sábado, 7 de abril de 2018

Entrevista no Diário do Alentejo de hoje 06/04/2018.

Firmino Paixao para Antonio Casaca
Diário do Alentejo
Joaquim Casaca da Costa: vida no seminário
ensinou-o a olhar para os outros

“Na minha vivência de cinco anos no seminário aprendi a olhar para os outros muito mais do que para mim próprio. Evidentemente que a religião teve, e continua a ter, muito peso na minha personalidade. Privilegiar os outros é um ato de cidadania que está na génese do associativismo”.
Com uma forte ligação ao meio associativo desportivo, tendo sido atleta, dirigente, juiz, técnico e formador, além de ter fundado o Pax Julia Atlético Clube e integrado o elenco fundador da Associação de Atletismo de Beja, Joaquim António Casaca da Costa nasceu em Alvito no último dia de janeiro de 1951. Frequentou, durante cinco anos, o seminário diocesano de Beja, onde construiu alicerces para enriquecer a sua formação e moldar a sua personalidade, antes de se licenciar em Turismo.
“Não sei dizer não. Estou sempre disponível para ajudar, levo muito a sério todas as situações de cidadania e de voluntariado. Esse é o outro lado da minha vida, estar ao serviço dos outros, consequência daquilo que aprendi no seminário”, revelou o autor da obra Visitas Guiadas com o Primo Daniel (Chiado 2018), que amanhã será apresentada em Lisboa (Chiado Café Literário, 17:30 horas) e, no próximo dia 14, na cidade de Beja (Centro Unesco, 16:00 horas). Trata-se de uma obra dividida em três volumes, o primeiro dos quais, explicou Joaquim Casaca, “incide sobre o castelo, a Casa do Governador e a Torre de Menagem, que é o símbolo desta cidade”. “Fazemos uma visita à torre, procurando explicar as diversas salas, porque cada uma delas tem uma simbologia própria, são diferentes e têm alguma razão de existir”, diz. No fundo será um roteiro pelo património edificado da cidade de Beja, porque, acrescentou o autor: “Há pessoas nesta cidade que nunca visitaram o castelo ou não viram o museu. A minha preocupação é levar estes monumentos ao encontro das pessoas. Quem não for residente, terá uma recordação desta cidade, outros poderão matar saudades. O grande objetivo é a sua divulgação indo ao encontro das pessoas, para lhes dar conhecimento de toda esta riqueza que temos em Beja”. Uma temática que tem tudo a ver com a sua licenciatura em Turismo, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão, em Beja, anuiu, explicando que todas as cadeiras que frequentou foram importantes por terem suscitado o seu interesse pelo centro histórico desta cidade, mas a cadeira de património histórico e cultural foi decisiva para que assumisse este compromisso de divulgar os seus monumentos.
E o “Primo Daniel” quem é, afinal, este personagem? “O ‘Primo Daniel’ foi baseado num pseudónimo que eu já usei antigamente, que era ‘Daniel Canário’. Agora fiquei como ‘Primo Daniel’, uma personagem simpática que dialoga com os outros, partilha conhecimentos e ouve as pessoas, satisfazendo as suas curiosidades”. Porém, as Visitas Guiadas com o Primo Daniel não são a estreia literária de Joaquim Casaca que, há cerca de 40 anos, publicou o livro de poemas Quando o Dia Morre e a Saudade Nasce! (Imprensa Social, 1979), esse, sim, “um livro que escrevi depois de sair do meu ambiente de seminário, e já numa fase revolucionária, com a inspiração bem situada à esquerda, tudo isso teve alguma influência”. Mas, afinal, o que acontece quando o dia morre e a saudade nasce? “Surgem sempre sentimentos especiais, recordações nostálgicas. Ficamos um pedacinho presos dentro de nós próprios e recordamos certas vivências, certas pessoas, certas amizades, certas famílias, são sentimentos e emoções múltiplas”.
O poeta e cronista nasceu na estação dos caminhos de ferro de Alvito, a sua infância foi passada entre as estações de Baleizão e Quintos, talvez que um olhar atento sobre o horizonte da linha férrea e a aparente indefinição do seu destino tenham sido inspiradores: “Sem dúvida. O meu pai era ferroviário, a minha mãe foi trabalhadora rural, sempre andámos em viagem e essas mudanças de poiso despertaram a minha curiosidade. Vamos conhecendo novas realidades e seguindo esse princípio do imaginário. Os carris levam-nos a todo o lado, não imaginamos o que estará no fim da linha, mas vamos descobrindo outras coisas”. O quê? “Olhe, por exemplo, se nós em Beja tivéssemos uma linha com qualidade que nos levasse a Lisboa, ou a outra parte do País, sem transbordos, nem viagens em carruagens menos próprias”, seria caso para dizermos que Beja tinha algo que merecia.
O “Primo Daniel”, afinal, tem outros projetos: “O regresso à poesia será um das minhas novas propostas, depois das visitas guiadas e dos passeios pela cidade, com a reedição desse meu livro, com ilustrações, com novos poemas e algum texto interpretativo, para que não surjam dúvidas, porque sabemos como é o imaginário de algumas pessoas”.

Texto e foto Firmino Paixão
Fonte: Facebook de Firmino Paixao

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