Sopram ventos de mudança no território mineiro. Ao regresso dos tricolores ao campeonato distrital junta-se a renúncia dos atuais órgãos sociais ao cumprimento de um novo mandato. O que não muda, nunca se altera, é essa inabalável mística, esse grande amor em redor do Mineiro.
Texto Firmino Paixão
É ponto assente, Rui Saturnino não se recandidata à presidência do Aljustrelense. “É uma decisão absolutamente irrevogável. Não só da minha parte, porque tenho outros projetos pessoais e profissionais, mas também pelo cansaço acumulado por muitos diretores, que servem este clube há décadas”, afirmou o dirigente, que desconhece, também, se já existem movimentações no sentido de ser encontrada uma alternativa.
O Campeonato de Portugal chega amanhã ao fim e o seu mandato também está prestes a concluir-se?
Sim, a época desportiva, para a equipa principal, está realmente a terminar, ainda teremos a equipa bê a competir ao nível distrital, e a direção está a cumprir mais um ano para além do previsto, devido à pandemia, mas estamos realmente a chegar ao fim do nosso mandato.
Gostaria de sair deixando o Aljustrelense no Campeonato de Portugal?
Nunca conseguimos, nem nós, nem outras direções. Basta ver o espelho que são os outros clubes do interior e as dificuldades que têm. Conseguimos, há uns anos, a permanência na II Divisão B, que era um patamar idêntico ao Campeonato de Portugal. Não tem sido fácil, nós tentamos, procuramos alargar as verbas ao máximo, mas as coisas não têm corrido bem no plano desportivo. A concorrência dos clubes, quer do Algarve, quer da Grande Lisboa, é muito forte.
O Rui Saturnino deixa um clube melhor do que encontrou quando assumiu a sua liderança?
Sem dúvida! Apostámos em algumas melhorias, quer na sede, quer no próprio estádio, onde criámos algumas infraestruturas, quase sem custos. Criámos uma sala de imprensa e melhorámos algumas coisas em termos de imagem. Temos uma sede mais agradável. Sonhamos com uma sede nova, mas não nos foi possível, é um processo muito complexo para dois anos de mandato. Também estamos melhor em termos de viaturas e equipamentos médicos e, ultimamente, a Câmara Municipal presenteou o Mineiro e os outros clubes do concelho que usam este estádio municipal com mais balneários, salas para conferências e para a imprensa e lavandarias. Um interessante conjunto de melhorias.
Que marca deixará no clube, que seja uma referência para memória futura?
A marca que identifica este mandato, penso que foi a adaptação aos tempos modernos, aos tempos de um futebol mais profissional que, infelizmente, não conseguimos acompanhar. A marca foi essencialmente trabalho, dedicação e, principalmente, amor pelo clube, porque é isso que eu sinto por este clube, onde, um dia mais tarde, quero voltar.
Já identificou as causas o insucesso que marcou esta época desportiva?
São várias. A culpa primeira é sempre da direção, porque não conseguiu, se calhar, os reforços que permitissem possuirmos uma equipa mais competitiva. Mas a disponibilidade financeira está na base de tudo. Depois, a pandemia, a falta do público, algo que é muito importante para o nosso clube. Tivemos aqui jogos que, com o tal empurrãozinho do 12.º jogador, teriam corrido melhor e teríamos mais uns pontinhos. Depois, tivemos um problema com as expulsões, creio que fomos a equipa com mais acumulação de cartões amarelos e vermelhos do Campeonato de Portugal. Em sete partidas jogámos com menos um jogador e em dois jogos com menos dois. Se já era difícil com 11, assim…
A equipa era indisciplinada?
Não era indisciplinada e até não cometia faltas graves. Mas talvez existisse um pouco de falta de experiência dos atletas.
A direção fez tudo o que estava ao seu alcance para que o Mineiro se mantivesse no escalão nacional?
Garanto que sim e pode questionar os treinadores que por cá passaram. Tudo o que nos foi pedido foi proporcionado. Nunca faltaram recursos financeiros, dentro daquilo que são as nossas limitações. Nunca faltou nada aos jogadores, nem às equipas técnicas.
Não faltaram apoios dos patrocinadores nem da massa associativa?
Não, de modo nenhum. Temos melhorado as infraestruturas, mas o clube fica financeiramente estável. Este ano até nem cobrámos os valores de publicidade junto do comércio tradicional. Tivemos essa consciência e ficou muita verba por receber. Mas temos outros parceiros que têm tido possibilidade de nos ajudar. Os sócios, esses, nunca falham, temos cerca de 700 sócios que pagam a respetiva quotização e, como estamos nos primeiros meses do ano, nota-se a entrada dessas verbas, o que significa que os sócios estão sempre presentes. No estádio não têm podido estar, mas quando são necessários estão cá.
A concorrência também era forte. A Série H, onde o clube competiu, tinha cinco sociedades desportivas com investimentos elevados…
Claro. E com jogadores que praticamente são todos profissionais… no Mineiro, a maioria trabalha em duas fábricas, mineiros já não temos, mas é tudo pessoal que trabalha e que ainda tem de treinar ao final do dia, tem deslocações, enquanto muitos outros plantéis treinam duas vezes por dia. São atletas que só vivem do futebol. E isso é completamente diferente: um jogador estar só focado no futebol e outro que tem a cabeça no seu trabalho diário e tem o ‘hobby’ de vir aqui jogar, apesar de, tudo o que aqui fazemos, acontecer sempre com o mais elevado profissionalismo.
Na próxima época o clube voltará aos campeonatos regionais, mas com objetivo de regressar de imediato?
Isso é cíclico. Não vou pôr-me em bicos dos pés e afirmar que, para o ano, subiremos de imediato, as coisas não assim, mas o Mineiro andará sempre na luta pelos primeiros lugares e na tentativa de regressar o mais rapidamente possível.
O Rui Saturnino continuará a apolar o Mineiro, mas por fora?
Naturalmente, apoiarei como adepto, como sempre fiz, todos os domingos, em casa e fora, e posso até ajudar de outra maneira… não estando aqui presente no trabalho do dia-a-dia, mas sendo necessário para dar alguma opinião, algum aconselhamento, cá estarei. Sem dúvida!
Fonte: https://diariodoalentejo.pt/
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