Segundo o Professor Jorge Buescu:
TESTES: TEMOS SOLUÇÃO EM PORTUGAL!
Os leitores perdoar-me-ão se deixar a análise aos números de hoje para
segundo plano. Porque venho trazer-lhes uma mensagem de esperança que
pode salvar muitas centenas ou milhares de vidas -- mas exige acção
imediata.
Muitos conhecerão de nome Maria Manuel Mota.
Investigadora de primeiro plano mundial na área das Biociências e
doenças infecciosas, em particular malária. Directora do Instituto de
Medicina Molecular, onde trabalham mais de 600 pessoas. Prémio Pessoa em
2013.
Mais importante do que qualquer elemento curricular, a
Maria Mota tem na mão uma chave para o problema da falta de testes COVID
em Portugal. Conheço-a há muitos anos, falei com ela há pouco. Aqui
segue o relato.
Os testes de detecção ao COVID são fabricados
essencialmente por duas empresas, a Roche e a Qiagen. Os kits de teste
contemplam duas fases: extracção e amplificação por processo PCR, sendo
os reagentes bem conhecidos. O problema, claro, já se sabe qual é: nós
não produzimos estes reagentes, fomos ao mercado tarde, já não
encontramos à venda e agora estamos a racionar (ou a “racionalizar” –
neste momento os malabarismos retóricos são o que menos importa) os
poucos que temos e a fazer muito, MUITO menos testes do que devemos. A
Alemanha, cuja indústria produz os reagentes necessários, faz 500.000
testes por semana. Portugal esta semana fez 17.000. Tendo em conta que a
população alemã é 8 vezes maior, temos um nível de testes que é 20% do
alemão.
Que entre a Maria Mota.
Há 17 dias, alertada para o
problema por dois médicos de Santa Maria, a Maria Mota colcoua a sua
equipa no IMM a desenvolver uma alternativa portuguesa ao kit de teste.
Foi, num certo sentido, muito simples: em vez de desenvolver um processo
a partir do início, a Maria Mota pegou no protocolo publicado pela OMS e
pelo CDC americano para os testes ao COVID e adaptou-o à realidade
portuguesa. Identificou os reagentes críticos em falta em Portugal para
produzir um teste e concebeu alternativas. A alternativa existe em
Portugal; a empresa que a produz, a NZY Tech, pode produzi-los em
quantidade virtualmente ilimitada para todos os efeitos práticos.
Neste momento a Maria Mota já dispõe de um kit testado, que funciona
perfeitamente na identificação quer de casos positivos quer de casos
negativos. Há uma semana contactou a DGS por escrito, não tendo ainda
obtido resposta. Felizmente para nós, tem linha aberta para o Ministro
da Ciência, Manuel Heitor, que compreende bem a urgência destes tempos, e
quedesbloqueou a situação. Obrigado por todos nós, amigo Manuel.
O kit foi testado e está certificado pelo Instituto Ricardo Jorge no
sábado passado. Há dois dias foi validado pelo mesmo Instituto. Está
pronto a ser aplicado em quantidades virtualmente ilimitadas. As
limitações para a Maria Mota não são de número de testes disponíveis:
são de mão de obra humana. O seu IMM tem neste momento capacidade para
administrar 300 testes por dia, podendo talvez chegar aos 900 a 1000.
Isto são notícias extraordinárias. Temos um teste português, validado e
certificado, que pode começar a produção em massa ONTEM. Podemos abrir
centros de testes por todos o País e começar finalmente a política de
testes massivos e rastreios sistemáticos recomendada pela OMS, que nunca
seguimos. De que estamos à espera?
Dizia-me a Maria Mota que
cada dia que passa conta. Se tivéssemos começado há uma semana tínhamos
salvo muitas vidas. Já não vamos a tempo. Mas vamos a tempo de salvar
muitas mais nas semanas que se avizinham e vão ser terríveis.
Ainda vamos a tempo de salvar milhares de vidas (e estou a medir as palavras). Mas temos de agir JÁ.
Senhores do Governo, do Ministério da Saúde, da DGS, de tudo quanto
manda neste País: larguem os vossos papéis e agarrem na Maria Mota. Não
interessam agora os vossos erros de avaliação do passado: não cometam
agora o maior de todos. Dêem à Maria Mota tudo, TUDO o que ela pedir. E
peguem nos kits dela, comecem a produção em massa daqui a uma hora,
organizem a abertura urgente postos de teste de emergência nos pavilhões
multiusos em todos os concelhos daqui a duas horas. Não queiram ser
responsáveis por tudo: mobilizem a sociedade civil. Recrutem voluntários
para administrar testes e realizar análises laboratoriais (que demoram 4
a 5 horas) entre estudantes de Medicina e Farmácia. Usem os estádios de
futebol, os pavilhões desportivos, façam o que quiserem. Organizem, não
é para isso que servem os Governos? Mas DESPACHEM-SE! Não é para
amanhã, é para ONTEM!
Porque cada dia conta, e cada hora perdida hoje representa mais mortos daqui a 15 dias.
Jorge Buescu, 27/3/2020
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