sábado, 25 de junho de 2022

João Daniel Rico analisa a época bem-sucedida no comando do Serpa

 

A sorte dá muito trabalho
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

João Daniel Rico, o jovem treinador que liderou o histórico processo de manutenção do clube no Campeonato de Portugal, continuará, na próxima época, a liderar da equipa técnica, com objetivos bem definidos.

 

Texto Firmino Paixão

 

 

O objetivo principal, assumiu João Daniel, “é estabilizar o clube no patamar nacional, crescendo, reestruturando e valorizando todo o seu universo, ou seja, nivelando o Serpa pelos lugares mais acima para que o clube continue a ribalta e seja falado no país, apesar de estarmos no Campeonato de Portugal”. Quanto às escolhas para a próxima temporada, deixou já perceber que “O plantel será ajustando, sem que se prevejam muitas mexidas, porque, pela perceção que temos, todos os jogadores gostariam de continuar no clube, algo que não é muito normal, e alguns deles com convites para outro tipo de contextos a dizerem-nos ‘sou muito feliz aqui e não quero ir embora’. Esta época deixou uma marca emocional muito forte nos jogadores pelo respeito e carinho com que foram tratados”, sublinhou João Daniel.

 

Já recuperou das emoções daquele minuto final do jogo entre o Serpa e o Barreirense?

Sim, o momento foi primeiro de tristeza, depois de alegria, logo a seguir. Tristeza por ver o trabalho de toda uma época ir pela água abaixo, uma época que não começou comigo, mas em que o trabalho de todos concorreu para que conseguíssemos atingir o objetivo principal que o clube tinha, a manutenção no Campeonato de Portugal. Sabíamos que ao irmos para o último jogo ainda com as coisas em aberto, o adversário não nos iria dar as coisas de mão beijada.

 

Marcaram primeiro e ficaram em vantagem, mas o empate até seria suficiente…

Marcámos um golo cedo, que nos podia ter tranquilizado, mas não aconteceu. O adversário também fez pela vida, lutou muito e fez um bom jogo. O empate seria um resultado justo e era esse o resultado que se verificava aos 93 minutos, depois de o árbitro ter dado quatro minutos de compensação. Tínhamos a posse da bola, perdemo-la, e o Barreirense marcou o segundo golo, faltando não mais do que trinta segundos para jogar. Fiquei sem reação ao ver o desespero dos nossos jogadores, passou -me muita coisa pela cabeça. Enfim, naquele momento pensei que estaria tudo acabado, mas os jogadores ainda acreditaram, tiveram fé, aliás, superar situações adversas foi sempre o mote da nossa equipa. Veio depois o lance final, em que o adversário comete o penálti e, sublinho a frieza necessária do jogador que marcou a grande penalidade e repôs o empate a nossa manutenção.

 

Vivências, momentos de incerteza e de múltiplas emoções, que contribuem para o crescimento de um treinador?

São momentos que nos marcam. Provavelmente se, no futuro, nos deparamos com uma situação idêntica, já vamos ter aquela crença de perceber que, enquanto o árbitro não apitar o jogo não acabou, esse é um aspeto. O segundo, que é absolutamente ao contrário, será a eventualidade de termos uma situação adversa em que toda a gente esteja a pensar que estará consumada, termos que usar dessa determinação, dessa vontade em virar as coisas a nosso favor. Mas isto não se conquista com palavras, conquista-se com trabalho. Costuma dizer-se que a sorte dá muito trabalho e eu acho que tivemos um pouco de sorte na forma como conseguimos desenvolver aquele lance que nos dá o penálti e o golo.

 

Sobretudo porque os jogadores acreditaram…

Sim, tudo isso resulta de uma crença que os jogadores desenvolvem dentro de si próprios, porque há momentos em que o treinador não é ouvido, nem há palavras de motivação que possam mudar nada. Eles terão que possuir essa crença, e os meus jogadores tinham-na. E porquê? Pela forma, sempre em ascendente, com a parte final da época correu. Porque perceberam que o clube tinha muito este objetivo, o clube precisa de estabilizar nos campeonatos nacionais para possuir uma projeção diferente no futuro. Perceberam que o clube nunca lhes falhou com o que quer que fosse, tudo a tempo e horas, com uma organização ímpar, dentro das contingências de um clube de uma região do interior. Disse-lhes muitas vezes que, mais do que pensarmos em nós próprios, teríamos que valorizar todo o esforço, todo o sacrifício, que as pessoas do clube estavam a fazer para contribuírem para toda essa normalidade. E eles sentiram necessidade de justificarem a aposta que o clube fizera neles próprios, enquanto atletas do Serpa. Essa foi uma mensagem importante que fomos sempre passando. E depois também olharmos para um estádio cheio de adeptos a puxar por nós e a incentivar-nos. Ninguém ganha nada sozinho.

 

Qual o fator que considera determinante para que a equipa tenha conseguido o objetivo?

O fator determinante foi fazer os jogadores acreditarem numa mensagem. Quando cheguei, vi uma equipa desmoralizada, algo natural quando não se consegue ganhar. Mas atenção que o Serpa chegou até à quarta eliminatória da Taça de Portugal, portanto, é sempre de valorizar o que foi feito anteriormente e não dizer que, com o João Daniel foi uma coisa, e com a equipa técnica anterior, tinha sido tudo mau. Não! Nada disso, não é esse o caso. Quando cheguei pedi que não pensássemos já em vitórias, mas que pensássemos em ser competitivos, porque os bons resultados seriam uma consequência disso mesmo. Isso foi acontecendo progressivamente e esse foi o clique para os jogadores acreditarem mais nas suas capacidades. Claro que tivemos alguns reforços que foram importantes mas, em muitos jogos, oitenta por cento era a equipa que lá estava desde o início da época. Os resultados foram aparecendo e, a certa altura, todas as equipas começaram a olhar-nos de outra forma. A equipa ganhou uma crença e um espírito de grupo fantástico e isso foi realmente determinante.

 

O clube já anunciou a sua continuidade na próxima época desportiva. Se calhar, com alguns ajustes no plantel?

Sim, fechámos as coisas logo que a época terminou. Já havia uma ou outra conversa informal a que eu não quis dar sequência enquanto as coisas não estivessem definidas. Mas foi muito simples o consenso de que todas as partes iriam ficar felizes, se continuássemos o projeto em conjunto. A vida de treinador também tem momentos em que nos chegam convites irrecusáveis, mas a direção do clube sabe que, se isso acontecer, teremos que avaliar. Agora, o projeto do Serpa é aliciante, naturalmente que teremos que possuir uma equipa competitiva. Não queremos passar pelo sofrimento que aconteceu esta época.

Fonte:  https://diariodoalentejo.pt/

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