sábado, 25 de julho de 2020

Bola de trapos, edição de 24/07/2020 no Diário do Alentejo

José Saúde
Legados desportivos
Desafiando as agrestes escarpas que incidem sobre ciclos de vidas celestiais, viajo pela faustosa máquina do tempo e jubilo com acontecimentos que marcaram épocas onde o futebol se afirmava numa sociedade rodeada de imprevisíveis receios. O fenómeno cooperativista era um tema que restringia avanços seguros em moços que sonhavam com o mundo da bola. O sistema político não dava tréguas, logo pequenos grupos de criaturas requeriam um prévio cuidado. Caminho por veredas que paulatinamente se foram aniquilando e revejo narrativas herdadas de homens que brilhantemente ousaram desafiar as amarras dos pânicos e se lançaram na construção de agremiações desportivas que glorificaram aquilo que se assemelhava a inimagináveis utopias. Reproduzindo legados desportivos desses velhos tempos, recorro a narrativas deixadas e evoco histórias contadas que nos causam colossais emoções. Na cidade de Beja, década de 1920, deram à estampa clubes que se afirmariam determinadamente no palco futebolístico “paxjuliano”. Vivia-se a prática desportiva com elevado deslumbramento. Além dos clubes, que entretanto se fundaram, existiam, ainda, os chamados grupos populares que integravam jovens que se dedicavam ao prazer do “vício do jogo da bola” e que atuavam em jogatanas aos fins de semana, sendo os palcos dos dérbis as eiras existentes na orla da urbe. Recordando esses legados desportivos, detenho- -me perante o “Botana” e o “Botanoide”. O “Botana” era dirigido pelo Dr. António Fernando Covas Lima e o “Botanoide” tinha como mentor João de Melo Garrido, irmão do antigo diretor do “Diário do Alentejo”, Manuel Inácio Lopes de Melo Garrido, sendo o João o homem que provocou uma cisão no primeiro grupo e o levou a formar o segundo. A curiosidade pelo futebol dessas eras, expressam os contemplados arautos desportivos com dignidade e honradez, que o Dr. António Fernando Covas Lima foi, ainda, jogador do “Glória ou Morte”, de Beja. A sua sina estava traçada, uma vez que, mais tarde, assumiu a presidência da Associação de Futebol de Beja (1936- 1938; 1946-1947; 1952/1960), abrindo as portas para que o seu filho, Dr. João Manuel Covas Lima, o conhecido “Dr. Nana”, um dia se consagrasse como dirigente da emblemática corporação. É óbvio que tudo é passado, registando-se, porém, que estes majestosos feitos tiveram como protagonistas proeminentes personagens que deram passos gigantes para que o cosmos desportivo atingisse o ‘boom’ por ora observado. Atualmente constatamos que em Beja, assim como na generalidade do distrito, a maravilha desportiva atingiu patamares outrora impensáveis. Hoje, presenciamos uma infinidade de coletividades, geridas por gentes que humildemente se entregam “de alma e coração” à arte de bem servir o seu povo, bem como muitos milhares de atletas que desenvolvem a sua condição física no emblema que orgulhosamente defendem e onde proliferam excelentes infraestruturas. Ficam assinalados os exímios primórdios de legados que originaram tamanha evolução.
Fonte: Facebook de Jose Saude

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