sábado, 7 de agosto de 2021

Perfil de Miguel Baião: “Nasci com uma bola de andebol nas mãos”

 

Texto Firmino Paixão

 

Miguel Baião, andebolista do Centro de Cultura Popular (CCP) de Serpa, nasceu em agosto de 1992, mas não será de todo despropositado afirmar que tem tantos anos de andebol como de existência. “Posso (quase) dizer que nasci com uma bola de andebol nas mãos. Aos cinco anos comecei a jogar nos bâmbis, mas já antes acompanhava o meu pai nos treinos dele”. Para se definir, o atleta, filho de António Baião, referência do desporto serpense, diz que lhe faltam palavras: “Teria de abrir o livro para responder a essa pergunta, fico-me por me descrever como um grande guerreiro da vida, sou um rapaz simples, humilde e divertido”.

 

Teve a sorte de crescer num concelho onde o movimento associativo desportivo (e cultural) é rico e diversificado na oferta. Jogou futebol e andebol, mas foi, obviamente, pelo andebol que decidiu construir a sua carreira desportiva. Ainda assim opina: “O importante é que os miúdos pratiquem algum desporto. Eu, por exemplo, adorava tanto o futebol como o andebol, mas acabei por escolher o andebol, porque achei que tinha mais aptidão para essa modalidade. Depois, o facto de o meu pai ser treinador fez com que me inclinasse mais para esse lado. Mas no futebol era avançado e também fazia muitos golos”.

 

Quanto ao mérito da modalidade que pratica e na hipótese, naturalmente remota, de nos convencer a praticá-la, Miguel Baião, põe a tónica na atividade física e não, exclusivamente, na modalidade: “Não é só o andebol propriamente dito, mas sim a prática desportiva continuada [que é importante]. O desporto consegue equilibrar-nos, em termos de estabilidade emocional. Faz-nos sentir bem e liberta-nos da pressão diária. Se falasse para uma criança, teria de lhe incutir que o andebol é um jogo alegre e divertido, onde fazemos vários golos e defendemos muitas bolas para, no final, termos o melhor resultado possível, preferencialmente a vitória, mas sabendo, também, aceitar a derrota”.

 

Miguel Baião tem 29 anos, 23 dos quais consumiu-os jogando andebol no CCP de Serpa. Um percurso interrompido por quatro épocas em que esteve na Zona Azul, de Beja, primeiro no Nacional da I Divisão de juvenis, mais adiante nos juniores/seniores, mas lutando pela promoção ao escalão superior. Desafiado a autoavaliar-se como atleta, foi pragmático: “Considero-me um bom jogador de andebol”. É efetivamente assim, é um atleta que pode acrescentar sempre mais em outros planteis. A sua qualidade global mas, sobretudo, a capacidade de finalização, até lhe teriam permitido chegar mais além, atingir outros patamares, mas o atleta reconhece nunca ter saído para clubes de outra dimensão “devido a problemas de mentalidade”. E explica: “Tive algumas oportunidades, ainda me recordo de estar na praia e o Belenenses, em duas épocas seguidas, ligar para o meu pai, perguntando o que era feito da minha vida, mas, na altura, não estava preparado para ir viver sozinho para Lisboa, longe disto”.

 

Contudo, o facto de ter ficado “agarrado” ao torrão natal, não lhe diminuiu as emoções e os momentos mais marcantes da carreira. Um dos exemplos foi o título de campeão nacional da II Divisão, em iniciados. “Foi um momento fantástico”, recorda, sem esquecer que ter sido considerado o melhor lateral esquerdo da III Divisão Nacional de seniores. “Também me ficou na memória como um momento de glória, tal como a recente promoção à II Divisão Nacional”.

 

No momento de eleger, ou nomear, treinadores que mais influenciaram o seu crescimento como atleta, garante que todos eles “tiveram sempre algo para oferecer em termos de aprendizagem”. Ainda assim, por isto ou por aquilo, individualiza alguns: “A Manuela Pepe que me ensinou muitas coisas, a base foi com ela; o Carlos Guerreiro (na Zona Azul) fez-me ver que nem sempre aguentaria tanto tempo no ar para rematar à baliza em remates exteriores, e passei a treinar remates mais rápidos/explosivos; o Joaquim Coelho, na seleção de iniciados, ensinou-me movimentos de jogo, O Manuel Ramos ensinou-me um pouco mais dos movimentos defensivos, o que me complementou como jogador. E o meu pai, claro, também me proporcionou bastantes ensinamentos, foi durante vários anos meu treinador”.

 

E será fácil ser atleta e ter o pai como treinador, como em muitos momentos lhe aconteceu? “Bom, na verdade, o nível de exigência para comigo era maior do que com os outros atletas, não em termos de jogo ou de treino, mas noutras situações, além de que ele sabia melhor do que ninguém a minha maneira de ser”.

 

Mais ou menos realizado com o seu percurso, reconhece que, em certos momentos, podia ter dado um passo mais largo. “Aconteceu o que que tinha de ser. Neste momento aceito totalmente isso, já houve tempos que me custou, mas posso afirmar que estou orgulhoso pelo que fiz no andebol. Com tantas dificuldades que passei, sem quase ninguém perceber, nunca virei a cara à luta e sempre dei tudo de mim. Nunca devemos desistir de nós próprios, mesmo se estivermos em dificuldades”.

 

O percurso académico foi levado até à licenciatura em Educação e Comunicação Multimédia, mas recorda que, na juventude, sempre teve dúvidas sobre a carreira que pretendia seguir. “O que me foi transmitido pelos meus pais foi que a vida nem sempre era fácil e que, para termos sucesso, teríamos de nos dedicar a ela. O meu pai, sobretudo, sempre me transmitiu que os estudos seriam uma coisa muito importante para a vida, era mais um trunfo para atingirmos os nossos objetivos”. Quanto ao futuro e aos projetos que estão no horizonte, Miguel Baião confessa: “Adoro estudar a parte mental, conhecer o cérebro ao seu mais alto nível. Estou, neste momento, a fazer um curso de terapeuta educacional no Instituto Anna Mikii, em Lisboa, virado para o desenvolvimento pessoal e para as componentes físicas e mentais do ser humano. Tenho como sonho, quem sabe, criar algo na região para ajudar as pessoas a superar as suas dificuldades (ansiedades, crises de pânico, medos, etc.). No plano desportivo, desejo recuperar bem da lesão no joelho para poder continuar a divertir-me e ter o máximo de sucesso individual e coletivo, numa das coisas que mais gosto de fazer… jogar andebol”.

Fonte:  https://diariodoalentejo.pt/

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