José Saúde
Benvinda e o Desportivo
Benvinda foi uma inigualável personagem que o povo de Beja literalmente ovacionou! Senhora modesta e detentora de uma enorme altivez, a sua imagem manter-se-á viva em memórias de pessoas que bem conheceram a saudosa personalidade. Os piropos marotos faziam parte do seu ADN. Todos tratava com um gigantesco respeito e também não conheci criatura nenhuma que ousasse tirar dividendos da sua sincera simplicidade. Imperava o respeito mútuo. As anedotas proferidas em público eram normalmente vistoriadas de estéreis maldades, sabendo-se, no entanto, que o conteúdo do palavreado era dito com uma refinada graça e enquadrada com a harmonizada piada. A laracha caía que nem luva branca no mais modesto indivíduo que, à época, se confrontava com a estigmatização social inserida na austera autoridade imposta pelo Estado Novo. A mítica Benvinda foi uma pessoa ímpar que a velha Pax Júlia eternamente recordará. Alcançou, também, um lugar supremo como adepta do Desportivo de Beja. Mulher de armas e de um coração imenso, usufruiu do condão em recrear-se a comer o pão que o diabo amassou e onde uma infinidade de dificuldades impunha regras em lares cheios de nada. Os filhos (Natália, Dionísio e Eddie Branquinho) preencheram-lhe a vida. Criou-os e fê-los adultos. Em épocas carnavalescas tinha sempre uma na manga. Os seus disfarces possuíam o condão da surpresa. Os apetrechos usados eram aplicados com elegante delicadeza. Nas ruas por onde caminhava a maneira como tratava os temas, independentemente de falar da natureza das coisas sem subterfúgios, deixava os transeuntes a rejubilar-se com entusiasmantes gargalhadas. Havia sempre uma nova. E o povão gostava. Os jogadores do Desportivo eram tratados com distinta consideração e assumiam-se como “os meus meninos”. O emblemático clube bejense de então estava-lhe na massa do sangue. Nas bancadas a sua voz ouvia-se entusiasticamente. Puxava pelos adeptos. No interior das quatro linhas os jogadores empolgavam-se com os ditos da Benvinda. Recentemente lancei um olhar para uma fotografia do Desportivo da época 1970/1971. A foto foi tirada no final de um jogo onde os bejenses receberam o Atlético Clube de Portugal e lá está registado a presença de Benvinda integrando o conjunto de atletas e erguendo um cartaz que sinteticamente dizia: “Desportivo vamos à Taça”. Ganhámos (3-1) e ficou a certeza que nessa época, onde eu próprio fazia parte do onze, o Desportivo foi considerado o “tomba gigantes” da Taça, tendo em conta que defrontámos uma equipa de escalão superior. Com a devida cortesia afirmo, e com plena convicção, que a nossa memorável Benvinda Paulino, natural de Salvada, foi, é e será um ícone de uma cidade que jamais a olvidará.
Fonte: Facebook de José saude
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