquela altura, sinceramente, não sabia que, não sendo uma atleta extraordinária, tinha este nível de capacidade, com potencialidade para a seleção nacional. Não estava nada à espera, foi engraçado e, a partir daí, claro que o bichinho ficou e todos os anos queria ser ainda melhor”.
Já são muitos, cerca de três ou quatro dezenas, os títulos nacionais que a atleta tem no seu palmarés. Teve um percurso formativo muito rápido, os bons registos trouxeram-lhe títulos e convocatórias para as equipas nacionais, mas, sendo jovem, soube sempre conviver com a pressão do mediatismo: “No início, também pela tenra idade, não pensamos em determinadas coisas, queremos viver o momento, ir para dentro de água, treinar muito e, se calhar, não acusamos tanto a pressão”, assegurou, acrescentando que “talvez a partir dos 17 ou 18 anos, quando já estamos na Faculdade e temos que demonstrar um nível ainda superior e conciliar os estudos com o desporto e outros problemas que nos aparecem ao longo da vida, aí sim, a pressão começa a surgir”.
A sua primeira presença internacional aconteceu em 2005, no Festival Olímpico da Juventude, com duas medalhas de bronze. No ano seguinte, conquistou cinco medalhas de ouro em regatas internacionais em Decize (França) e foi 4.ª classificada no europeu de juniores (K2 500m). “Esse foi outro momento importante, até por ser jovem. Acho que os jovens são cada vez mais movidos pelas medalhas, é isso que nos dá a vida e estímulos para continuar” disse Inês Esteves, canoísta formada no Clube Náutico de Milfontes que, desde há três anos, representa o CNLA, fundado e presidido pelo irmão Diogo Esteves. Nesse período, com evidente protagonismo na modalidade, a Confederação de Desporto de Portugal distinguiu-a com a medalha de mérito desportivo, reconhecimento que a atleta atribui ao facto de ser a mais nova a participar no Festival Olímpico da Juventude: “Eu era a mais nova entre os oito ou nove atletas que foram representar a canoagem. Tinha 14 anos, os meus colegas eram todos um ano mais velhos. Talvez por isso, não creio que por ser a melhor mas por ser a mais nova, a Confederação distinguiu-me”. Os argumentos da homenagem não deixam dúvidas: “Pela persistência, pela atitude e espírito ganhador”, atributos com que ainda hoje se identifica. “Sim, até porque costumo dizer que não me considero uma atleta muito talentosa, mas considero-me uma atleta muito esforçada”, confessa. Inês Esteves não se cansa de sublinhar “o enorme orgulho com que vestimos a camisola do nosso país. Sinceramente, gostava de ter tido mais oportunidades, mas assim não aconteceu, mas sinto muito orgulho por tudo o que fiz pelo meu país”. Contudo, a partir de determinada altura, o selecionador nacional deixou de apostar em si, e Inês chegou a lamentar não ter mais espaço nas seleções: “São escolhas, na altura não compreendi e fiquei triste, mas respeitei. Cada um faz as suas escolhas, mas achei injusto, a vida é feita de oportunidades e, às vezes, perdemos uma e, provavelmente, nunca mais conseguiremos o que desejamos”. Magoada com o que considerou ser uma injustiça, em 2015, Inês Esteves rumou a Istambul, pediu a nacionalidade turca e começou a competir por aquele país: “Queria competir internacionalmente e em provas onde nunca estive por Portugal. Foi somente isso e adorei. Cresci muito como atleta, cresci como treinadora que agora já sou, porque aprendi muitas coisas com gente que sabe muito e hoje não voltaria atrás. Fiz tudo o que tinha que fazer, mas sem esquecer o meu país, isso nunca”. Sem esperar vestir a camisola das quinas, Inês Esteves afirma “já não tenho motivação, nem disponibilidade, embora tenha voltado a competir este ano”. Neste momento o sonho que alimenta é tão só “pelos atletas que agora treino. Já vivi muito na canoagem, também já abdiquei de bastante e agora acho que me dá mais prazer vê-los a crescer e a voar do que propriamente eu. Tenho uma grande vontade de transmitir tudo o que aprendi nestes 18 anos de canoagem, 10 de seleção e um ano fora do país. Espero que eles sejam muito melhores do que eu fui”.

Fonte:  http://da.ambaal.pt/

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