José Saúde
Gémeos Rações
Num desafio a uma austeridade
imposta pela razoabilidade da rotineira evolução desportiva, leva a
audácia do escriba a caminhar por veredas onde sobressaem antigos deuses
da bola que fascinaram um público que literalmente se rendeu à sua
arte. Cruzo territórios sul alentejanos, recordo clássicos futebolistas e
a minha imperecível sensibilidade conduz-me à novel cidade de Serpa.
Naquela comarca deram à luz génios que trataram a esfera saltitante com
agilidade. Cito os famosos gémeos Rações que brilharam ao serviço do FC
Serpa. O seu talento fez-se sentir no palanque futebolístico regional.
Manuel Guerreiro Rações e Francisco Guerreiro Rações nasceram na urbe
serpense no dia 24 de janeiro de 1943. Os primeiros passos
futebolísticos foram dados em jogos de rua entre grupos de moços que
disputavam amistosos desafios. Mais tarde o seu destino foi o clube da
terra onde foram protagonistas de uma carreira interessante.
Escalpelizando os princípios da década de 1960, século passado,
concluímos que os manos Rações iniciaram a sua atividade desportiva
oficial em 1961. Antes o FC Serpa, sob o comando diretivo de João Diogo
Cano, roçou o céu. Na época de 1956/1957 sagrou-se campeão nacional da
III divisão e os cânticos da euforia deixaram um rastilho positivo numa
juventude que sonhava representar o deslumbrante emblema. O Manuel evoca
a realidade sentida nesses tempos: “Depois daqueles anos do senhor João
Diogo, onde o clube conheceu grandes momentos, apareceram muitos
jogadores que pretendiam jogar no Serpa. Os treinos eram às sete da
manhã e os duches com água fria. Levávamos uma semana inteira a
limparmo-nos com a mesma toalha. Um dia, depois do treino matinal, o
falecido Zé Miguel não teve tempo de tomar banho porque tinha que entrar
na oficina, só que quando se preparava para sair do campo o treinador
Di Paola apercebeu-se e toca a mandá-lo para o banho. Ele obedeceu,
claro. Hoje, é impensável uma coisa destas. Mas nesse tempo era assim.
Havia respeito”. O futebol de antigamente é repleto de crónicas
encantadoras. Vejamos esta situação passada em 1968. “Fomos jogar pela
seleção de Beja ao Algarve. O jogo realizou-se em Faro e o nosso
treinador era o Manuel Trincalhetas. Nessa seleção estava o Manuel
Baião, um grande defesa central que nesse tempo jogava no Desportivo.
Chegámos no outro dia a Beja às oito horas da manhã e como éramos de
Serpa apanhámos a automotora até à ponte do Guadiana, mas o caminho da
ponte do Guadiana a Serpa foi feito a pé. Quem é que hoje fazia isto”.
As histórias caem em catadupa e o Manuel fecha com esta. “Na época de
1972/1973 já não estava inscrito na AF Beja, mas aconteceu que o
Ferreirense veio jogar a Serpa e eu joguei com o cartão do meu irmão.
Lembro-me do Juan falar comigo como do meu irmão se tratasse. Não me
desmanchei e respondia-lhe à letra”. Histórias admiráveis dos gémeos
Rações.
Fonte: Facebbok de Jose Saude.
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