sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Bola de trapos, edição de 7 de fevereiro de 2020 no Diário do Alentejo

José Saúde
Manel da Benta
Com uma estatura física atirada para o baixo, mas não lhe olhassem ao tamanho porque a sua sublime ação no interior das quatro linhas era preponderante para carregar com a equipa “ás costas” e manobrar todo o jogo ofensivo, eis-nos numa visita a um craque da bola do antigamente. Um livre direto nas imediações da grande área adversária, saía normalmente “bomba” e o acumular de mais um golinho que por vezes determinava o desfecho da contenda. Aliás, a sua diminuta altura impediu-o de pisar palcos supremos do futebol nacional, sendo ainda hoje reconhecida a subtileza futebolística com a qual cativou gerações numa povoação que ao longo dos tempos tem dado excelentes desportistas. Manuel Abril Machado nasceu em Aldeia Nova de São Bento a 10 de janeiro de 1943 e explica que razão do nome de guerra, Manel da Benta, surgiu através de uma irmã: “Quando era pequenino andava sempre atrás da minha mana Benta e daí surgiu a alcunha”. Nesses tempos, anos de 1950, o Manel da Benta começou a deixar cartel entre a pequenada. “Andava na escola primária e já os rapazes me consideravam como um dos melhores jogadores. Jogava descalço e as bolas eram feitas com trapos que a malta cozia à mão”. Reza a história que na aldeia, nessa época, existiam vários grupos populares e Manel da Benta assumiu compromisso com os “Azuis”. “Esse grupo era formado com a rapaziada que frequentava o Café do Zé Amaro e dele faziam parte o Emílio, Mamede, Zé Aldeia, Chora, Manel Foguete e o Aurélio, de entre outros”. A curiosidade destas hilariantes histórias remetem-nos para um agregado de circunstâncias substancialmente maravilhoso. “Uns eram sapateiros, outros carpinteiros e outros trabalhavam no campo”, adianta. Os equipamentos, segundo o antigo jogador, “foram comprados com o dinheiro, vinte cinco tostões, de um mealheiro que todas as semanas cada um de nós lá depositávamos”. Segue-se a “transferência” para os “Amarelos”. “Este grupo tinha a sua sede na taberna do Bento Monge, na Rua do Sobral, e comigo foi o Emílio. Os equipamentos foram comprados com parte da jorna de uma empreitada que fizemos numa ceifa nas courelas do senhor Zé Pedro. No final juntámos uns tostões e toca a equiparmo-nos à maneira”. Aos 17 anos rumou a Lisboa. “Prestei provas na equipa de juniores do Sporting. Foi o senhor Silva que escreveu ao Sporting. Estive quinze dias em Alvalade. O treinador era o Juca e o presidente o doutor Abrantes Mendes. Os treinos correram bem, mas a minha baixa estatura foi fatal”. No Atlético Aldenovense deixou memórias. Jogou ao lado de Vitorino e mais tarde no campeonato da antiga FNAT pela Casa do Povo. Presentemente, recorda, com brio, esses gloriosos tempos e lembra alguns dos jogadores que o marcaram: “O Carapezinho, Zé Amaro, Vitorino, Manel Romeiro, Zé Beirão, António Rodolfo e outros”. Crónicas doutras épocas onde o Manel da Benta foi um carismático ator!
Fonte: Facebook de JOse saude.

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