Texto Firmino Paixão
Luís Silva, jovem empresário e presidente do Clube de Caçadores do Baixo Alentejo, desde meados de dezembro de 2020, nasceu em Beja há 21 anos. Empreendedor, dinâmico e, sobretudo, inconformado com o que considerou ser a decadência das instalações do Campo de Tiro João Rebelo, nos arredores da cidade, rodeou-se de uma equipa jovem e meteu mãos à obra. Admite: “Nunca estive relacionado com o mundo do tiro. Nem eu, nem ninguém da minha família. O campo de tiro despertou-me interesse exatamente pelo simples facto de ser o dono da terra que fica ao lado e, de há 15 anos para cá, desde que me entendo por gente, ter observado, cada vez mais, a degradação e a decadência destas instalações”.
Segundo Luís Silva, “muitas vezes as pessoas chegavam aqui e o portão estava fechado. Não por culpa da anterior presidência, mas porque não possuíam recursos para fazer diferente. Sem recursos não podiam fazer nada”.
“Como sou criador de gado ovino, tenho um casão, aqui mesmo ao lado, onde tenho as ovelhas, e então consigo ter isto aberto o dia todo, o que me permite ter o controlo que, infelizmente, a gestão anterior não conseguia ter”, acrescenta. Trata-se da sua estreia na área do associativismo, mas também o primeiro contacto com o tiro com armas de caça. “Nunca tinha mexido numa espingarda, nem fazia sequer a ideia do que acontecia neste mundo, porque o tiro é um mundo à parte. Não tinha a mínima ideia das modalidades de tiro que existem”, confessa. O desconhecimento não o impediu de passar à ação: “Tenho vindo a desenvolver algumas coisas interessantes, esta semana até vamos aqui colocar as hélices, que é uma modalidade em que não se atira há algum tempo. Mas temos também o percurso de caça, vamos passar a ter dois, temos cinco campos de ‘trap’5’ e um de fosso olímpico. Se Deus quiser, há de correr tudo bem, embora a aderência das pessoas tivesse vindo a decair, porque o clube tem 900 sócios, dos quais apenas quarenta pagam quotas”.
A sua primeira ideia foi reabrir o restaurante, na perspetiva de que “um dos pontos fortes para o campo permanecer aberto era o funcionamento do restaurante”. E explica: “Com temperaturas a rondar 40 graus, as pessoas vinham aqui atirar e não tinham ninguém que lhe servisse sequer uma água fresca, como umas instalações incríveis como estas que o clube possui. Vim abrir o campo de tiro, mas não tinha a mínima perceção do que realmente isto era, nem de quantas pessoas aqui vinham”.
Abriu em agosto de 2020 e, para dezembro do mesmo ano, estavam marcadas eleições de novos corpos sociais. Foi esse o clique que despertou em Luís Silva: “Antes das eleições disse à Ana Paula Inácio (anterior presidente do clube) que gostava de me candidatar à presidência. Como a Ana Paula já tinha feito seis anos de mandatos e estava um pouco cansada, porque ser mulher, neste mundo, é ainda muito ingrato, é um mundo ainda muito gerido pelos homens… mas a Ana Paula fez muito pelo clube, faltavam-lhe recursos, como já referi, e então era muito complicado levar isto para a frente”.
Uma vez associado do clube, tomou a decisão de se candidatar. “Senti que seria bom para o clube, porque eu seria a única pessoa que, neste momento, poderia dar algum desenvolvimento a estas instalações. Posso dizer até que, se calhar, no dia em que tomei posse ninguém queria ser presidente do clube, mas se eu amanhã sair já existem candidatos. O trabalho tem sido ‘tirado a ferros’ e já tivemos algumas contrariedades, nomeadamente os quatro fossos inundados no mês de fevereiro, porque não existia drenagem, que através dos anos se foi obstruindo. Temos necessidade de outras obras de beneficiação, mas temos que ir devagar, porque o dinheiro não é muito. Com dedicação tudo se consegue”.
O seu mandato, acrescenta, “será para dar continuidade aos pontos bons que vinham do passado”. Ainda assim refere: “Serei certamente 20 vezes melhor do que os mandatos anteriores, até porque tenho ouvido sempre dizer que a cria supera sempre o criador, e isso é tudo na minha vida”.
Sobre o passado recente do clube, Lui Silva, comentou: “Não estava ainda por cá, mas tinha conhecimento do que se passava. Acho que o que faltou no mandato anterior foi a presença, como hei de explicar isto… o porco só engorda com o olho do dono; a Ana Paula, infelizmente, não conseguia estar presente a 100 por cento, conseguiu fazer mil e uma coisas, mas também tinha a sua vida empresarial que não podia descurar”.
Virada essa página, o jovem dirigente garante: “Estou cá porque cresci aqui ao lado, porque vi que a decadência disto era cada vez maior, quis reverter o que estava acontecendo e quis melhorar, mas foi um gosto meu. Se me perguntar se eu, no ano passado, soubesse pelo que ia passar me arrependeria, diria que não, porque só me arrependo do que não faço”.
Instado a deixar um breve balanço destes primeiros meses de mandato, o presidente admitiu: “Podia ter sido melhor. Mas repare que, para além da quebra de associados nos últimos seis anos, temos que realçar que em Beja existem poucos atiradores. Não há dinheiro, o tiro sempre foi um desporto para quem podia, nunca foi para quem queria. Esta é a verdade. E, depois, também já morreram muitos dos antigos associados. Eu já trouxe mais alguns sócios novos. A maior referência que aqui temos ainda é o João Rebelo que, mesmo já retirado do mundo do tiro, ainda vem cá muitas vezes. Sempre que privámos, deu-me imensos conselhos para a gestão deste espaço, mas temos outros sócios mais antigos que também vão ajudando”.
Será que Luís Silva quer deixar a sua marca no clube? “Deixar a minha marca quando sair daqui? Eu não tenho a intenção de sair de cá, porque já que me meti nisto, não abandono. Estou aqui para trabalhar em prol do clube”. Trabalhar e com absoluta confiança no futuro, aliás, expressa na afirmação do dirigente: “Tudo o que não me destrói, só me fortalece”.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt
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