O Instituto Português do Desporto e da Juventude aprovou e galardoou com a certificação da Bandeira da Ética uma candidatura apresentada pela Câmara Municipal de Almeirim sob a sigla “Os pais de desportistas são pais responsáveis”. O tema não é novo, mas a sua importância é intemporal e está ancorado a diferentes fatores de enorme relevância.
Texto Firmino Paixão
O projeto apresentado pelo município ribatejano já data de meados do ano de 2020, mas o assunto foi, muito recentemente, recuperado pelo diário “Correio da Manhã”, na sua edição de 22 de dezembro findo, e suscita variadíssimas reflexões. O Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED), criado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), é uma iniciativa que pretende divulgar e promover os valores éticos, assumindo-se como “uma missão preventiva e educativa, destinada a entidades que promovem atividades desportivas e a estruturas ligadas, direta ou indiretamente ao desporto, como clubes, federações, associações, escolas, autarquias, comunicação social e prisões, tendo como público-alvo crianças, atletas, dirigentes, treinadores e árbitros, entre outros”, como se lê no preâmbulo do plano que, adianta, “consiste num conjunto de iniciativas que visa promover e disseminar a ética e os valores inerentes à prática desportiva, tendo os seus objetivos”, enquadrados em cinco eixos estratégicos: formação/educação; prática desportiva/eventos; publicações, investigação, tecnologias da informação e comunicação; concursos e campanhas.
O projeto “Os pais de desportistas são pais responsáveis” vem, aliás, de encontro a um conjunto de regras definido pelo próprio IPDJ quando assume que “a maioria dos pais tem um papel relevante no contributo que dá para criar um ambiente agradável de prática desportiva. Contudo, existem outros que, mesmo sem ser intencionalmente, ajudam antes a criar um ambiente de tensão, que favorece a violência no desporto”. Nem mais! Infelizmente esse tipo de comportamento é cada vez mais comum em redor dos recintos onde decorrem eventos desportivos, principalmente, jogos de futebol.
E que tipos de pais são esses? O PNED identifica-os como sendo “pais que gritam muito, pais que apoiam em excesso, pais treinadores, pais que gostavam de ter sido atletas e pais que não ligam nenhuma”, elegendo e privilegiando, naturalmente o tipo de pais que “centram a sua atenção no esforço do jovem e não no desempenho, pais que respeitam e agradecem ao treinador, aos árbitros e aos adversários, pais que são apoiantes positivos e têm sempre presente o papel que desempenham quando estão a ver a competição dos filhos”.
Voltando ao projeto com a assinatura do município de Almeirim, sublinha-se a singularidade de ter sido uma autarquia a autora de uma iniciativa de tamanha importância social, apesar de estas entidades serem elegíveis no conteúdo do PNED. A candidatura da autarquia ribatejana começou a ser delineada decorria o ano de 2018, após os incidentes verificados na Academia do Sporting Clube de Portugal, em Alcochete, em que algumas dezenas de presumíveis adeptos invadiram as instalações, para encetarem atos de violência contra os jogadores leoninos, noticiou o diário “Mais Ribatejo”, em 2020, citando, também, que o autarca Pedro Ribeiro: “afirmou que, desde o lançamento do projeto, foram realizadas reuniões de sensibilização com federações, associações e clubes, e destes junto de pais, treinadores, jogadores, sublinhando o facto de alguns dos clubes terem inserido nos seus regulamentos internos as regras preconizadas e que preveem penalizações a maus comportamentos, que podem ir de advertências a expulsões”.
Valorizando a temática da sua candidatura, o município de Almeirim procedeu à emissão e distribuição de milhares de folhetos com o tema “O seu comportamento/gera comporta- mento “, alertando para o facto de a prática de atos de incitamento à violência e à intolerância nos espaços desportivos ser objeto de multa”.
“Se o desporto ao mais alto nível não dá o exemplo, então é tempo de os pequenos clubes e associações desportivas, que são o verdadeiro garante do desporto para todos, se mobilizarem. A Câmara dará também esse exemplo, incentivando ou penalizando. É tempo de mudarmos mentalidades e comportamentos”, escreveu o autarca socialista nas redes sociais, na altura. Com a segunda fase do projeto em andamento, o município de Almeirim decidiu punir, com multas, a linguagem obscena e outros comportamentos grosseiros durante as competições desportivas, quer sejam feitos por pais ou outros adeptos, fora ou dentro das quatro linhas. “A medida foi acordada com a Guarda Nacional Republicana”, destacou o “Correio na Manhã”, sublinhando que “no ano em curso, as asneiras nos jogos vão dar multa. A lei existe e prevê multas de centenas de euros, pelo que é tempo de a aplicar”, explicou o presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro, que decidiu acelerar o regulamento após o jogo Benfica do Ribatejo-GD Rebocho, interrompido ao intervalo após ter sido lançado um petardo para dentro do balneário dos árbitros. “Infelizmente temos assistido à generalização de uma linguagem imprópria que em nada dignifica o desporto”, referiu o autarca.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt
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