José Saúde
Até logo, Vladimiro!
A irreversibilidade da
vida é literalmente um dado básico na existência do ser humano. A
passagem pelo cosmos terrestre é breve. Nasce-se e morre-se. Morreu o
Vladimiro Calceteiro Serafim nascido a 28 de novembro de 1936, em Beja, e
o seu último suspiro ocorreu no pretérito 20 de abril no Hospital José
Joaquim Fernandes na urbe que o viu nascer. Vladimiro foi um jogador de
futebol cuja condição física, bem como a sua entrega em campo, a que
acresce o zeloso cumprimento do dever a um tributo que requeria idóneas
contrapartidas, formavam um triângulo de propósitos que levava o seu
ânimo ao êxtase. A técnica, para outros, era substância de rosários
diferentes. O seu objetivo era chegar ao final do prélio com a ideia que
a missão tinha sido expressamente cumprida. A questão do exercício
corporal circunstanciava-se ao universo do trabalho. Tudo se conjugava
de forma a enquadrar os horários dos treinos com o período laboral.
Assim sendo, a sessão física matinal ocorria, por norma, antes das oito
horas da manhã. Enquanto criança Vladimiro foi aluno de uma escola vadia
onde a moçada jogava à bola horas infindáveis. Nesses tempos pertenceu
ao grupo de rapazes do jardim público, sendo a malta da ponte, do
Salvador, ou do bairro Operário os adversários que regularmente se
defrontavam. Jogar de pé descalço e com uma bola de trapos era para ele
um explícito regozijo. Fez parte de um agregado de malta onde se
acolhiam o João Mimoso, o Ramalho, o Bacala, o Farinho, o Veríssimo, o
Cara Nova, o Zé Rocha e o Chico Guiomar. Chegou o dia em que prestou
provas no Desportivo. Ficou, pois claro. Mas quando chegou o momento da
sua subida a sénior foi dispensado para o Despertar. Após uma passagem
efémera, duas épocas, a defender as cores despertarianas ei-lo de
regresso ao clube de origem pela mão de Camiruaga e onde se impôs numa
equipa de craques que disputava o campeonato nacional da segunda
divisão. No Desportivo jogou ao lado de nomes sonantes do futebol
bejense. Zezé, Alves, Honório Paixão, Tita Sanina, Apolinário, Perdigão,
Marcelino, Madaleno e Meira, foram alguns dos seus companheiros de
balneário. Imbuído na sua fértil memória o nosso saudoso e brincalhão
amigo recordava um “contrato” monetário feito no Desportivo: “500 paus
por mês, mas havia quem ganhasse mais”. Aos 28 anos o indelével atleta
bejense pendurou as botas. Trabalhava na Auto Carmo e passaram-no a
chefe de oficina, sendo que logo decidiu colocar um ponto final na sua
carreira. Resta vincar, com altivez, uma insuperável certeza: como
“filho de peixe sabe nadar”, Vladimiro era pai de Quim, um jogador que
brilhou no Vitória de Setúbal e que teve como berço, tal como o seu
progenitor, o Desportivo de Beja. Até logo, Vladimiro!
Fonte: Facebook de Jose saude.
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