José Saúde
Recapitulando fortuitas pesquisas reunidas no
refinado baú de recordações, sendo certo que estas marcaram o quotidiano
bejense, trago à estampa uma coluna no Diário do Alentejo ("DA") que
encantava o leitor, tendo em conta o conteúdo das bisbilhotices
registadas: “Zunzuns das Portas Mértola”. O autor dessas linhas,
escritas com sagacidade e rigor de observação, era o saudoso jornalista
do "DA" José Moedas, um homem que trabalhava com elevado malabarismo a
dialética dos assuntos historiados. Expunha o povo que a sua redação,
fora do jornal, era a Ginjinha, de fronte à “meia laranja”, em pleno
coração da cidade de Beja. Parafraseava-se, em surdina, que o senhor
Secundino, proprietário do espaço, seria uma das suas fiéis fontes de
informação. Uma dica aqui e uma outra acolá auscultadas pelo meio dos
falatórios, serviam a preceito as suas intenções para debitar no papel
uma esplêndida notícia. Sentado a uma das mesas do exíguo lugar, o Zé,
sempre de ouvido à escuta à cavaqueira de gentes que chegavam e que
partiam, lançava um gracejo ao senhor Secundino, e este, com a resposta à
ponta da língua, gizava desde logo as traves mestras para uma
comunicação que por vezes se consumiria no tempo. O desporto
apresentava-se como um assunto que não passava ao lado dos “Zunzuns das
Portas de Mértola”. Nesses tempos não havia jornais desportivos diários,
nem tão-pouco rádios locais que usufruíssem da rápida comunicação das
notícias. Naquela tertúlia o nosso primoroso escriba desafiou o reino
dos mortais e lançou para a maralha indubitáveis novidades desportivas.
Umas que se afirmariam como reais, outras que ficavam pela imaginação do
divino criador. Real foi o facto que o Zé, na década de 1960, foi, nos
bastidores e à socapa, um efémero técnico do Desportivo de Beja quando a
equipa militou na segunda divisão nacional, uma boa nova que não chegou
a fazer parte das utópicas simpatias dos seus “Zunzuns”. Fica a eterna
lembrança e a sentida homenagem a um ícone do jornalismo de nome José
Moedas, uma criatura que jamais vendeu a alma ao diabo e que soube
construir a sua profissão de forma séria e literalmente consagrada.
Memórias dos “Zunzuns das Portas de Mértola” que muito encantaram um rol
de companheiros que, tal como eu, se deixavam seduzir pela fértil
imaginação do divino varão do jornalismo regional, sendo ele também um
excelente fidalgo na arte em planear as produtivas comunicações. Outros
tempos, outras temáticas onde a perspicácia de quem informava tinha como
revés o ocultado “lápis azul”, ou seja, o da censura!
Fonte: Fcebook de Jose saude
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