domingo, 25 de julho de 2021

“Estamos cá em nome do povo alentejano”

 

Uma equipa de jovens corredores, com as camisolas do Almodôvar/Delta Cafés/Crédito Agrícola, pedalou cinco dias pelas estradas da região alentejana, integrada no pelotão da 38.ª Volta ao Alentejo em Bicicleta.

 

Texto Firmino Paixão

 

Uma das formações da Associação SCAV/Sport Ciclismo Almodôvar, clube que faz jus ao epíteto de Almodôvar ser a capital do ciclismo no Alentejo, rolou no Alentejo, como tem pedalado um pouco por todo o País e, ainda no último fim de-semana, cumpriu uma jornada dupla que o levou a Viana do Castelo e a Águeda.

 

Treinada por Fernando Vieira, com Filipe Quinta e Pedro Barão sempre na roda do conjunto, a formação sub/23 almodovarense foi muito combativa na “Alentejana”. Sempre nas fugas, nunca se escondeu, apesar dos jovens andarem entre os mais cotados do pelotão nacional. Raul Ribeiro, Ivo Pinheiro, Ricardo Gil, Daniel Marques, André Santos, Quévin Sequeira e Guilherme Simão, mostraram diariamente a camisola, deram visibilidade aos patrocinadores, à vila e à região.

 

Aliás, é “uma equipa de Almodôvar para o Alentejo”, como referiu o seu diretor desportivo, o alcobacense Fernando Vieira.

 

Como surgiu o Fernando Vieira neste projeto?

Surgi nesta equipa depois de ter sido treinador do Bombarral e a convite do Filipe Quintas, porque ele já tinha corrido comigo no Alcobaça, Foi um projeto de que eu gostei imenso e a minha própria família deu-me força para o abraçar, porque também gostaram muito do Filipe, na altura em que ele lá esteve, e deram-me força para eu vir para tão longe. Tentei fazer a melhor equipa, dentro das possibilidades do clube. O nosso objetivo era estarmos um pouco melhores neste terceiro ano do projeto, mas a pandemia atrasou um bocado a nossa evolução, porque, no ano passado, os patrocínios que conseguimos foram poucos e ninguém se apercebe, certamente, o dinheiro que se gasta com uma equipa sub/23 de clubes.

 

É muito dinheiro, não é fácil sustentar um projeto desta dimensão…

Os nossos patrocinadores também apoiam outras equipas, temos bons patrocinadores, mas também temos a consciência de que, repartindo o apoio por outras equipas, não poderão dar ao Almodôvar aquilo de que nós tínhamos necessidade. De qualquer maneira estamos a fazer o nosso melhor, é o terceiro ano deste projeto, porque o objetivo era andarmos com as elites com mais potência e mais qualidade, para que o povo alentejano soubesse que o Almodôvar já está, há três anos, neste patamar competitivo; a correr com as elites e a fazer provas em sub/23. Há muita gente no Alentejo que ainda nem sabe que esta equipa do Almodôvar existe.

 

A Volta ao Alentejo foi uma excelente montra para este projeto?

Esta Volta ao Alentejo é uma grande competição, e eu sempre pedi aos atletas que procurassem estar bem nesta altura e, na realidade, assim aconteceu, porque em todas as etapas cumprimos os nossos objetivos de participação em fugas. Tenho um lote de ciclistas capaz de lutar por uma boa classificação final em qualquer prova.

 

Qual o verdadeiro potencial desta equipa do Almodôvar?

É uma equipa que eu fui formando, contactando ciclistas, alguns deles pelo telefone, porque mal os conhecia. No final da época anterior também não havia a certeza daquilo que poderia ser este ano a equipa do Almodôvar, mas felizmente conseguiu reunir-se um bom grupo. Uma equipa que, provavelmente, será das melhores que possuímos nestes últimos três anos. É um misto de ciclistas, alguns que já me conhecem há bastante tempo, outros que conheci esta época. Não pode ser uma equipa, apenas, com atletas de Almodôvar, é um misto de corredores nos quais apostámos e que confiam em nós. É esse o grupo que temos, um atleta que veio lá de cima do norte, outros aqui da região mas, na verdade, a maior parte, não sendo da terra, são, efetivamente, naturais do Alentejo.

 

Esta época, a equipa já disputou um interessante conjunto de provas, as últimas foram a Volta ao Alentejo, a Clássica de Viana do Castelo e o Anicolor…

Sim, só não competimos no Grande Prémio do Douro Internacional, porque dois dos atletas não conseguiram dispensa da escola. Tinham testes para realizar, o final do ano letivo estava próximo e não conseguimos realmente participar nessa prova. Mas eu sempre lhes disse que primeiro estão os compromissos académicos e depois o ciclismo, por isso, preferimos estar todos, e bastante fortes, na Volta ao Alentejo. No último fim de semana estivemos em Viana do Castelo e depois tivemos o Grande Prémio Anicolor, em Águeda. Só não faremos a Volta a Portugal, mas estaremos em todas as outras provas com as equipas de elites.

 

A equipa mostrou a camisola e acrescentou alguma combatividade às etapas?

Sim, foi realmente muito bom, porque os ciclistas em fuga conseguiram algumas vantagens interessantes e as escapadas foram duradouras. Quebraram a monotonia das etapas e acrescentaram competitividade à corrida. Sabemos que o objetivo das equipas de elite é anularem as fugas, mas o nosso trabalho é esse, animar as etapas… mostrámos que estávamos ali e valorizámos as nossas camisolas, ao mesmo tempo que demos confiança aos nossos ciclistas que, muitas vezes, têm medo de vir à frente do pelotão. Mas eu tenho-os preparados para o escalão de elite, sei que isso está difícil, as equipas são poucas, mas temos aqui já ciclistas que cresceram muito bem e ganharam muita confiança em si próprios.

 

O projeto da SCAV está estruturado com qualidade e tem futuro?

Olhe, é preciso muito trabalho e muita coragem para criar um clube como é o Almodôvar. Julgo que tenho dado uma boa ajuda, cabe-lhes a eles reconhecer isso, ou não. Tenho muitos anos disto, corri no Benfica entre os 19 e os 27 anos, a partir daí tenho andado sempre em equipas de clubes e formei o Alcobaça Centro de Ciclismo. Tenho conhecimentos para seguir em frente, mas tenho que possuir recursos humanos e, às vezes é essa a dificuldade. O Almodôvar tem que melhorar a qualidade dos ciclistas para nós podermos mostrar aos alentejanos que estamos cá para fazermos o nosso melhor. Quando eu corria no Benfica, já existia uma equipa em Almodôvar, mas andou um pouco esquecida. Queremos recuperar esse tempo, muitos alentejanos não se apercebem aquilo que estamos a fazer pelo Alentejo. Temos criado a equipa a pensar na vila de Almodôvar e na região. Muita gente não se apercebe disso, daí o interesse de termos disputado a Volta ao Alentejo. Estamos cá em nome do povo alentejano.

Fonte:  https://diariodoalentejo.pt

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