Ao lermos este artigo Abaixo os
Pais treinadores de bancada, de Isabel stilwell no Jornal de Negócios de
30 de Outubro, não resistimos a transcrevê-lo na integra , e
gostaríamos que pudesse servir de reflexão para aqueles que se vêm
nalgum destes papeis.
A federação de futebol de Hampshire
promoveu um fim de semana de pais em silêncio nos desafios dos filhos.
Sem “palpites”, nem “conselhos” gritados das bancadas. A importar.
Os pais que acompanham os filhos a
atividades desportivas são heróis. Os pais que pacientemente se dispõem a
levá-los aos treinos de madrugada, têm sempre lugar para mais um amigo
no carro, não fogem do cheiro a cloro das piscinas, nem à confusão dos
balneários, não se enervam com as exigências da dieta assim ou assado,
acolhem as derrotas e celebram as vitórias, mas com a consciência de que
o mundo não começa e acaba ali, merecem uma taça.
O pior são os outros.
Aqueles que em lugar de irem arrastados
pelos filhos, na melhor das hipóteses contagiados pelo seu entusiasmo,
fazem o oposto: empurram-nos, perseguem-nos dentro e fora de casa para
que tenham desempenhos de pódio, cumpram melhores tempos, batam na bola
com mais força, metam mais golos ou defendam mais eficazmente a baliza.
Infelizmente há destes pais em todas as
bancadas de todos os pavilhões e campos do universo e mais além. Ainda
me lembro da raiva que transparecia nos gritos com que “incentivavam”
as pobres crianças a nadar mais depressa, e elas nadavam, pudera!, com
tubarões como aqueles a morderem-lhes as canelas, e quando os infelizes
saíam da água, precipitavam-se para lhes arrancarem os óculos,
vociferando um “Onde é que estavas com a cabeça?”
Arrepiante. Mas nada comparado com o
desespero dos pais dos Cristianos Ronaldos em potência, que insultam o
árbitro, o treinador (que, por sua vez, também insulta o árbitro), por
vezes o próprio filho, e é claro apupando a equipa adversária. Não sei
se o fazem porque são futebolistas frustrados, porque sonham com o
futuro confortável que o descendente lhes poderá vir a assegurar, ou se
replicam ali o seu comportamento nos jogos de futebol a sério, mas é de
se ficar com os cabelos em pé.
Mas foi exatamente para pais como estes,
que o Hampshire FA promoveu em Outubro uma campanha a que deu o nome de
“Silent Weekend” (“Fim de semana em silêncio”), com o objetivo de
promover em redor do futebol juvenil um ambiente positivo e livre de
pressão, em que a experiência e a aprendizagem possa ser vivida sem
stress. Afinal, argumentava a organização, se os pais querem fazer dos
filhos bons futebolistas, é importante que os deixem aprender a tomar
decisões pela sua cabeça, em lugar de imaginarem que precisam de ter por
perto um adulto esganiçado e em pleno ataque de nervos a berrar-lhe
instruções de quando deve chutar ou passar a bola. E já agora, dava
jeito, que lhe ensinassem o valor da palavra respeito, para ver se
crescem um bocadinho menos hooligans do que as gerações anteriores.
As regras destes dois dias eram claras.
Os pais podiam manifestar o seu entusiasmo ou desilusão, mas era-lhes
exigido que não se dirigissem diretamente aos jogadores, refreando-se de
“aconselhar” os treinadores e os árbitros ou de questionar as suas
decisões. Convinha também que mostrassem o mínimo de desportivismo,
aplaudindo ambas as equipas. Idem aspas para os treinadores dos clubes.
E, durante dois dias, parece que todos obedeceram, agora é só preciso,
a) estendê-la aos outros 362 dias do ano e b) importá-la para Portugal.
Jornalista
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Fonte: https://gazetadodesporto.wordpress.com
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