sexta-feira, 5 de junho de 2020

Bruno Afonso acredita na qualificação para os Jogos Olímpicos


O atleta Bruno Afonso olha para a sua possível qualificação para os Jogos Olímpicos de 2020, que se vão disputar em Tóquio, como um tributo ás gentes de Mértola e ao seu Clube Náutico, pelo suporte que sempre deram aos seus sonhos.

Texto Firmino Paixão

“Acreditam muito em mim, e sempre fizeram questão de realçar que as coisas que efetivamente têm valor conquistam-se com trabalho duro” assume o canoísta. “É neles que penso nos dias menos bons, quando as coisas não correm bem, e aí vou buscar forças para alcançar a minha melhor versão. Orgulhá-los com uma presença nos Jogos Olímpicos é sem dúvida o que mais quero desta vida”, confessa o canoísta.

Com as competições suspensas e canceladas tornou-se mais difícil manter elevados os níveis motivacionais?
Fui acompanhado regularmente pelo psicólogo da Federação Portuguesa de Canoagem, que é um excelente profissional e que guiou a minha linha de pensamento sempre para o caminho correto. Antes do adiamento dos jogos se tornar oficial, as provas de apuramento já haviam sido canceladas, e esse foi o período mais complicado. Sem apuramento, e na iminência dos jogos acontecerem, o apuramento seria feito com base no mundial do ano passado onde, à partida, estávamos excluídos. Nessa fase fiquei em baixo, sentia o meu sonho a escapar-me sem uma hipótese de lutar. Mas quando os jogos foram adiados, a oportunidade renasceu e com ela renasceu uma força de vontade ainda maior de conseguir lá chegar.

A pandemia exigiu cuidados redobrados, com o País, primeiro, em estado de emergência e depois em calamidade…
Mesmo durante o estado de emergência o Governo mostrou sensibilidade para com os atletas de alto rendimento e permitiu que estes circulassem para os treinos, ainda que com todas as precauções necessárias. Foi uma situação difícil de gerir, principalmente a nível emocional. A situação estava a tornar-se cada vez mais grave, e naturalmente com isso começam a surgir mais preocupações. Tentei manter-me saudável a nível psicológico e tentei manter uma boa condição física durante a fase mais crítica da pandemia.

Tudo isto, num ano em que se realizariam os Jogos Olímpicos em Tóquio, que acabaram adiados para 2021. O adiamento foi benéfico para a modalidade?
Dizer se foi benéfico, ou não, é difícil. Tal como eu, todos os atletas sofreram de uma grande ansiedade nos primeiros momentos de toda esta situação. Gradualmente, nós ficávamos conscientes de que o adiamento era inevitável e, ao vermos isso confirmado, penso que todos o encarámos como sendo a melhor decisão, principalmente por questões de saúde pública, bem como de justiça entre atletas. Todos teremos mais um ano de preparação para a competição, e isso só pode ser benéfico.

O Bruno Afonso integra o projeto olímpico, mas ainda não tem a qualificação garantida?
Sim, a minha qualificação não está assegurada. Já tivemos uma primeira fase de qualificação no mundial, no entanto, apesar das nossas hipóteses nessa primeira fase serem reduzidas, as coisas acabaram por correr muito mal e não conseguimos a qualificação. Haverá uma segunda fase de apuramento continental, onde competem apenas os países que não garantiram as suas vagas no mundial. Esse é o nosso objetivo principal, e é para isso que trabalho arduamente todos os dias. O novo apuramento continental foi agora reagendado para maio de 2021.

Participar nos Jogos Olímpicos é o sonho legítimo de qualquer atleta?
Sim, sem dúvida. Quando o desporto assume um papel preponderante na vida de um atleta, os Jogos Olímpicos são o sonho de qualquer um. O que começa num sonho acaba por se tornar num objetivo que define a nossa rotina, a nossa maneira de pensar, toda a nossa vida passa a ser programada em função desse objetivo. E eu sinto muito que estou nessa fase, toda a minha vida gira em função do meu objetivo. Para ser sincero, acho que não há uma única hora do dia que não pense no quanto quero alcançar os Jogos Olímpicos, e isto cria uma ambição em mim que se reflete no trabalho árduo que procuro dia após dia.

Seria um grande orgulho para as gentes de Mértola e especialmente para a grande família do Cube Náutico?
Muitas pessoas, mais próximas ou menos próximas, de Mértola, fazem questão de demonstrar o carinho que têm por mim e pelo meu percurso enquanto atleta, estudante e pessoa. Gostava de dar a essas pessoas o prazer de dizerem que tinham um seu conterrâneo nos Jogos Olímpicos, e acho que seria a melhor forma de retribuir o carinho que fazem questão de me demonstrar ao longo de todo este tempo. Para além disto, também sinto que estou em dívida para com o clube, por ter sido a instituição que me criou e desenvolveu como atleta, e acima de tudo como pessoa. As várias pessoas com que tive, e tenho, a oportunidade de trabalhar no clube, incutiram-me valores que, tenho a certeza, vão ser determinantes em variadas situações da minha vida futura. E o mais importante de tudo é que gostaria de dar também esse orgulho aos meus pais, pois, sem eles, nada disto seria possível.

Quais são os projetos mais imediatos, além desse apuramento para os Jogos Tóquio 2020, que se disputarão em 2021?
A nível desportivo o meu grande objetivo passa pelo apuramento olímpico que foi reagendado para maio do próximo ano. O que vai acontecer depois desse momento é uma incógnita. A nível profissional, visto que já terminei um mestrado em engenharia de ‘software’ gostaria de entrar no mercado de trabalho e ganhar alguma experiência no ramo. No entanto, devido à intensidade dos treinos nesta fase ser muito alta, é completamente impossível para mim combinar trabalho e treinos. E é isto… a minha vida é definida pelo objetivo de alcançar os Jogos Olímpicos.
Fonte:  https://diariodoalentejo.pt

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