“Quando eu, na quarta classe, fiz uma composição em que escrevi que queria ser médico, a minha perceção da medicina era exatamente o que estou a fazer agora. O médico que está no hospital e que vê as pessoas com enfartes, com pneumonias, vê as pessoas gravemente doentes, enquanto um atleta tem apenas as doenças específicas da sua atividade desportiva. Para mim era redutor dedicar-me só à medicina desportiva”.
Carlos Marques é, porventura, o único médico inscrito na ficha técnica dos clubes de futebol sul alentejanos. Nasceu em Beja, há 36 anos, mas licenciou-se em Medicina fora do País.
“Não tive oportunidade de entrar no curso de Medicina em Portugal, por escassas décimas, então emigrei para Espanha, onde fiz o curso, mas sempre com a intenção de voltar para a minha terra. Não posso ‘perder o castelo de vista’, gosto muito desta cidade. Sempre tive o objetivo de regressar à minha terra natal”, conta o especialista em Medicina Interna, também médico do Sistema Integrado de Emergência Médica, que desempenha a sua missão na Viatura Médica de Emergência e Reanimação, no hospital de Beja.
O trajeto académico teve como ponto de partida o Patronato de Santo António, seguindo-se a Escola Básica de Santiago Maior e a Escola Secundária D. Manuel I.
Carlos Marques recorda: “Na quarta classe fiz uma composição do tipo ‘O que queres ser quando fores grande?’ Vi colegas ao meu lado a quererem ser astronautas e cientistas malucos, mas eu disse: ‘Quero ser médico!’ Nem sei porquê, ninguém na família tinha essa profissão mas, já nessa altura, eu queria medicina”.
Gosta de tudo o que gira em torno do desporto, praticou natação e atletismo, mas foi o futebol que lhe despertou maiores emoções. “O futebol é o meu desporto de eleição e o que mais gosto de praticar, jogo mal, mas esse prazer ninguém me pode tirar”. Assume-se, entre sorrisos, como benfiquista convicto, porque, diz, “o meu pai sempre me ensinou os bons caminhos”. E terá sido essa paixão pelo futebol que o sentou no banco do Moura Atlético Clube? “A história do Moura foi engraçada. Veio na sequência daquelas peladinhas que jogava entre amigos. Fiz um entorse grave, no tornozelo. Mas tenho um amigo em Moura, o senhor Vivaldo, que me disse que estava lá um médico da seleção e um bom massagista, que me tratariam. Lá fui para Moura, onde me apresentaram ao dr. Fernando Pinto Pais e ao massagista José ‘Boza’”.
E esse terá sido mesmo o momento chave da futura ligação do médico Carlos Marques ao Moura Atlético Clube. Uma parceria que já dura há cerca de oito anos. “Gostei logo dos dois. E como sempre tive um gosto especial pela medicina desportiva, área a que também estive ligado em Espanha, ainda com o pé no gelo, perguntei se não precisavam lá de outro médico. O presidente do Moura, à época o senhor Hélder Mamede, disse-me então que gostariam muito, mas que não tinham dinheiro. Respondi que não era dinheiro o que procurava. O meu interesse era o saber, conhecer mais esta área. E assim começou a aventura no Moura, sempre em regime de voluntariado absoluto”.
Uma experiência que Carlos Marques reconhece como “muito gratificante”. “As pessoas sempre me acolheram bem, vejo que toda a gente em Moura tem um carinho especial por mim”. Depois, pela, provavelmente, inesperada organização que encontrou no emblema mourense: “Comecei a ver pormenores muito interessantes. Havia, e ainda há, um grau de profissionalismo no Moura que eu não esperava, e isso também me fascinou, também me motivou e, enquanto médico, deu-me mais vontade de fazer parte de uma equipa que me pareceu logo bem composta e profissional”.
Carlos Marques não pondera a possibilidade de chegar a um clube de maior dimensão ou a uma seleção, sabe que “é algo difícil”. “Isso é um nicho que está já destinado para alguns nas grandes capitais, e nós estamos aqui muito isolados”, diz.
O outro lado da sua vida, a outra missão do seu dia a dia, é na emergência médica, algo muito desafiante. “Todos os dias somos surpreendidos. Entramos e nunca sabemos quando vamos sair. Nunca sabemos quando é que o telefone toca nem o que vamos encontrar. Tenho essa adrenalina. Gosto muito de urgência a sério. Podemos realmente fazer a diferença e torna-se muito gratificante quando isso acontece. É algo que nos enche o coração e chegamos a casa felizes por termos estado bem”.
Salvam-se vidas correndo ao encontro das vítimas, reconhece. “Vamos salvando vidas e temos a perceção de que mais uns minutos sem chegar o socorro adequado e a coisa poderia ter corrido mal”. Depois existe o reverso da medalha, o encontro com cenários inimagináveis. “São coisas que nos afetam e ficamos um bocadinho mais ‘casca dura’, mas isso faz parte da nossa profissão. Podemos passar de um óbito para um nascimento de uma criança. Estamos sujeitos a esses limites. Quando não se consegue salvar uma vida é frustrante por tudo, pelo cenário, pelas pessoas, pelos familiares, por nós que fazemos tudo e mais alguma coisa, esgotamos os limites e, às vezes, não dá”.
Feliz por tudo aquilo que conseguiu, assume: “Procurei o meu lugar ao sol, estudei muito e continuo a estudar para me manter o mais apto possível em todas as frentes onde estou empenhado”.
Projetos? “Ainda tenho muitos desafios pela frente. Projetos não faltam e estamos cá para os agarrar”.
