José Saúde
Até sempre, Xico Pratas!
Morreu o Xico
Pratas, um dos ícones do jornalismo desportivo alentejano, mormente no
“Diário do Alentejo” (“DA”) onde trabalhou ao longo de vários anos. Com
ele dissequei esplêndidas recordações que outrora marcaram o panorama
existencial do futebol em Beja. A sua imagem corporal apontava para uma
vida onde o fim se visualizava num horizonte já bastante delicado. O
Xico nasceu na velha Pax Júlia a 16 de agosto no longínquo ano de 1928.
Numa das minhas últimas visitas à sua residência o seu estado de saúde
deixava antever inquietações num corpo deliberadamente débil e onde se
ocultavam 89 primaveras. O tom de voz acusava irremediáveis ausências de
dicção. Teimava coordenar memórias de inigualáveis acontecimentos
desportivos que lhe foram dantes literalmente triviais. Recordava os
gloriosos tempos do Desportivo de Beja, clube do qual era o sócio n.º 4,
falou de momentos áureos do emblema do seu coração e de excelentes
equipas que protagonizaram épocas inolvidáveis. Mencionou nomes de
magníficos craques que tiveram como berço a urbe bejense e enalteceu
jovens que dantes suscitaram interesses de clubes de grande dimensão
nacional. Articulámos nomes de garotos oriundos do Desportivo e
Despertar, que transitaram para o Benfica, Sporting, Belenenses, Vitória
de Guimarães e de Setúbal, entre outros, e concluímos que essa bênção é
agora temática doutras eras. Viajámos por estreitas vielas e olhámos
infalivelmente uma componente que analisada à lupa nos deixava atónitos e
sobretudo desolados: a falta de infraestruturas próprias do histórico
Desportivo. Mirámos a certeza e mergulhámos na atual veracidade.
Avocámos que o heráldico símbolo do passado é agora quase um ilustre
desconhecido. A pesada herança legada aos vindouros por senhores que
casualmente geriram a agremiação é assustadora. O Desportivo é agora um
clube com uma mão cheia de nada. Na sede, sita na Rua do Sembrano, resta
a contemplação dalguns troféus conquistados. Por outro lado, lobrigámos
a verdade infraestrutural levada a cabo por outras coletividades da
cidade, Despertar, Zona Azul e Centro de Cultura e Desporto do Bairro
Nossa Senhora da Conceição, que construíram, atempadamente, um
património que lhes permite respirar de alívio. Do passado fascinante do
Desportivo resta a elementar melancolia e pouco mais sobra. Falámos do
trabalho desenvolvido pelos atuais responsáveis que a muito custo lá vão
fabricando omeletes sem ovos. O Xico foi sempre um homem do desporto e a
patinagem uma modalidade que muito o cativou. No “DA”, com a arte da
sua maleável pena, subscreveu crónicas ilustres. Mas, tudo na vida tem
um princípio e um fim. O Xico, não obstante o seu desejo em viver, foi
impotente para regatear mais uns anitos de vida. Morreu no pretérito 9
de abril. Fica a eterna amizade construída no percurso da nossa
existência e a justa homenagem a um homem que trabalhava, com altivez, o
malabarismo da narrativa . Até sempre, Xico Pratas!
Fonte: Facebook de Jose saude
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