sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Bola de trapos, edição de 13 de setembro de 2019 no Diário do Alentejo

José Saúde
Nói Madeira
Numa perspicaz encruzilhada de gerações, revejo nomes de antigas glórias que fizeram do futebol um hino à arte e que exaltaram de sobremaneira os clubes que reconhecidamente defenderam. Fui, em épocas já distantes, um dos miúdos que frequentava o antigo estádio Fernando Ulrich e que bebia sofregamente o gosto pela redondinha. Dos magistrais craques desses tempos, conheci o Nói Madeira, nome pelo qual ficaria eternizado numa modalidade que lhe foi familiar. Honório João da Graça Madeira nasceu em Beja no dia 4 de março de 1944 e é oriundo de uma linhagem predestinada para o futebol, começando pelo Joaquim, passando pelo Nói, a que se juntam o saudoso Rui, João e terminando no Vítor. O clã Madeira deixou explícito nas memórias futebolística bejense que o agregado herdou o legado que seu pai, Joaquim Costa Madeira, jogador no União de Beja, Sport Lisboa e Beja e do Glória ou Morte de Portimão, primorosamente outorgou aos seus descendentes. O Nói transitou do futebol de rua para o Desportivo de Beja quando o antigo internacional António Feliciano, uma das notáveis torres de Belém, veio do Belenenses para treinar a equipa principal e fundou uma escola de jogadores em meados da década de 1950. Desse lote de garotos destacavam-se o Filipe, Diogo Requeijão, Orlando Rousseau, Viriato, Rosa, Carlos Alvito, Joaquim Madeira, Diogo Mendonça, Laganha, Carocinho, sendo que mais tarde se juntaram ao grupo o Faustino e o Osvaldinho. As capacidades do Nói Madeira jamais caíram em saco roto e ei-lo a estrear-se pelos seniores num jogo que teve lugar em Alhandra a contar para o campeonato nacional da segunda divisão. A virtuosa glória explica a sonhada estreia: “Nessa altura era difícil um jogador com a minha idade entrar na equipa onde atuavam o Alves, Perdigão, Baiôa, Quinito, Tino, Chaby, Apolinário, Fernandes, Joab, Madaleno, Marcelino, Francelino, Pena e o Palma, sendo Suarez o treinador”. Recordo a facilidade do Nói em se desdobrar em campo passando de defesa central para avançado centro sempre que a equipa se encontrava em desvantagem no mercador e onde normalmente faturava. Estes méritos levaram-no para o Textáfrica, em Moçambique. Nesses tempos áureos o Nói Madeira era tão conhecido em Moçambique como o Eusébio em Portugal, comentava-se. Após o 25 de Abril regressou a solo lusitano trazendo na bagagem a Carteira de Treinador e muitas ambições. Viajou a Sines e treinou o Vasco da Gama. “Nessa época falhámos por pouco o acesso à primeira divisão nacional. No último jogo vencemos, 1-0, o Barreirense em sua casa, restando aguardar pelo resultado entre Marítimo, que jogava no seu reduto, e a CUF, pois só a vitória servia aos insulares, mas a verdade é que nos instantes finais os madeirenses marcaram um golo subindo os maritimistas”. Regressou a Beja e conduziu o Desportivo à segunda divisão. Nói Madeira reside em Cuba.
Fonte: Facebook de Jose Saude

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