sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Bola de trapos, edição de 2 de fevereiro de 2018 no Diário do Alentejo

Torpes
José Saúde
Os seus princípios no mundo da bola não foram nada promissores. Integrado numa catrefa de moços que se apresentaram no Despertar com o intuito em prestar provas, sendo o objetivo prioritário envergar a camisola do emblema chefiado pelo lendário Francisco de Assunção, eis que o treinador de então mandou o rapaz embora do treino, dizendo-lhe, em tom catedrático, que não voltasse mais porque “não tinha jeito nenhum para o futebol”. Confrontado com tamanho disparate, Torpes, fez orelhas moucas ao atestado de incompetência que lhe fora passado, continuou a comparecer assiduamente às sessões de trabalho e provou, mais tarde, que essa certidão de “óbito” não detinha cabimento algum. Fica explícito nesta descrição de episódios que Francisco de Assunção foi um homem que sempre apostou no jovem jogador que se estreou num jogo que opôs o Despertar e o Aljustrelense a contar para o campeonato distrital de juniores. Como sénior, e num desafio contra o Lusitano de Vila Real de Santo António, Torpes de avançado passou para lateral direito, seguindo-se a sua definitiva deslocação para o eixo da defesa. Acrescesse que nesse tempo não havia prémios de jogo, sendo a recompensa para os jogadores lanches na velhinha Maju. Carlos Torpes Júnior nasceu a 16 de maio de 1938, precisamente na cidade de Beja. Filho de um velho sapateiro cuja labuta diária à volta das solas obrigava a uma angariação de uns magros tostões que visava a aquisição de alimentos que sustentavam um agregado familiar constituído por seis filhos, a sua infância não foi um mar de rosas. Muito novato, aquele moçoilo, alto e esguio, que chegaria um dia a craque da bola, teve como primeiro emprego o café Luiz da Rocha e, depois, o saudoso Bejense. Mas o futebol era uma matéria que lhe corria nas veias. Lá para as bandas das Alcaçarias, bairro bejense onde residia, Torpes, principiou-se em jogos de rua. “Comecei a jogar à bola com a malta das Alcaçarias num terreno que havia junto à ponte do caminho-de-ferro, próximo da estrada que vai para Serpa”. Aos 17 anos, sublinhe-se, ingressou no Despertar. A sua projeção foi meteórica. Um dia, apesar de reconhecer que era um jogador onde a técnica não abundava, deixou a sua terra natal e rumou a Setúbal, onde o Vitória o recebeu com pompa e circunstância, sabendo-se, também, que o Belenenses o tinha como alvo. A sua carreira ao serviço do Vitória foi deveras fulgurante. Neste reavivar de memórias, o antigo central não esconde que foi para Setúbal por 10 contos de reis mensais. Após oito temporadas ao serviço do grémio sadino, com duas taças de Portugal conquistadas, uma frente ao Benfica (3-1), outra diante da Académica (1-0), o antigo jogador fez um périplo pelo futebol português, regressando um dia a Beja como treinador do Desportivo. Torpes vive em Faro, cidade que o acolheu.
Fonte: Facebook de Jose saude

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