sábado, 20 de novembro de 2021

Bola de trapos, edição de 19/11/2021 no Diário do Alentejo

 

José Saúde
‘Fair-play’
Afirmo com a maior das sinceridades que o maravilhoso mundo das crianças sempre me fascinou. Elas, as crianças, são sinceras, o intuito da maldade está fora da sua órbita comportamental, nelas não prolifera a maldade, praticam desporto livremente e o adversário é visto como um amigo com o qual partilha emoções extracompetição. Conheço esta forma de disputa entre crianças com uma bola saltitante onde o resultado final é, tão-só, uma sobremesa de múltiplas sensibilidades. No desfecho da cândida partida os miúdos cumprimentam-se, a assistência aplaude e o esforço da miudagem é compensado por uma chuva de palmas. Creio que um jogo entre jovens, onde as suas idades são de carácter bastante inferior, apresenta-se como um espelho de como se deverá gerir um entretenimento que tem como principal incumbência apresentar-se como digna e, sobretudo, no saber interagir cordialmente com o próximo. Sim, é a infantilidade das crianças que nos coloca num infindável universo onde as barreiras do clubismo ali não têm lugar. O futebol de formação sempre mexeu com o meu ego. Talvez que aqui coloque, com meritíssima dignidade, o meu espírito próprio quando aos 13 anos comecei a jogar nos juvenis do Despertar, e com rapazes mais velhos, existindo entre nós uma indubitável amizade. Prevalecia o sentimento puro da estima. Revejo, por isso, os encontros que hoje se nos deparam quando assistimos aos jogos dos pequeninos, não obstante a jornada contar para o calendário que a prova contempla, e proclamamos o ‘fair-play’ visualizado no interior e fora das quatro linhas. Recentemente tive o privilégio em assistir a um jogo de miudinhos, onde ressaltou a fraterna camaradagem entre as crianças, mas, essencialmente, a maneira como o árbitro, Jorge Sousa, dirigiu a partida. O juiz de campo, tal como muitos dos seus companheiros incumbidos nas lides da arbitragem, foi infatigável: ora ajudando os jovens jogadores na sua conduta em campo, transmitindo-lhes, também, profícuos ensinamentos, a exemplo aliás dos seus meritíssimos treinadores; ou a forma como a bola deveria ser reposta em jogo num lançamento de linha lateral; ou atando as botas de um jovem que, entretanto, se deparou com esse problema, ou seja, o seu desatar; ou como o guarda-redes deverá orientar a barreira num livre; ou explicanda a razão como a falta foi cometida; ou levando ao colo um menino que não se terá sentido bem fisicamente, entregando-o num outro colo, o do seu treinador, que gentilmente agradeceu a sua compreensível atitude. É verdade, e isso é indesmentível, que o árbitro é um ser humano que nunca deverá ser visto como um inimigo, mas sim como um mero interveniente no jogo. Nesta perspetiva, é justo que o afirme que Jorge Sousa mereceu, tal como todos atletas, treinadores, dirigentes e público em geral, o troféu de ‘fair-play’. Para a história ficará a singela postura de todos ao longo do desafio.

Fonte: Facebook de JOse saude.

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