sábado, 28 de outubro de 2017
Uma questão de tradição
Firmino Paixão
A cidade de Beja recebeu neste outono um campeonato da europa de horseball. O evento trouxe até nós alguns dos melhores praticantes do mundo e proporcionou uma competição de grande qualidade, com o senão de a afluência de público ter sido algo reduzida, o que levou alguns setores da sociedade bejense a questionar a oportunidade do investimento realizado, argumentando com a falta de tradição que Beja tem nesta modalidade.
Somos, assim, criticamos quando nada se faz, criticamos quando algo se faz. Está-nos na massa do sangue. Questionemos os empresários locais da restauração e alojamento, e eles dirão se querem, ou não, que este, ou outros eventos, se repitam. Contabilizemos o retorno da promoção internacional da cidade, “a marca Beja”, da sua maneira peculiar de receber, mesmo atento o alheamento a que votamos estas organizações, com maior, ou menor, tradição. Mas, afinal, qual é tradição desportiva na cidade e no concelho? O futebol? Pois! O que de resto para aqui vier não é bem visto, porque não é tradicional? Estamos conversados …
Uma cidadã bejense questionou, há dias, a rececionista de uma unidade hoteleira de Évora sobre o que visitar na região. A resposta contemplou o património edificado eborense, a vila de Monsaraz e, pasme-se, “a Beja não vale a pena ir, porque não existe nada para ver”. Ai existe, existe! A senhora está redondamente enganada, como enganados estão os que aqui residem e negam a importância que certos acontecimentos têm no desenvolvimento económico, social, turístico, e por aí adiante. Retivemos a afirmação do empresário responsável pela montagem das infraestruturas de suporte ao Europeu de Horseball, e também das atividades equestres inseridas na Rural Beja, de que a cidade possui as melhores instalações no País para a realização deste tipo de eventos.
A RuralBeja, falemos dela, afirmou-se num curto espaço de tempo e sendo um evento diferente, mas complementar da Ovibeja, é um certame muito nosso, que temos que enaltecer, valorizar e preservar. A RuralBeja ancorou-se, e muito bem, à vertente equestre como atração principal. A criação do cavalo lusitano assume hoje particular relevo na região e é, também, uma ferramenta essencial ao desenvolvimento económico e promocional deste território. As competições de dressage (ensino) impressionaram quantos puderam assistir às suas múltiplas demonstrações. E temos tradição? Pois é, mas tivemos em Beja o campeão nacional e europeu da modalidade, de que Portugal é uma das maiores potências. Os vizinhos espanhóis andam a tentar aprender connosco.
A festa brava, setor abraçado com especial carinho e eficácia pelo Grupo de Forcados Amadores de Beja, é outro dos capítulos da RuralBeja que, na última edição, abriu também as suas portas à caça e pesca desportiva. Passaram por Beja jovens aspirantes a toureiros e forcados, formandos das melhores escolas nacionais e do país vizinho. Beja terá tradição taurina? Ai tem, tem! Recordemos cavaleiros como Varela Crujo, Brito Paes, Veríssimo ou Luís Cruz, sublinhemos as diversas ganadarias de toiros bravos da região, os toureiros Francisco Mendes, Manuel Durão, “Triana”, os forcados João Caixinha, José Lameira, Francisco Paixão e Luís Brissos e outros que se notabilizaram em muitas arenas, todos naturais de Beja, como bejense era o José Maria Urbano, imortalizado como “El Lagartixa”, ou a troupe cómica “Charros Alentejanos”, da família Ameixa, Faleiro e Gastão.
A festa brava tem um potencial de crescimento enorme e, mais dia, menos dia, Beja terá um museu onde o enorme espólio, disperso por vários locais, se concentre, para consolidar, entre nós, esta arte de tradição secular. O Grupo de Forcados Amadores de Beja, pela sua história no passado e pela dinâmica atual, tem aqui um papel de sublime importância, enquanto vértice da convergência de vontades e de valorização da “festa” na RuralBeja. Aplaudamos estes valorosos homens da casaca rameada, que merecem sair em ombros, pela dedicação à sua causa e pelo amor à sua cidade.
Fonte: http://da.ambaal.pt
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