Como recrutar e fixar mais atletas nas equipas femininas de futebol foi a primeira reflexão da Federação Portuguesa de Futebol no recém-criado Portugal Footbal Observatory, que aponta os clubes e a melhoria da oferta como determinantes para o crescimento do número de praticantes.
Texto Firmino Paixão
A existência de potencial para crescimento no futebol feminino e a importância da oferta, e dos clubes como fonte de angariação de atletas e para a sua retenção, são as conclusões de um primeiro estudo realizado no âmbito do Portugal Footbal Observatory. O documento revela que o número de praticantes mais do que duplicou na última década. Contudo, apenas, 16 por cento dos clubes nacionais, com futebol, têm atletas femininas e, mais adiante, refere o estudo, apenas um por cento de meninas com idades entre os cinco e os 19 anos são federadas nesta modalidade. A angariação de novas praticantes, conclui-se, deve ter como suportes o gosto pelo futebol, a perceção de competência e o gosto pela competição. O Observatório elenca mesmo estes fatores como determinantes para que uma menina se torne praticante de futebol.
Por outro lado, o crescimento das praticantes tem maior relevância nos escalões mais baixos, nas idades entre os 7 e os 12 anos e assinala-se que a mais elevada taxa de abandono tem maior peso nos escalões de idades mais avançadas, entre os 16 e os 18 anos, concluindo-se pela necessidade de o recrutamento ser efetuado mais cedo, potenciando a manutenção das atletas, através da sua inclusão nas equipas de formação.
Os dados desta análise do Portugal Footbal Observatory, com a temática “Como angariar e reter mais no futebol feminino”, sublinham a importância da quantidade e da qualidade da oferta no processo de recrutamento, apontando os clubes como grandes protagonistas no desenvolvimento do futebol feminino. E é no seio desses clubes que terão que se identificar e contrariar as razões pelas quais as futebolistas abandonam a prática regular ou que, na fase de recrutamento, obstem a que elas, mesmo sentindo-se atraídas pela modalidade, não se vinculem à sua prática regular.
A oportunidade do estudo, aprofundado pelo Observatório da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), reveste-se de particular acuidade neste tempo de pandemia, crise que inevitavelmente provocará a diminuição do número de praticantes, devido ao abandono precoce, e face às incertezas que pairam sobre o presente e sobre o futuro. É aí que se alicerça a importância da qualidade da oferta e, principalmente, o papel dos clubes como fonte de recrutamento e de fixação à modalidade. O documento preconiza a existência de mais clubes a recrutar mais atletas e a formar mais equipas, a implementação de melhores horários para a prática desportiva, treinos e jogos, criando alternativas que não tornem essa prática inconciliável com os compromissos académicos das jovens.
As conclusões consideram mesmo que os clubes são o núcleo central para a angariação de novas praticantes e apontam estratégias para que o recrutamento seja efetuado nos locais que potenciam mais e melhor sucesso, nomeadamente em ambiente escolar e junto de amigos, sendo essencial, também, que os pais gostem de futebol, que percecionem e transmitam a mensagem de quanto o futebol permite desenvolver uma atividade física saudável, simultaneamente com o inevitável processo de socialização.
Segundo os dados revelados pela FPF, reportados à última década, o espaço temporal sobre o qual incidiu esta primeira reflexão do Portugal Footbal Observatory, a taxa de crescimento de atletas do género feminino superou largamente a evolução registada no masculino. Quantificando este crescimento, é revelado que, das cerca de 3437 atletas federadas na época de 2010/2011, atingiram-se as 9662 jogadoras na última época (2019/2020). Uma taxa de crescimento de 181 por cento que, claramente, contrasta com os 17 por cento de crescimento verificado no setor masculino. Uma evolução a que, naturalmente não são alheios os bons resultados conseguidos pela seleção nacional nos últimos anos.
No âmbito da Associação de Futebol de Beja, o crescimento, sendo uma realidade, ainda é irrelevante. Na temporada 2012/2013 existiam 95 atletas federadas na modalidade de futebol de sete (equipas mistas), valor que diminuiu para cerca de um terço quando, na época de 2014/2015 se implantou o futsal feminino, havendo uma clara transferência de atletas de uma disciplina para outra e, provavelmente, pela desistência de algumas equipas. Quantificando, diremos que, em 2014/2015 a AFBeja teve 22 atletas no futebol de sete e 35 no futsal, o que somado resulta numa perda de três dezenas de jogadoras que, na época seguinte, acabaram por regressar, pela via do futsal, registando-se em 2015/2016 um valor total de 86 atletas federadas.
O crescimento, a partir daí, foi gradual e, na época 2018/2019 atingiu-se o número de 122 jogadoras federadas, o que significa uma taxa de evolução de 28 por cento, bem inferior à taxa de crescimento dos atletas de género masculino, que foi de 42 por cento (de 2468 para 3513). As duas últimas épocas, pela excecionalidade da crise sanitária, apresentam números irregulares que podem não reportar a realidade. Em 2019/2020, sem competição, as atletas federadas eram 99, num total de 4095 inscrições. Em 2020/2021 só se inscreveram 27 jogadoras, num total de 1076 federados.
Outro dado importante é o crescimento de equipas, seniores e de formação, ao longo da última década. Na época 2010/2011 existiam em Portugal 24 clubes com, pelo menos, uma equipa feminina na formação, número que cresceu para 73 em 2019/2020 (mais 49 clubes), mas surgiram também 44 clubes com entre duas a três equipas e 10 clubes com mais de três equipas, na mesma área da formação. Nos distritos de Beja e Portalegre o estudo não identifica qualquer equipa nesta área, tão pouco nos seniores. Já Évora está entre os distritos que têm entre quatro a 10 equipas nos escalões mais baixos, mas sem equipas seniores. Cabe aqui recordar que, em passado não muito longínquo, chegou mesmo a disputar-se um campeonato distrital de seniores femininos, sendo também relevante registar o percurso da equipa feminina do Castrense em campeonatos nacionais e, mais recentemente, também o Ourique a seguir o exemplo do emblema do clube vizinho, com a sua equipa a Sub/19 inscrita no nacional de juniores 2020/2021, que não se realizou.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt/
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