sexta-feira, 30 de março de 2018

Bola de trapos, Diário do Alentejo, edição de 30 abril de 2018

José Saúde
Manel Braz
Tinha 21 anos quando deixou o Desportivo de Beja e ingressou no Sport Lisboa e Benfica. Falamos de Manuel da Conceição Santos Braz, um homem que nasceu no dia 28 de dezembro de 1930 na freguesia da Trindade, concelho de Beja. Muito novo rumou à capital do distrito, onde deu os primeiros pontapés na bola. As eiras, em particular a do Almodôvar, lá para as bandas da antiga mata, local onde se localiza o Hospital José Joaquim Fernandes, era o palco onde a moçada das redondezas se entretinha para disputar mais uma jogatana. Numa viagem aos tempos de infância, Braz reaviva a memória e faz eco a uma eterna recordação: “Comecei por ir ver o Luso por causa do Mário Montez, um jogador que muito admirava. O Mário Montez foi um dos melhores defesas centrais que vi jogar”. Em 1949 iniciou-se no Desportivo e lembra uma história que envolveu salário: “O Desportivo era formado na base jogadores vindos do Luso e do União e um dia descobri que eles ganhavam 300 escudos por mês. Nesse mesmo dia dirigi-me à sede e expus ao presidente, Joaquim Branco, o problema, dizendo que eu era um dos titulares da equipa e dinheiro nem vê-lo”. Uma reclamação com resposta imediata. “O senhor Branco abriu uma gaveta da secretária e mostrou o meu cartão onde se lia: jogador de reservas”. Não obstante a marosca, continuou a assumir a titularidade. O primeiro fato de treino que envergou foi feito de uma fazenda comprada nos Armazéns Zé Graça. “Foi a Bia Toda, uma costureira que morava na rua do hospital velho, que o fez”. No ano de 1951 ei-lo em Lisboa a cumprir serviço militar. “No mesmo quartel estava o Manero, um jogador que tinha sido transferido do Lusitano de Vila Real de Santo António para o Benfica e construímos aí uma grande amizade. Os treinos no Benfica eram às terças, quartas e sextas-feiras às sete e meia da manhã no Campo Grande e lá ia com o Manero, mas eu para ver. Um dia pedi para treinar. O treinador era o Ted Smit e o presidente Francisco Retorta. Fiz um treino formidável mesmo calçando sapatilhas, visto ter abdicada das botas de pitons. Fui logo convidado para ir à sede do Benfica. Nessa noite assinei por 500 escudos mensais como jogador de reservas. Mas, como ganhávamos sempre havia meses em que recebíamos 12 contos de réis”. Vejamos a montra de craques que na época de 1951/1952 proliferavam no plantel benfiquista: Jacinto, Bastos, António Manuel, Carlos Alberto, Lara, Bráulio, Prudêncio, Batalha, Reis, Calado, Caraça, Francisco Ferreira, Artur Santos, Moreira, Oliveira, Cesário, Zé da Costa, Rosário, Manel Braz, Julinho, Arlindo, Corona, Arsénio, Rogério, Águas e Zé Moniz. No final da temporada o Benfica propôs ao Desportivo a sua aquisição. “O Benfica quis comprar a minha carta apresentando uma verba que poderia ir até aos mil contos, só que o Desportivo não aceitou. Diziam os diretores que o Benfica tinha condições para pagar 1500. Nada feito. Tramaram-me”. Regressou a Beja e reproduzimos, com ênfase, um onze da época 1953/1954. Batalha, Zé Passinhas, Honório Paixão, Zé Sardinha, Soares, Camiruaga, Martins, Marcelino, Calceteiro, Júlio Cassieles e Braz. Aos 28 anos pendurou as botas. Visitei, recentemente, o Manel Braz em sua casa, pois foi mais uma das muitas vítimas de AVC. Está estável, com uma genica de fazer inveja e faz recuperação. Força, amigo!
Fonte: Facebook de Jose saude 

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