A Floresta
Nas calendas desportivas bejenses existem ícones do passado que nos
remetem para insuperáveis momentos de saudade. De entre as diversas
tertúlias dantes existentes em Beja, cidade onde o fenómeno desportivo
ditava ordem nas longas conversas de amigos, permanece a extinta
Floresta. Num baú já consumido pelo teor do tempo, estaciono o conteúdo
da razão num espantoso parque de impressionabilidades e revejo lugares
nos quais usufrui do prazer em ouvir gentes adultas que se entregavam de
corpo e alma à maravilha de uma modalidade com a qual pelejavam no seu
quotidiano. Insiro no faustoso leque de memórias a vivência diária que a
Floresta proporcionava a homens que faziam do local um dos seus vitais
pontos de encontro. Situada na Rua Frei Manuel Cenáculo, artéria
conhecida como “ladeira da estação”, a Floresta, localizada defronte ao
Jardim Público e inserida numa zona onde a consistência da columbofilia
era imensa, foi ao largo de décadas um recanto para o câmbio de
exequíveis tertúlias desportivas. Gerida pelo saudoso José Batista, pai
do Zeca e do Rui “Moca”, rapazes que atuaram nas camadas jovens do
Desportivo de Beja, a Floresta recomendava-se não só pela sua deliciosa
gastronomia mas pela profícua cavaqueira sobre as últimas novidades
postas a circular num burgo que ansiosamente se mostrava carente de
notícias frescas. A afluência de jogadores, dirigentes e admiradores dos
clubes então existentes, Desportivo e Despertar, era normalmente
suportada por uma linhagem de pessoas que à volta de uma mesa dissecavam
o quão importante era a mística que cada um deliberadamente partilhava.
Pela mítica Floresta passaram craques que constantemente impunham uma
ida ao local de “culto” onde eram recebidos com dignidade e sobretudo
com a altivez que a sua presença incutia na plebe. Naquele tempo, e
falemos concretamente dos anos de 1950, 1960 e 1970, porque nesses
períodos cíveis éramos uns simples catraios, tivemos o prazer em
frequentar aquele prodigioso espaço. Recordo, com extremosa saudade,
aquando juvenil do Despertar a malta, meados dos anos 60, após receber
os prémios de jogo (3$50 ou 5$00) juntarmos a maquia e lá íamos nós a
caminho daquele lendário lugar para saborear o afamado feijão com
dobrada regada com um jarro de vinho e uma gasosa. A correlação de
amizades adquiridas entre o proprietário e os jogadores do Desportivo,
levou, em algumas ocasiões, o patrão ofertar uma refeição quando o
emblemático grémio jogava em casa. A fama da Floresta galgou fronteiras e
houve até equipas forasteiras que marcavam uma refeição para os seus
atletas naquela simbólica casa de pasto. Atualmente da Floresta resta
uma elementar nostalgia e um metafórico adeus a um cosmos desportivo que
gerou outrora saudáveis momentos de genuína amizade.
Fonte: Facebook de Jose Saude.
Fonte: Facebook de Jose Saude.
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