José Saúde
Manel Braz
Tinha 21 anos quando deixou o
Desportivo de Beja e ingressou no Sport Lisboa e Benfica. Falamos de
Manuel da Conceição Santos Braz, um homem que nasceu no dia 28 de
dezembro de 1930 na freguesia da Trindade, concelho de Beja. Muito novo
rumou à capital do distrito, onde deu os primeiros pontapés na bola. As
eiras, em particular a do Almodôvar, lá para as bandas da antiga mata,
local onde se localiza o Hospital José Joaquim Fernandes, era o palco
onde a moçada das redondezas se entretinha para disputar mais uma
jogatana. Numa viagem aos tempos de infância, Braz reaviva a memória e
faz eco a uma eterna recordação: “Comecei por ir ver o Luso por causa do
Mário Montez, um jogador que muito admirava. O Mário Montez foi um dos
melhores defesas centrais que vi jogar”. Em 1949 iniciou-se no
Desportivo e lembra uma história que envolveu salário: “O Desportivo era
formado na base jogadores vindos do Luso e do União e um dia descobri
que eles ganhavam 300 escudos por mês. Nesse mesmo dia dirigi-me à sede e
expus ao presidente, Joaquim Branco, o problema, dizendo que eu era um
dos titulares da equipa e dinheiro nem vê-lo”. Uma reclamação com
resposta imediata. “O senhor Branco abriu uma gaveta da secretária e
mostrou o meu cartão onde se lia: jogador de reservas”. Não obstante a
marosca, continuou a assumir a titularidade. O primeiro fato de treino
que envergou foi feito de uma fazenda comprada nos Armazéns Zé Graça.
“Foi a Bia Toda, uma costureira que morava na rua do hospital velho, que
o fez”. No ano de 1951 ei-lo em Lisboa a cumprir serviço militar. “No
mesmo quartel estava o Manero, um jogador que tinha sido transferido do
Lusitano de Vila Real de Santo António para o Benfica e construímos aí
uma grande amizade. Os treinos no Benfica eram às terças, quartas e
sextas-feiras às sete e meia da manhã no Campo Grande e lá ia com o
Manero, mas eu para ver. Um dia pedi para treinar. O treinador era o Ted
Smit e o presidente Francisco Retorta. Fiz um treino formidável mesmo
calçando sapatilhas, visto ter abdicada das botas de pitons. Fui logo
convidado para ir à sede do Benfica. Nessa noite assinei por 500 escudos
mensais como jogador de reservas. Mas, como ganhávamos sempre havia
meses em que recebíamos 12 contos de réis”. Vejamos a montra de craques
que na época de 1951/1952 proliferavam no plantel benfiquista: Jacinto,
Bastos, António Manuel, Carlos Alberto, Lara, Bráulio, Prudêncio,
Batalha, Reis, Calado, Caraça, Francisco Ferreira, Artur Santos,
Moreira, Oliveira, Cesário, Zé da Costa, Rosário, Manel Braz, Julinho,
Arlindo, Corona, Arsénio, Rogério, Águas e Zé Moniz. No final da
temporada o Benfica propôs ao Desportivo a sua aquisição. “O Benfica
quis comprar a minha carta apresentando uma verba que poderia ir até aos
mil contos, só que o Desportivo não aceitou. Diziam os diretores que o
Benfica tinha condições para pagar 1500. Nada feito. Tramaram-me”.
Regressou a Beja e reproduzimos, com ênfase, um onze da época 1953/1954.
Batalha, Zé Passinhas, Honório Paixão, Zé Sardinha, Soares, Camiruaga,
Martins, Marcelino, Calceteiro, Júlio Cassieles e Braz. Aos 28 anos
pendurou as botas. Visitei, recentemente, o Manel Braz em sua casa, pois
foi mais uma das muitas vítimas de AVC. Está estável, com uma genica de
fazer inveja e faz recuperação. Força, amigo!
Fonte: Facebook de Jose saude
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