José Saúde
Nói Madeira
Numa perspicaz encruzilhada de
gerações, revejo nomes de antigas glórias que fizeram do futebol um
hino à arte e que exaltaram de sobremaneira os clubes que
reconhecidamente defenderam. Fui, em épocas já distantes, um dos miúdos
que frequentava o antigo estádio Fernando Ulrich e que bebia
sofregamente o gosto pela redondinha. Dos magistrais craques desses
tempos, conheci o Nói Madeira, nome pelo qual ficaria eternizado numa
modalidade que lhe foi familiar. Honório João da Graça Madeira nasceu em
Beja no dia 4 de março de 1944 e é oriundo de uma linhagem predestinada
para o futebol, começando pelo Joaquim, passando pelo Nói, a que se
juntam o saudoso Rui, João e terminando no Vítor. O clã Madeira deixou
explícito nas memórias futebolística bejense que o agregado herdou o
legado que seu pai, Joaquim Costa Madeira, jogador no União de Beja,
Sport Lisboa e Beja e do Glória ou Morte de Portimão, primorosamente
outorgou aos seus descendentes. O Nói transitou do futebol de rua para o
Desportivo de Beja quando o antigo internacional António Feliciano, uma
das notáveis torres de Belém, veio do Belenenses para treinar a equipa
principal e fundou uma escola de jogadores em meados da década de 1950.
Desse lote de garotos destacavam-se o Filipe, Diogo Requeijão, Orlando
Rousseau, Viriato, Rosa, Carlos Alvito, Joaquim Madeira, Diogo Mendonça,
Laganha, Carocinho, sendo que mais tarde se juntaram ao grupo o
Faustino e o Osvaldinho. As capacidades do Nói Madeira jamais caíram em
saco roto e ei-lo a estrear-se pelos seniores num jogo que teve lugar em
Alhandra a contar para o campeonato nacional da segunda divisão. A
virtuosa glória explica a sonhada estreia: “Nessa altura era difícil um
jogador com a minha idade entrar na equipa onde atuavam o Alves,
Perdigão, Baiôa, Quinito, Tino, Chaby, Apolinário, Fernandes, Joab,
Madaleno, Marcelino, Francelino, Pena e o Palma, sendo Suarez o
treinador”. Recordo a facilidade do Nói em se desdobrar em campo
passando de defesa central para avançado centro sempre que a equipa se
encontrava em desvantagem no mercador e onde normalmente faturava. Estes
méritos levaram-no para o Textáfrica, em Moçambique. Nesses tempos
áureos o Nói Madeira era tão conhecido em Moçambique como o Eusébio em
Portugal, comentava-se. Após o 25 de Abril regressou a solo lusitano
trazendo na bagagem a Carteira de Treinador e muitas ambições. Viajou a
Sines e treinou o Vasco da Gama. “Nessa época falhámos por pouco o
acesso à primeira divisão nacional. No último jogo vencemos, 1-0, o
Barreirense em sua casa, restando aguardar pelo resultado entre
Marítimo, que jogava no seu reduto, e a CUF, pois só a vitória servia
aos insulares, mas a verdade é que nos instantes finais os madeirenses
marcaram um golo subindo os maritimistas”. Regressou a Beja e conduziu o
Desportivo à segunda divisão. Nói Madeira reside em Cuba.
Fonte: Facebook de Jose Saude
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