O
atleta Bruno Afonso olha para a sua possível qualificação para os Jogos
Olímpicos de 2020, que se vão disputar em Tóquio, como um tributo ás
gentes de Mértola e ao seu Clube Náutico, pelo suporte que sempre deram
aos seus sonhos.
Texto Firmino Paixão
“Acreditam muito em mim, e sempre fizeram
questão de realçar que as coisas que efetivamente têm valor
conquistam-se com trabalho duro” assume o canoísta. “É neles que penso
nos dias menos bons, quando as coisas não correm bem, e aí vou buscar
forças para alcançar a minha melhor versão. Orgulhá-los com uma presença
nos Jogos Olímpicos é sem dúvida o que mais quero desta vida”, confessa
o canoísta.
Com as competições suspensas e canceladas tornou-se mais difícil manter elevados os níveis motivacionais?
Fui acompanhado regularmente pelo
psicólogo da Federação Portuguesa de Canoagem, que é um excelente
profissional e que guiou a minha linha de pensamento sempre para o
caminho correto. Antes do adiamento dos jogos se tornar oficial, as
provas de apuramento já haviam sido canceladas, e esse foi o período
mais complicado. Sem apuramento, e na iminência dos jogos acontecerem, o
apuramento seria feito com base no mundial do ano passado onde, à
partida, estávamos excluídos. Nessa fase fiquei em baixo, sentia o meu
sonho a escapar-me sem uma hipótese de lutar. Mas quando os jogos foram
adiados, a oportunidade renasceu e com ela renasceu uma força de vontade
ainda maior de conseguir lá chegar.
A pandemia exigiu cuidados redobrados, com o País, primeiro, em estado de emergência e depois em calamidade…
Mesmo durante o estado de emergência o
Governo mostrou sensibilidade para com os atletas de alto rendimento e
permitiu que estes circulassem para os treinos, ainda que com todas as
precauções necessárias. Foi uma situação difícil de gerir,
principalmente a nível emocional. A situação estava a tornar-se cada vez
mais grave, e naturalmente com isso começam a surgir mais preocupações.
Tentei manter-me saudável a nível psicológico e tentei manter uma boa
condição física durante a fase mais crítica da pandemia.
Tudo isto, num ano em que se
realizariam os Jogos Olímpicos em Tóquio, que acabaram adiados para
2021. O adiamento foi benéfico para a modalidade?
Dizer se foi benéfico, ou não, é difícil.
Tal como eu, todos os atletas sofreram de uma grande ansiedade nos
primeiros momentos de toda esta situação. Gradualmente, nós ficávamos
conscientes de que o adiamento era inevitável e, ao vermos isso
confirmado, penso que todos o encarámos como sendo a melhor decisão,
principalmente por questões de saúde pública, bem como de justiça entre
atletas. Todos teremos mais um ano de preparação para a competição, e
isso só pode ser benéfico.
O Bruno Afonso integra o projeto olímpico, mas ainda não tem a qualificação garantida?
Sim, a minha qualificação não está
assegurada. Já tivemos uma primeira fase de qualificação no mundial, no
entanto, apesar das nossas hipóteses nessa primeira fase serem
reduzidas, as coisas acabaram por correr muito mal e não conseguimos a
qualificação. Haverá uma segunda fase de apuramento continental, onde
competem apenas os países que não garantiram as suas vagas no mundial.
Esse é o nosso objetivo principal, e é para isso que trabalho arduamente
todos os dias. O novo apuramento continental foi agora reagendado para
maio de 2021.
Participar nos Jogos Olímpicos é o sonho legítimo de qualquer atleta?
Sim, sem dúvida. Quando o desporto assume
um papel preponderante na vida de um atleta, os Jogos Olímpicos são o
sonho de qualquer um. O que começa num sonho acaba por se tornar num
objetivo que define a nossa rotina, a nossa maneira de pensar, toda a
nossa vida passa a ser programada em função desse objetivo. E eu sinto
muito que estou nessa fase, toda a minha vida gira em função do meu
objetivo. Para ser sincero, acho que não há uma única hora do dia que
não pense no quanto quero alcançar os Jogos Olímpicos, e isto cria uma
ambição em mim que se reflete no trabalho árduo que procuro dia após
dia.
Seria um grande orgulho para as gentes de Mértola e especialmente para a grande família do Cube Náutico?
Muitas pessoas, mais próximas ou menos
próximas, de Mértola, fazem questão de demonstrar o carinho que têm por
mim e pelo meu percurso enquanto atleta, estudante e pessoa. Gostava de
dar a essas pessoas o prazer de dizerem que tinham um seu conterrâneo
nos Jogos Olímpicos, e acho que seria a melhor forma de retribuir o
carinho que fazem questão de me demonstrar ao longo de todo este tempo.
Para além disto, também sinto que estou em dívida para com o clube, por
ter sido a instituição que me criou e desenvolveu como atleta, e acima
de tudo como pessoa. As várias pessoas com que tive, e tenho, a
oportunidade de trabalhar no clube, incutiram-me valores que, tenho a
certeza, vão ser determinantes em variadas situações da minha vida
futura. E o mais importante de tudo é que gostaria de dar também esse
orgulho aos meus pais, pois, sem eles, nada disto seria possível.
Quais são os projetos mais imediatos, além desse apuramento para os Jogos Tóquio 2020, que se disputarão em 2021?
A nível desportivo o meu grande objetivo
passa pelo apuramento olímpico que foi reagendado para maio do próximo
ano. O que vai acontecer depois desse momento é uma incógnita. A nível
profissional, visto que já terminei um mestrado em engenharia de
‘software’ gostaria de entrar no mercado de trabalho e ganhar alguma
experiência no ramo. No entanto, devido à intensidade dos treinos nesta
fase ser muito alta, é completamente impossível para mim combinar
trabalho e treinos. E é isto… a minha vida é definida pelo objetivo de
alcançar os Jogos Olímpicos.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt
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