Último classificado na Série H do Campeonato de Portugal, o Moura Atlético Clube tem-se debatido com problemas inesperados. São os casos de covid-19 que põem em causa o sucesso desportivo, a ausência de público e de receitas, dificuldades a que os dirigentes não viram a cara.
Texto e Foto Firmino Paixão
O presidente do clube, Luís Jacob reafirma a sua paixão pelo Moura e a intenção de tudo fazer para que a equipa se mantenha no plano nacional. Mas “se descer, haverá de subir”, garante o empresário, ao mesmo tempo que reafirma a confiança no treinador Bruno Ribeiro: “Isso é um ponto assente. O Bruno, para mim, é mais do que um treinador, é uma pessoa que está connosco porque quer, tem tido imensos convites para sair para grandes clubes, mas ele gosta do Moura, gosta de nós e nós também gostamos dele”.
O Moura vive um tempo difícil. Será uma época para esquecer, ou um tempo para, mais tarde, recordar?
Teremos que fazer as duas coisas, recordar e tentar esquecer. É algo que faz parte da vida, ficará na história e nunca apagaremos isto da nossa memória. Começámos a época desportiva, mas não se sabe como, e se, acabará. As dificuldades são imensas a todos os níveis. E nós perguntamos porque é que isto acontece, porque é que aquilo acontece, e não temos outras respostas, o denominador comum é sempre a covid-19. A pandemia está presente em todo o lado e prejudica gravemente a nossa vida profissional, o desporto, os clubes, prejudica tudo, provoca um desgaste enorme. Poderão dizer que é uma desculpa. Não é nada! É mesmo verdade, é um facto. O Moura já fez três pré-épocas. Fez dois confinamentos, enfim… vamos ver.
Quais os grandes problemas que têm afetado o clube?
O maior problema que temos sentido é a dificuldade em gerir e amenizar todo o stresse que isto provoca. Reflete-se nos jogadores, na própria logística, na forma de trabalhar… Para onde vamos? Quem contratamos? Como é que será o dia de amanhã? E como será no outro dia? Foi difícil construir uma equipa, é difícil mantê-la, é difícil treinar, difícil jogar. Existem grandes dificuldades para manter as pessoas com um nível competitivo elevado. Recebemos o Aljustrelense com três ou quatro dias de treino, após um confinamento. Queríamos alterar esse jogo, mas não tivemos a colaboração do Aljustrelense. O nosso esforço, às vezes, é inglório. Quando temos pessoas que não compreendem estas situações… por exemplo, esse jogo com o Aljustrelense, não deveria ter acontecido naquela noite. Temos colaborado sempre com as outras equipas, e não tivemos a colaboração de um clube vizinho, acho que foi muito feio, foi horrível da parte daquele clube. Mas pronto, vamos por aí...
Isto é algo para o qual ninguém estava preparado.
Claro, ninguém estava, nem está preparado e ninguém poderá apontar o dedo seja a quem for, porque a pandemia afeta toda a nossa vida. Nós já sentimos isso na pele por duas vezes, e vamos ver por quantas mais. Uma das possibilidades seria terminar tudo isto, porque falta motivação, falta capacidade de angariar fundos, não temos receitas de bilheteira, não temos quotização. É difícil, é muito difícil. No entanto, estamos cá para trabalhar e para levar a época, o melhor possível, até ao fim. Mas acaba por desgastar quem anda aqui a trabalhar por amor à camisola, digamos assim, e por paixão pelo clube, sentindo tantas dificuldades.
Confirma que uma parte substancial do plantel esteve infetada pela covid-19?
Sim, foram 13 pessoas. Foi muita gente. Os jogadores quando recuperam da covid-19 e recomeçam os treinos sentem grandes dificuldades ao nível respiratório. Estiveram parados 15 dias e isso afetou a estrutura toda. Mas de quem é a culpa disto? Lá está o denominador comum, a covid-19. É só covid, covid… é uma coisa que desgasta. Neste momento, a nossa preocupação é tentar fazer o melhor e, sobretudo, manter o clube de portas abertas, porque o Moura é um clube histórico, um clube que tem uma boa imagem no futebol português.
Sem público e sem o conforto que os adeptos dão à equipa, mas também sem receitas e, se calhar, com apoios cada vez mais diminutos…
É isso, as dificuldades aumentaram substancialmente, as receitas são praticamente nulas, orçamentámos uma determinada verba que não existe. Os parceiros, os patrocinadores, também atravessam grandes dificuldades e não conseguem contribuir. De quem é a culpa? A resposta é a mesma, da covid-19! Estamos mal classificados? Pois estamos, mas não somos só nós.
A primeira volta não foi muito bem conseguida no plano desportivo, mas perante tantas contrariedades, se calhar, não era possível fazer melhor?
A primeira volta foi como foi, na segunda tentaremos fazer melhor mas, repare, quando no dia de Natal se recebe uma prenda, que foi ter 13 pessoas do clube infetadas com covid-19, imagine como foi essa noite, como foi essa Consoada. Não direi que estamos mal classificados por causa disto tudo mas, no fundo, são fatores que têm muita importância. Normalmente os clubes têm outro rendimento, há um fluxo desportivo, há uma motivação, uma vontade, mas se até a nós ela já começa a faltar…
Mas equaciona desistir? O clube pode inverter esta situação e conseguir a manutenção?
Não! Desistir para mim é impensável. Compreendo as dificuldades, tenho uma máxima que é: as dificuldades motivam-me. Posso estar cansado mas durmo e, no outro dia, fico bom outra vez. O clube está bem organizado financeiramente e, aconteça o que acontecer no campo desportivo, tal e qual como os do Benfica não deixam de ser benfiquistas, quando perdem, e os do Sporting não deixam de ser sportinguistas, eu cada vez sou mais do Moura e estou aqui para dar o meu melhor ao clube, juntamente com quem me acompanha, porque sozinho não faço nada. Reconheço que é muito difícil explicar às pessoas como é que se vive este momento. Desportivamente, nós e a equipa técnica faremos tudo, sem prejudicar o clube, para conseguirmos permanecer no Campeonato de Portugal. Mas se descermos, logo subimos, não haverá problema.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt/
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