“Há sempre sonhos por concretizar e o meu, provavelmente, será algo em comum a todos os que andam nisto. Sei que será muito difícil, senão impossível, mas nunca se deve descartar, e um dia, sabe-se lá, se não conseguirei competir nos Jogos Paralímpicos? Tentei na edição anterior e, infelizmente, não consegui. Foram os mais fortes e acho que fomos bem representados pelo Telmo Pinão e pelo Luís Costa, Vamos ver se irei a Paris, reconheço que será difícil, mas nunca deixarei de tentar”.
Texto Firmino Paixão
A camisola listada com as cores nacionais não lhe pesa, responsabiliza-o, dá-lhe motivação para novas e melhores conquistas, “é uma camisola que traz responsabilidades acrescida”, garantiu Flávio Pacheco, um ermidense que sofreu a amputação de um membro inferior, infelicidade que o projetou para uma carreira desportiva de sucesso.m sonho legítimo. Quem, nos últimos cinco anos tem renovado, consecutivamente, o título de campeão nacional de paraciclismo, na classe H4 (handbike deitado), quem já a conseguiu um 11.º lugar na abertura da Taça do Mundo, um 13.º no contrarrelógio mundial, um 16.º na Taça do Mundo, uma vitória no contrarrelógio na “Extremadura European Cup” em paraciclismo, disputada, em Cáceres, porque não poderá sonhar com um lugar na seleção que disputará os próximos Jogos Paralímpicos “Paris/2024”?
Os Paralímpicos de Paris estão efetivamente no seu horizonte, diz mesmo que será a sua última oportunidade para concretizar o sonho, mas antes ainda tem muitos compromissos internacionais, a partir deste mês de maio. “Competirei nas taças do mundo na Bélgica e na Alemanha, no campeonato europeu, na Áustria”, por isso, os objetivos mais imediatos estão identificados. “O principal foco é o campeonato europeu, é manter-me no alto rendimento e na seleção nacional mas, como é óbvio, quero também manter os títulos nacionais e renovar a conquista da Taça de Portugal, mas sim, o objetivo principal é realmente campeonato da Europa”.
O apuro de forma é uma preocupação constante, até porque, sublinhou, “as expectativas são elevadas, mas tenho que lutar, no mínimo, por um lugar entre os melhores oito, sabendo que será mesmo muito difícil, porque os meus adversários, holandeses, belgas, são muito fortes, mesmo muito fortes. Tenho a noção de que será muito difícil, mas estou cá para essa luta, porque os percursos também me favorecem, mas também é preciso uma pontinha de sorte, como em tudo na vida”.
Sobre as exigências da classe em que concorre, adianta que “em termos de concorrência, a classe H3 é mais participada, são muitos atletas, mas em termos de competitividade creio que, neste momento, a classe mais forte é mesmo a H4, daí eu estar a dizer que será muito complicado classificar-me entre os primeiros oito. Poderá ser muito à tangente derivado aos circuitos do campeonato europeu serem a meu gosto, muitas subidas e muita dureza, como eu gosto e isso pode dar-me algum alento e esperança de o conseguir, porque se fossem percursos mais planos, seria mais complicado para mim, mas, tendo em conta os percursos que nos esperam, tenho esperança numa boa classificação”.
Flávio Pacheco representa o Grupo Desportivo de Santa Cruz, uma coletividade do seu concelho, contudo, em passado recente foi atleta do Sporting Clube de Portugal. “Saí após a mudança na direção do Sporting. O presidente Frederico Varandas deixou de apostar no desporto adaptado, como acontecia com o executivo anterior. Acabei por sair, tal como o Luís Costa, que também estava no Sporting. Seguiu cada um o seu destino, o Luís foi para Portimão e eu fui para Almodôvar, depois veio a pandemia e praticamente não tivemos provas, e então, acabei por sair para o Santa Cruz”.
Pelo segundo ano a representar o emblema do seu concelho, confessou que “Estou feliz por aqui estar, às vezes é melhor dar um passo atrás para, de seguida, darmos dois em frente, é tudo uma questão de gostarmos do que fazemos. Mas gosto muito de estar no Santa Cruz, praticamente é a minha terra, é tudo boa gente, é um clube que me diz muito, estão sempre prontos a ajudar. Infelizmente, os pequenos clubes não têm muitos apoios institucionais mas fazem o que podem e estou muito contente por os representar”. Mas a maior felicidade provém também deste palmarés desportivo que tem conseguido. “Estou muito feliz! O desporto é para todos, corri um risco que me podia ter custado caro, deixei de trabalhar para me dedicar 100 por cento a esta modalidade, estive três anos sem trabalhar, consegui entrar na seleção nacional e obter o estatuto de alto rendimento, que me deu alguns benefícios para poder competir. Há cerca de um ano voltei a trabalhar, e agora trabalho e pratico desporto. O desporto é muito saudável, toda a gente deve praticar desporto, não é por termos um azar na vida, sofrer uma amputação numa perna, como eu sofri, num braço ou por sermos paraplégicos, que achamos que a vida acaba por aí. Temos soluções para tudo, é uma questão de as pessoas experimentarem e, se gostarem, devem continuar, quem não quiser competir pode fazê-lo apenas por lazer”.
É uma questão de escolha, afirmou Flávio Pacheco, um alentejano corajoso, determinado e predisposto a vencer. “Claro! O desporto tem-me dado muitas alegrias mas também algumas tristezas e frustrações. É como em tudo na vida, às vezes, perde-se por incapacidade, aceitamo-lo, outras vezes perdemos por erros infantis, como já me sucedeu. Já me aconteceu, ao mais alto nível, na seleção nacional, cometer um erro infantil, consegui remendar o caso nas provas seguintes, mas sim, direi que tenho acumulado 95 por cento de alegrias e cinco por cento de tristezas. Tenho um grande apoio da família, quando estou nas provas sinto-me em casa, a família e os amigos são, sem dúvida, os meus maiores fãs” concluiu.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt
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