José Saúde
Num exercício feito à dócil substância
desportiva, eis-nos perante uma expedita veracidade onde as tradições de
outrora atestam originalidades de lugares cujas gentes defendiam
acerrimamente os tradicionais costumes caseiros. Levados pelas mágicas
ondas que nos transportam para o persuasivo mapa de memórias,
desbravamos os escarpados silêncios e partimos para conteúdos que dantes
conhecemos. Debruço-me, neste contexto, sobre as tradições que fizeram
do prodígio desportivo um feito deslumbrante. Acreditava-se
implicitamente no alforge de atletas da terra. Hoje, reconhecesse que as
tradições de ontem já não são o que eram. E se é verdade que as novas
subsistências não se moldaram aos espólios legados, assiste-se, por
outro lado, a maquiavélicas presunções que rompem inequivocamente com
decisões persecutórias que esbarram num pressuposto vazio. Somos uma das
muitas criaturas que identificaram as virtualidades do passado.
Recentemente, numa conversa com um amigo de longa data sobre o cosmos
futebolístico da região de Beja, lá veio à baila a problemática linha
orientadora sobre a forma como se desvirtuam exatidões do antigamente.
Sejamos imparciais e coloquemos sobre o tampo da mesa de jogo um
fortuito joker que esbarra, por vezes, na complexidade das apreensões.
Recordo a distinta capacidade de dirigentes antigos que faziam finca pé
para manter ativa a sua afirmação no palco diretivo onde o objetivo
prioritário passava por dar continuidade às usadas tradições. Os
plantéis, preparados com severidade, mantinham-se fiéis a princípios que
honradamente gizavam objetivos prioritários. Apostava-se na
prata-da-casa. Na secretaria, administrada por homens idóneos,
traçavam-se as linhas mestras para a construção de grupos que visavam,
com decência, a chamada à equipa principal de jovens valores conhecidos
em território local, ou naqueles que no seu percurso de formação se
afirmavam como promissores valores. Na tesouraria ponderava-se o deve e o
haver. Não se entrava em insólitas euforias. A honra tinha um preço e
chamava-se dedicação. Ninguém cobrava um avo. O lanche era uma granada
com carne de porco preto engordado numa pocilga da povoação, ou uma
feijoada regada com o famoso líquido dos deuses fermentado em talhas de
barro. Os orçamentos enquadravam-se com os proveitos calculados. Nada
falhava. Os jogadores, peças fundamentais para que toda a componente
desportiva funcionasse, eram compensados com pequenos dádivas e tudo
caminhava sobre rodas. Presentemente, perdeu-se a mística e os clubes,
alguns, são recheados com contingentes de "armadas forasteiras". Houve
um tempo em que o dinheiro era esbanjado desalmadamente. Presentemente o
risco tem um custo. Poucos arriscam. Concluo invocando: se o sonho
comanda a vida deixem-me então sonhar, presumindo, ainda que futilmente,
um regresso às velhas tradições.
Fonte: Facebook de Jose saude.
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