Reproduções desportivas
Numa viagem pelos paradigmas de um tempo já sem tempo, hasteio uma
bandeira repleta de esplêndidas cores onde a saudade envia os idealistas
para momentos inesquecíveis que o desporto proporcionava a todos que
apontavam como meta a inteligível fama. Porém, poucos atingiram essa
ancestral ambição, mas dessa passagem pelo futebol ficaram registadas
imortais reproduções desportivas. Lembro o início das épocas em que se
aplicava a carga física nas primeiras semanas de preparação. Tardes onde
a dureza das extensas correrias pesavam em excesso numa massa muscular
que irrepreensivelmente denotava cansaço. Tocar na bola era matéria
proibida. O treinador objetivava a elaboração da nova temporada e tudo
se processava de acordo com os arcaicos métodos herdados. Prevalecia a
experiência adquirida como jogador. Desses anacrónicos processos levados
à prática, revejo adereços que presentemente deslizam para o campo de
profundas interrogações. Ou seja, falar da realidade de antigamente
apresenta-se como um folclore de divagações que esbarram num tumultuoso
mar aonde os processos de ontem em nada se compadecem com aqueles que
agora conhecemos. Nas pálidas aguarelas de um aforamento já distante,
revejo procedimentos em que os atletas eram sujeitos a hábitos
concertados e que visavam o preparar eficazmente mais uma longa
caminhada competitiva. Ocorre-me, por razões óbvias, mencionar as
massagens com a famosa “borqueja” e os banhos de imersão. Esta veterana
leviandade leva-me a recordar o “tio” João Salgado, mestre na arte da
composição que o conteúdo da dita cuja originava. Sendo as pernas
membros capitais para um infalível empenho do jogador ao largo de um
desafio, era trivial, cito designadamente o meu caso como juvenil, às
sextas-feiras à noite uma ida à sede do Despertar, situada na antiga Rua
das Lojas, em Beja, e sermos sujeitos a esfregas nos membros inferiores
que ardiam como ferro a sair de uma forja alimentada a carvão de pedra.
Mas as recordações não se quedam pelas obsoletas solicitações de quem
ordenava essas sofisticáveis ações. Recordo, como sénior, os banhos de
imersão na cabine do Desportivo de Beja. Ao fundo do balneário, à
direita, lá estava uma mini piscina aquecida onde a malta debitava
excelentes momentos de relaxe após mais uma sessão de trabalho. A ordem
era tudo para dentro de água e fé em Deus. Neste contexto, evoco, com
tristeza, um fatídico incidente que em tempos anteriores ocorreu com
Luciano, defesa central do Benfica, que perdeu a vida em pleno Estádio
da Luz num desses banhos de imersão. Valeu, na altura, a destreza de
Jaime Graça que reagiu de pronto ao corte da corrente num dos quadros
elétricos, senão a desgraça ter-se-ia dimensionado de forma muito mais
gigantesca. Enfim, reproduções desportivas de outrora que a memória
teima em preservar e que os leitores mais usados inevitavelmente
recordarão.
Fonte: Facebook de Jose Saude.
Fonte: Facebook de Jose Saude.
Sem comentários:
Enviar um comentário