José Saúde
“Tio” João Salgado
Fixando-se numa foto que o meu antigo companheiro de lides futebolísticas Arnaldo Barbas trouxe a público, onde colocava a imagem de Orlando Rousseau envergando o equipamento do Desportivo de Beja, sendo que ambos foram jogadores do emblema bejense e oriundos de uma escola fundada pelo antigo astro internacional português António Feliciano, década de 1950, século passado, acrescentando ao tema a figura do “tio” João Salgado, eis-nos a debitar umas amigáveis palavras para aquele que fora, a par de muitos outros, uma personagem inesquecível nos meandros do jogo da bola na velhinha Pax Júlia. A história é benemérita em vínculos gigantescos que outrora marcaram gerações desportivas, sendo que na modalidade cruzaram-se personalidades que muito contribuíram para sua elevação. O futebol desbravou caminhos que o homem, com honestidade, soube abrir-lhe novas balizas. Sob a sua hábil entrega o “tio” João Salgado subscreveu páginas de enorme reputação numa circunstância onde não foi personagem de revelo no interior das quatro linhas, mas sim fora delas. A ardente empatia com os clubes que o acolheram revelou-se, com nobreza, em áreas subjacentes. Do Luso ao Desportivo de Beja, oficialmente fundado a 8 de setembro de 1947, realidade indesmentível, mas sendo, precisamente, clubes que ficaram umbilicalmente ligados pela data de fundação do primeiro, 6 de junho de 1916, remete-nos para parâmetros admiráveis. É lícito que nas narrativas avulsas que envolvam o revistar doutros tempos, sejam preenchidas com personagens que muito contribuíram para a evolução do fenómeno regional. Tacitamente, o labor que João Nobre Franco, seu nome oficial, mas que ficou conhecido como “tio” João Salgado, impunha nos seus afazeres desportivos novos dados que, para ele, eram considerados determinantes no tratamento físico dos atletas. Figura proeminente no meio, o “tio” João Salgado assumiu o cargo de encarregado dos equipamentos do Luso e de guardião-mor do estádio Condessa d’ Avilez. Após a fusão entre o Luso, o União e o Pax Júlia, que originou o surgimento do Desportivo, o pacato homem exerceu as funções de massagista na novel agremiação. Fidalgo de rústicos saberes, o “tio” João Salgado fabricava a célebre “borqueja” trabalhada, manualmente, por sua conta e risco e que visava dar alento corporal aos craques. Os ingredientes utilizados na feitura do miraculoso remédio era segredo que só ele o sabia e a finalidade passava por massajar as pernas dos jogadores. Conheci o cheiro horroroso emanado pela mixórdia e o seu efeito nas “gâmbias” da rapaziada que saíam da “terapia” com os membros inferiores dolorosamente inflamados. Ainda hoje o pessoal da bola, doutras épocas, em tertúlias de amigos, não refutam em trazer à tona da conversa as miraculosas massagens dadas às sextas-feiras após os treinos físicos. “Tio” João Salgado, uma referência que justamente trago à liça e que contemplam as insofismáveis crónicas aqui contadas.
Fonte: Facebook de Jose Saude
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