domingo, 18 de abril de 2021

Bola de trapos Baiôa, edição de 16/04/2021 no Diário do Alentejo

 

Baiôa e as suas histórias hilariantes
Há histórias desfrutadas em balneários deveras encantadoras! Assisti, recentemente, a uma notícia, que dava conta de um navio encalhado no canal Suez e que impedia a passagem no estreito por parte doutras embarcações. O tema canal Suez cheiro-me a uma história forjada pelo meu antigo companheiro de equipa no Desportivo de Beja e que dá pelo nome de Baiôa. Um homem de Mértola que contava no seu currículo com inúmeras aventuras que deixavam o pessoal vidrado sempre que o Baiôa se comprometia com as suas vendas, não “online” visto que a novel aplicação tecnológica não existia, mas pessoalmente, sendo que um pedido obrigava a um sinal antecipado. A destreza com a qual convencia qualquer um dos seus colegas, ou os enganava, rotulava-o como um homem de negócios, sobretudo quando o dinheiro no bolso escasseava. Vendia roupas e relógios e eis que um dia, no balneário, encomendámos-lhe peúgas e outras peças de vestuário vindas do Egipto, argumentava ele, mas sinalizando o interessado comprador o material encomendado. Só que a encomenda não havia meio de chegar e perguntámos, a dada altura, a razão da demora. Resposta pronta do Baiôa: “Malta, o barco que transportava o carregamento ficou apreendido no canal Suez, por isso a encomenda vai demorar algum tempo”. Claro que a rapaziada, já desconfiada, interrogou-o de várias maneiras, uma vez que se sentia defraudado dos muitos escudos dados como caução. Mas, o Baiôa, nunca dando parte fraca, lá foi ludibriando os seus companheiros, prometendo-lhe que tudo seria ultrapassado desde que o barco capturado no canal Suez fosse libertado. Depois, lá arquitetava uma causa política para o sucedido. O Baiôa era um contador de histórias hilariantes. Houve momentos áureos na sua carreira que levaram clubes nacionais a endossarem-lhe propostas para a sua contratação, como aconteceu com o Sporting da Covilhã, Atlético e Barreirense. Porém, quando nada o fazia prever, sendo o seu nome dado como confirmado na agremiação de Alcântara, pensou em desertar da tropa. E se o pensou melhor o fez. Do quartel de Queluz, onde prestava serviço militar, ao Forte de Elvas foi um passo. Nesse “hotel” andou com barris de água às costas ladeira abaixo, ladeira acima e sob vigia apertada. Num jogo em Évora, quando Suarez era o nosso treinador, defrontámos o Juventude e houve um lance em que eu, lateral direito, ia dividir a bola com um adversário, mas o Baiôa, sempre muito rápido, antecipou-se e no choque entre ambos fraturou um pé. No regresso a Beja fomos dar os
parabéns
ao nosso condiscípulo João Caixinha, que nesse dia tinha casado, e dedicar-lhe a vitória (1-0). A boda teve lugar na quinta do Visconde, Boavista, e o Baiôa, mesmo coxo, “desviou” um peru assado da mesa dos noivos e lá carregou com a ave, “agasalhada” debaixo da sua elegante gabardine branca. Das encomendas e do sinal entregue, nunca mais de nada se soube. Zé Baiôa, uma lenda do nosso futebol!
Fonte: Facebook de JOse Saude

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