sexta-feira, 27 de julho de 2018

Bola de trapos, edição de 27 de julho de 2018 no Diário do Alentejo

José Saúde
Zezinho
Generoso na sua entrega ao jogo, atleta que no interior das quatro linhas encarnava o dito popular “antes quebrar que torcer”, sendo a lealdade uma das suas portentosas armas, Zezinho rubricou páginas fulgentes no futebol e o seu “fair play” foi francamente inexcedível. José Martins Eugénio nasceu em Beja a 4 de dezembro de 1939 e pertenceu a uma geração onde o futebol se assumia como a modalidade rei. Nesses tempos integrou o grupo que a moçada apelidou como os rapazes do Chico Pereira, um homem que possuía uma taberna na rua Poça da Lã, sendo que seu pai, ao início dessa mesma artéria, tinha uma drogaria situada nas proximidades do Café Vitória, vulgo Café do Carocinho, local frequentado por homens que clandestinamente lutavam contra o regime ditatorial imposto. Zezinho lembra os seus princípios no mundo futebolístico. “A malta para jogar à bola formava grupos de acordo com as zonas onde morava. Eu pertencia ao grupo do Chico Pereira. O nosso campo era atrás do jardim público, pois nessa altura só havia casas até ao Café Lumiar”. Num outro desabafo ei-lo, sinteticamente, a comentar como era o antigo estádio de Beja: “Nesse tempo o estádio estava protegido por latas e quem lá jogava era o União, o Luso, o Pax Júlia e o Despertar”. Cruzando géneses da história, existe uma inquestionável realidade que nos remete para finais da década de 1940. “Comecei a jogar no Despertar porque o Desportivo não tinha camadas jovens. O presidente era o Francisco Assunção e disse-lhe que só jogaria com a carta na mão. Mas ele não fez caso da conversa. No dia em que me montei no autocarro para partirmos para Olhão, transmiti-lhe que só ia se me fosse passada a carta de desobrigação. Perante a minha exigência mandou o condutor esperar, saiu e quando regressou já vinha com a carta assinada por três diretores. Seguimos viagem e foi contra o Olhanense que fiz a minha estreia pelo Despertar, onde estive três épocas, duas como júnior e uma como sénior. Como sénior fui campeão e disputámos o campeonato da 2ª Divisão Nacional, Zona Sul, com o Silves, União de Montemor e o Portalegrense”. Após cumprir o serviço militar obrigatório, ficando no seu cadastro uma comissão em Angola, regressou a Beja e em 1964 deu-se a transferência para o Desportivo. “Foi o Luís do Rosário que me convidou e me levou à sede onde já lá estava o Palma Inácio, o Amílcar Seis Dedos e o treinador Valentim Alexandre. A minha estreia foi no campo do Farense. Ganhámos por 2-0”. Num recurso ao seu ego desportivo, Zezinho fala de alguns craques com os quais partilhou o balneário: “Osvaldinho, Fernandes, Pena, Palma, Suarez, irmãos Madeira, Mário Nunes, Quinito, Alves, de entre tantos outros”. Mais tarde regressou ao Desportivo como diretor. Curvado pelo peso dos seus 78 anos, cruzo-me esporadicamente com ele na urbe bejense e revejo a sua pujança física nos velhos tempos da bola.
Fonte: Facebook de Jose saude.

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