Tradições
Num exercício à maleável substância desportiva, eis-nos perante uma
expedita veracidade onde as tradições de outrora atestam originalidades
de lugares comuns, cujas gentes defendiam despretensiosos costumes.
Levados pelas mágicas ondas que nos transportam para o persuasivo mapa
de memórias, desbravamos os escarpados silêncios e partimos para
conteúdos que dantes conhecemos. Debruço-me, neste contexto, sobre as
tradições que fizeram do prodígio desportivo um feito deslumbrante.
Acreditava-se, implicitamente, no alforge de atletas da terra. Hoje,
reconhecesse que as tradições de ontem já não são o que eram. E se é
verdade que as novas subsistências não se moldaram aos espólios legados,
assiste-se, por outro lado, a maquiavélicas presunções que rompem com
decisões persecutórias que colidem com o vazio. Somos uma das muitas
criaturas que identificaram as virtualidades do passado. Numa conversa
recente com um amigo de longa data sobre o cosmos futebolístico em Beja,
lá veio à baila a problemática linha orientadora sobre a forma como se
desvirtuam exatidões doutros tempos. Sejamos imparciais e coloquemos
sobre o tampo da mesa de jogo um fortuito joker que encalha, por vezes,
na complexidade das preocupações. Recordo a distinta capacidade de
clássicos dirigentes que faziam finca pé em manter ativa a sua afirmação
no palco diretivo onde o objetivo prioritário passava por dar
continuidade às usadas tradições. Os plantéis, preparados com
severidade, mantinham-se fiéis a princípios que honradamente gizavam
objetivos prioritários. Apostava-se na prata-da-casa e na secretaria,
administrada por homens idóneos, traçavam-se as linhas mestras para a
construção de grupos que visavam, com decência, a chamada à equipa
principal de jovens valores conhecidos em território local, ou naqueles
que no seu percurso de formação se afirmavam como promissores valores no
âmbito distrital. Na tesouraria ponderava-se o deve e o haver. Não se
entrava em insólitas euforias. A honra tinha um preço e chamava-se
dedicação. Ninguém cobrava um avo. O lanche era grãos com carne de porco
preto engordado numa pocilga da povoação, ou uma feijoada regada com o
famoso líquido dos deuses fermentado nas famosas talhas de barro. Os
orçamentos enquadravam-se com os proveitos calculados. Nada falhava. Os
jogadores, peças fundamentais para que toda a componente desportiva
funcionasse, eram compensados com pequenos dádivas e tudo caminhava
sobre rodas. Presentemente, perdeu-se a mística e os clubes, alguns, são
recheados com contingentes de armadas forasteiras. Houve um tempo em
que o dinheiro era literalmente esbanjado. Não se acautelava o futuro.
Vivia-se sob o signo do presente. Agora o risco tem um custo elevado e
poucos arriscam. Concluo invocando: se o sonho comanda a vida deixem-me
sonhar, presumindo, ainda que futilmente, um regresso às velhas
tradições.
Fonte: Facebook de Jose Saude-
Fonte: Facebook de Jose Saude-
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