Na hora da despedida, e perante quem não pode ‘perder o castelo de vista’, lembrámos-lhe a Mina de São Domingos. “É a terra dos meus avós. Passei lá a minha infância e continuo a passar lá grandes temporadas. No verão vou lá muitas vezes, o meu pai também vai e eu gosto de o acompanhar. A Mina de São Domingos é um lugar especial, onde tenho muita família e amigos”, concluiu.
“Não tive oportunidade de entrar no curso de Medicina em Portugal, por escassas décimas, então emigrei para Espanha, onde fiz o curso, mas sempre com a intenção de voltar para a minha terra. Não posso ‘perder o castelo de vista’, gosto muito desta cidade. Sempre tive o objetivo de regressar à minha terra natal”, conta o especialista em Medicina Interna, também médico do Sistema Integrado de Emergência Médica, que desempenha a sua missão na Viatura Médica de Emergência e Reanimação, no hospital de Beja.
O trajeto académico teve como ponto de partida o Patronato de Santo António, seguindo-se a Escola Básica de Santiago Maior e a Escola Secundária D. Manuel I.
Carlos Marques recorda: “Na quarta classe fiz uma composição do tipo ‘O que queres ser quando fores grande?’ Vi colegas ao meu lado a quererem ser astronautas e cientistas malucos, mas eu disse: ‘Quero ser médico!’ Nem sei porquê, ninguém na família tinha essa profissão mas, já nessa altura, eu queria medicina”.
Gosta de tudo o que gira em torno do desporto, praticou natação e atletismo, mas foi o futebol que lhe despertou maiores emoções. “O futebol é o meu desporto de eleição e o que mais gosto de praticar, jogo mal, mas esse prazer ninguém me pode tirar”. Assume-se, entre sorrisos, como benfiquista convicto, porque, diz, “o meu pai sempre me ensinou os bons caminhos”. E terá sido essa paixão pelo futebol que o sentou no banco do Moura Atlético Clube? “A história do Moura foi engraçada. Veio na sequência daquelas peladinhas que jogava entre amigos. Fiz um entorse grave, no tornozelo. Mas tenho um amigo em Moura, o senhor Vivaldo, que me disse que estava lá um médico da seleção e um bom massagista, que me tratariam. Lá fui para Moura, onde me apresentaram ao dr. Fernando Pinto Pais e ao massagista José ‘Boza’”.
E esse terá sido mesmo o momento chave da futura ligação do médico Carlos Marques ao Moura Atlético Clube. Uma parceria que já dura há cerca de oito anos. “Gostei logo dos dois. E como sempre tive um gosto especial pela medicina desportiva, área a que também estive ligado em Espanha, ainda com o pé no gelo, perguntei se não precisavam lá de outro médico. O presidente do Moura, à época o senhor Hélder Mamede, disse-me então que gostariam muito, mas que não tinham dinheiro. Respondi que não era dinheiro o que procurava. O meu interesse era o saber, conhecer mais esta área. E assim começou a aventura no Moura, sempre em regime de voluntariado absoluto”.
Uma experiência que Carlos Marques reconhece como “muito gratificante”. “As pessoas sempre me acolheram bem, vejo que toda a gente em Moura tem um carinho especial por mim”. Depois, pela, provavelmente, inesperada organização que encontrou no emblema mourense: “Comecei a ver pormenores muito interessantes. Havia, e ainda há, um grau de profissionalismo no Moura que eu não esperava, e isso também me fascinou, também me motivou e, enquanto médico, deu-me mais vontade de fazer parte de uma equipa que me pareceu logo bem composta e profissional”.
Carlos Marques não pondera a possibilidade de chegar a um clube de maior dimensão ou a uma seleção, sabe que “é algo difícil”. “Isso é um nicho que está já destinado para alguns nas grandes capitais, e nós estamos aqui muito isolados”, diz.
O outro lado da sua vida, a outra missão do seu dia a dia, é na emergência médica, algo muito desafiante. “Todos os dias somos surpreendidos. Entramos e nunca sabemos quando vamos sair. Nunca sabemos quando é que o telefone toca nem o que vamos encontrar. Tenho essa adrenalina. Gosto muito de urgência a sério. Podemos realmente fazer a diferença e torna-se muito gratificante quando isso acontece. É algo que nos enche o coração e chegamos a casa felizes por termos estado bem”.
Salvam-se vidas correndo ao encontro das vítimas, reconhece. “Vamos salvando vidas e temos a perceção de que mais uns minutos sem chegar o socorro adequado e a coisa poderia ter corrido mal”. Depois existe o reverso da medalha, o encontro com cenários inimagináveis. “São coisas que nos afetam e ficamos um bocadinho mais ‘casca dura’, mas isso faz parte da nossa profissão. Podemos passar de um óbito para um nascimento de uma criança. Estamos sujeitos a esses limites. Quando não se consegue salvar uma vida é frustrante por tudo, pelo cenário, pelas pessoas, pelos familiares, por nós que fazemos tudo e mais alguma coisa, esgotamos os limites e, às vezes, não dá”.
Feliz por tudo aquilo que conseguiu, assume: “Procurei o meu lugar ao sol, estudei muito e continuo a estudar para me manter o mais apto possível em todas as frentes onde estou empenhado”.
Projetos? “Ainda tenho muitos desafios pela frente. Projetos não faltam e estamos cá para os agarrar”.
Na hora da despedida, e perante quem não pode ‘perder o castelo de vista’, lembrámos-lhe a Mina de São Domingos. “É a terra dos meus avós. Passei lá a minha infância e continuo a passar lá grandes temporadas. No verão vou lá muitas vezes, o meu pai também vai e eu gosto de o acompanhar. A Mina de São Domingos é um lugar especial, onde tenho muita família e amigos”, concluiu.
Texto e foto Firmino Paixão
FonteFacebook de Diário do Alentejo e de Firmino Paixao

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