José Saúde
Os
seus princípios no mundo da bola não foram nada promissores. Integrado
numa catrefa de moços que se apresentaram no Despertar com o intuito em
prestar provas, sendo o objetivo prioritário envergar a camisola do
emblema chefiado pelo lendário Francisco de Assunção, eis que o
treinador de então mandou o rapaz embora do treino, dizendo-lhe, em tom
catedrático, que não voltasse mais porque “não tinha jeito nenhum para o
futebol”. Confrontado com tamanho disparate, Torpes, fez orelhas moucas
ao atestado de incompetência que lhe fora passado, continuou a
comparecer assiduamente às sessões de trabalho e provou, mais tarde, que
essa certidão de “óbito” não detinha cabimento algum. Fica explícito
nesta descrição de episódios que Francisco de Assunção foi um homem que
sempre apostou no jovem jogador que se estreou num jogo que opôs o
Despertar e o Aljustrelense a contar para o campeonato distrital de
juniores. Como sénior, e num desafio contra o Lusitano de Vila Real de
Santo António, Torpes de avançado passou para lateral direito,
seguindo-se a sua definitiva deslocação para o eixo da defesa.
Acrescesse que nesse tempo não havia prémios de jogo, sendo a recompensa
para os jogadores lanches na velhinha Maju. Carlos Torpes Júnior nasceu
a 16 de maio de 1938, precisamente na cidade de Beja. Filho de um velho
sapateiro cuja labuta diária à volta das solas obrigava a uma
angariação de uns magros tostões que visava a aquisição de alimentos que
sustentavam um agregado familiar constituído por seis filhos, a sua
infância não foi um mar de rosas. Muito novato, aquele moçoilo, alto e
esguio, que chegaria um dia a craque da bola, teve como primeiro emprego
o café Luiz da Rocha e, depois, o saudoso Bejense. Mas o futebol era
uma matéria que lhe corria nas veias. Lá para as bandas das Alcaçarias,
bairro bejense onde residia, Torpes, principiou-se em jogos de rua.
“Comecei a jogar à bola com a malta das Alcaçarias num terreno que havia
junto à ponte do caminho-de-ferro, próximo da estrada que vai para
Serpa”. Aos 17 anos, sublinhe-se, ingressou no Despertar. A sua projeção
foi meteórica. Um dia, apesar de reconhecer que era um jogador onde a
técnica não abundava, deixou a sua terra natal e rumou a Setúbal, onde o
Vitória o recebeu com pompa e circunstância, sabendo-se, também, que o
Belenenses o tinha como alvo. A sua carreira ao serviço do Vitória foi
deveras fulgurante. Neste reavivar de memórias, o antigo central não
esconde que foi para Setúbal por 10 contos de reis mensais. Após oito
temporadas ao serviço do grémio sadino, com duas taças de Portugal
conquistadas, uma frente ao Benfica (3-1), outra diante da Académica
(1-0), o antigo jogador fez um périplo pelo futebol português,
regressando um dia a Beja como treinador do Desportivo. Torpes vive em
Faro, cidade que o acolheu.
Fonte: Facebook de Jose saude
Fonte: Facebook de Jose saude
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