Dia 13 de novembro de 2021, Estádio Municipal de Castro Verde. Na partida entre FC Castrense e Odemirense no escalão de Benjamins, o árbitro marcou (erradamente) uma falta favorável à turma do Alentejo Litoral. Contudo, por indicação do seu técnico, José Maria Rodrigues, os pequenos odemirenses acabaram por devolver a bola, através da jogadora Filipa Rodrigues, aos seus adversários.
Duas semanas depois, a 4 de dezembro, em Boavista dos Pinheiros, o treinador dos Benjamins do Odemirense voltou a reconhecer que uma falta a favor da sua equipa tinha sido mal assinalada, informando disso mesmo o árbitro, que veio a alterar a sua decisão em benefício da formação local.
Estes exemplos de verdadeiro fair-play acabaram por valer a José Maria Rodrigues, em ambas as situações, e à pequena Filipa Rodrigues, no caso da partida em Castro Verde, a “admoestação” com o cartão branco, criado em parceria pelo Instituto Português do Desporto e Juventude e pela Confederação das Associações de Juízes e Árbitros de Portugal para “enaltecer condutas eticamente corretas, praticadas por atletas, treinadores, dirigentes, público e outros agentes desportivos”.
Para José Maria Rodrigues, estes foram momentos simbólicos, sobretudo pela mensagem transmitida “aos miúdos”. “Trabalho para tentar incutir neles valores que mais tarde se reflitam no seu crescimento enquanto seres humanos e enquanto atletas”, afirma ao “CA” o técnico de 35 anos, militar da GNR de profissão e que como futebolista amador representou, entre outros emblemas, Odemirense, Renascente de São Teotónio ou Desportivo de Beja.
Uma satisfação acrescida pelo facto de também a sua filha ter sido “admoestada”. “Fiquei orgulhoso, claro! Mas fiquei por ela como ficava com qualquer outro atleta meu”, diz José Maria.
Mas não se pense que o gesto praticado pelos Benjamins do Odemirense em Castro Verde e, depois, em Boavista dos Pinheiros foram casos inéditos na equipa. “Já houve mais jogos em que fiz o mesmo, mas não jogo para cartões brancos”, conta o técnico entre gargalhadas.
“O que tento é ser o mais justo possível e [esta atitude] não foi para me beneficiar em nada, mas mais para ajudar o árbitro”, que é “muitas vezes desvalorizado” apesar de ter “um trabalho que não é fácil”, conta.
Por isso mesmo, continua, “se nós não os ajudarmos – treinadores, jogadores, os próprios adeptos – complicamos o melhor que há, que é o jogo”, pois “chega-se a um momento em que se discute mais do que se joga”.
Na opinião de José Maria Rodrigues, nos escalões iniciais da formação são valores como o desportivismo ou o respeito pelo adversário que se devem sobrepor a tudo o resto, nomeadamente à “obsessão” pela vitória.
“Sou treinador sem curso e tenho muitos colegas com curso que preocupam-se demasiado com os resultados, passando além daquilo que deve ser o desporto nestas idades, que é eles divertirem-se e respeitarem os colegas. E a mensagem tem de partir de quem os lidera”, afirma convicto, para logo acrescentar: “Chegará uma altura em que o resultado também vai contar. Nessa altura que lutem pelo resultado, mas que sejam justos e haja fair-play”.
A interiorização destes “valores”, continua José Maria, começa nos treinos, “principalmente com o cumprimento de regras”. “Os miúdos têm de ser também responsabilizados, até porque como pai acho que nestas idades [as crianças] devem ter responsabilidades, para depois seguirem com essa noção para o futuro”, diz.
Ainda assim, o treinador reconhece que nem sempre é fácil “lidar” com pressão externa à equipa. “É bastante difícil, porque tivemos uma altura em que todos queriam ser pais de Cristianos [Ronaldos] e isso tornou difícil a gestão dos treinadores”, afiança, reconhecendo que a Covid-19 veio alterar esta realidade… para melhor.
“Sinto que há uma mudança de mentalidade” e a pandemia “ajudou um pouco”. “E o facto de os pais não poderem estar tão presentes nos treinos e nos jogos também ajudou, deixando os miúdos mais livres e mais soltos para fazerem o que gostam, que é divertir-se”, conclui José Maria Rodrigues.
Fonte: https://correioalentejo.com
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