sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Bola de trapos, edição de 25 de outubro de 2019 no Diário do Alentejo

José Saúde
Tiago Dionísio
Indagando os etéreos teores sobre o mundo da arbitragem, ouso reavivar uma conjuntura desportiva onde Beja fora dantes uma imensurável referência lusitana. Identifico a sumptuosidade de uma chama que ao longo dos tempos tem trazido para a opinião pública diversificadas dissertações. Desses velhos distintos catedráticos conhecidos, e que meticulosamente me surpreenderam com a arte de bem apitar, evoco Tiago Dionísio. O antigo barbeiro, cujo estabelecimento se localizava na rua Capitão João Francisco de Sousa, em Beja, quase defronte ao lendário Café Luiz da Rocha, era uma enciclopédia em leis do jogo, sendo que cada lance ocorrido no interior do retângulo tinha, para ele, uma explicação crível, não obstante os pareceres, quiçá estrábicos, de pessoas que se assumiam como profetas da complexada temática. Homem atirado para o baixo na sua estatura física, o Tiago Dionísio era mesmo um sábio e as suas teses roçavam a perfeição. Os fregueses, curiosos das justificações no desenrolar de um lance por ele julgado e que levava normalmente os sabichões à discórdia, faziam corrupio em redor da barbearia, só que as suas explanações eram ajustadas pela sua plausível veracidade. Em campo não lhe olhassem ao tamanho. Enérgico, disciplinador e determinado, o homem não dava abébias seja a quem quer que o fosse. Tiago Dionísio, um árbitro que pisou os palcos do futebol primodivisionário nacional, deixou escola. Veiga Trigo, ex-internacional no deslumbrante cosmos da arbitragem, foi um dos seus ilustres seguidores, sucedendo que ele próprio chegou a integrar uma equipa liderada por aquele ilustre senhor com o qual, aliás, manteve uma amizade próxima. Nessas épocas a arbitragem bejense estava em alta. Mário Alves foi o primeiro a usar as insígnias da UEFA ao peito e o segundo Rosa Santos. Nesses tempos Beja, apesar da diminuta dimensão nacional no que concerne ao fator competitivo, assumia-se como um potencial berço fazedor de juízes de campo de gabarito. Rosa Santos e Veiga Trigo atingiram o auge ao serem justamente considerados como árbitros da FIFA. Com o evoluir do tempo a nossa arbitragem regional foi perdendo fervor no contexto nacional, mas, por outro lado, lá fomos descortinando talentos. Examinando as escolhas pátrias, assistimos, coerentemente, a escrutínios pormenorizados onde os deuses da mui nobre causa não olham a meios para atingir os fins. Tudo se remete para a singularidade de nefastas decisões onde proliferam poderes superiores. O pormenor qualitativo deu lugar a perniciosas alusões para aqueles que têm o mando na mão. Hoje, o Conselho de Arbitragem da AF Beja conta com cinco árbitros no Campeonato de Portugal. Bem-haja a vossa presença! Resta recordar, com saudade, a imensa rendição de Tiago Dionísio a uma razão à qual se entregou de corpo e alma.
Fonte: Facebook de JOse Saude

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