sexta-feira, 27 de abril de 2018

Bola de trapos, edição Diário do Alentejo de 27 de abril de 2018

José Saúde
Até logo, Vladimiro!
A irreversibilidade da vida é literalmente um dado básico na existência do ser humano. A passagem pelo cosmos terrestre é breve. Nasce-se e morre-se. Morreu o Vladimiro Calceteiro Serafim nascido a 28 de novembro de 1936, em Beja, e o seu último suspiro ocorreu no pretérito 20 de abril no Hospital José Joaquim Fernandes na urbe que o viu nascer. Vladimiro foi um jogador de futebol cuja condição física, bem como a sua entrega em campo, a que acresce o zeloso cumprimento do dever a um tributo que requeria idóneas contrapartidas, formavam um triângulo de propósitos que levava o seu ânimo ao êxtase. A técnica, para outros, era substância de rosários diferentes. O seu objetivo era chegar ao final do prélio com a ideia que a missão tinha sido expressamente cumprida. A questão do exercício corporal circunstanciava-se ao universo do trabalho. Tudo se conjugava de forma a enquadrar os horários dos treinos com o período laboral. Assim sendo, a sessão física matinal ocorria, por norma, antes das oito horas da manhã. Enquanto criança Vladimiro foi aluno de uma escola vadia onde a moçada jogava à bola horas infindáveis. Nesses tempos pertenceu ao grupo de rapazes do jardim público, sendo a malta da ponte, do Salvador, ou do bairro Operário os adversários que regularmente se defrontavam. Jogar de pé descalço e com uma bola de trapos era para ele um explícito regozijo. Fez parte de um agregado de malta onde se acolhiam o João Mimoso, o Ramalho, o Bacala, o Farinho, o Veríssimo, o Cara Nova, o Zé Rocha e o Chico Guiomar. Chegou o dia em que prestou provas no Desportivo. Ficou, pois claro. Mas quando chegou o momento da sua subida a sénior foi dispensado para o Despertar. Após uma passagem efémera, duas épocas, a defender as cores despertarianas ei-lo de regresso ao clube de origem pela mão de Camiruaga e onde se impôs numa equipa de craques que disputava o campeonato nacional da segunda divisão. No Desportivo jogou ao lado de nomes sonantes do futebol bejense. Zezé, Alves, Honório Paixão, Tita Sanina, Apolinário, Perdigão, Marcelino, Madaleno e Meira, foram alguns dos seus companheiros de balneário. Imbuído na sua fértil memória o nosso saudoso e brincalhão amigo recordava um “contrato” monetário feito no Desportivo: “500 paus por mês, mas havia quem ganhasse mais”. Aos 28 anos o indelével atleta bejense pendurou as botas. Trabalhava na Auto Carmo e passaram-no a chefe de oficina, sendo que logo decidiu colocar um ponto final na sua carreira. Resta vincar, com altivez, uma insuperável certeza: como “filho de peixe sabe nadar”, Vladimiro era pai de Quim, um jogador que brilhou no Vitória de Setúbal e que teve como berço, tal como o seu progenitor, o Desportivo de Beja. Até logo, Vladimiro!
Fonte: Facebook de Jose saude.

Sem comentários:

Enviar um comentário