sexta-feira, 27 de março de 2020

Bola de trapos, edição de 27/03/2020 no Diário do Alentejo

José Saúde
O “tio” Firmino
Timoneiro de um mítico balneário, o “tio” Firmino, vulgo “Xaxinha”, foi um jogador de eleição ao serviço do Luso Sporting Clube, mas o seu nome ficará para sempre lembrado como o roupeiro do Desportivo de Beja. Divagando sobre pequenas histórias passadas, viajamos pelas melodiosas ondas do tempo e numa expedição por outras eras, constatamos que a evolução desportiva é, de facto, imensurável. A época de 1932/1933 estava prestes a iniciar-se e a 12 de dezembro a AF Beja organizou um Torneio de Preparação onde participaram o Luso, o Sport Lisboa e Beja, o Despertar e o Esperança. O primeiro desafio opôs o Luso ao SL Beja, sendo que o jogo foi interrompido aos 28 minutos da segunda parte quando o resultado registava um empate (1-1). Amândio Pacheco, árbitro da partida, decidiu expulsar o jogador do Luso, Firmino Lopes, resultando da sua sentença uma enorme confusão. Olho, atentamente, para um espólio que guardo na minha prodigiosa prateleira de recordações e deparo-me com o fim de um prélio que resvalou para a desordem. Este episódio não desvirtua de modo algum a dedicação do “tio” Firmino ao futebol. Conheci-o como guardião-mor de um espaço que conhecia ao pormenor. Constava-se que havia equipamentos rotos, mormente meias, que o “tio” Firmino armazenava para dar as boas-vindas aos recentes craques, assim como botas velhas, e com travessas, impregnadas de pregos maliciosos que feriam, naturalmente, os pés das vedetas. Olheiro atento, previa, também, o futuro da nova promessa só pelo calçar e o atar das chuteiras. “Este não presta”, comentava o mestre. Em arames segurados com espias e carregados de equipamentos, lavados à mão, e estendidos ao sol, apresentavam-se como um cenário trivial no velhinho estádio Fernando Ulrich. Mas o “tio” Firmino não se ficava pelas folias que a sua mente engendrava, revejo-o na tarefa a alugar bolas remendadas em catechu para divertimento da rapaziada. Uns simples dez tostões por uma hora de jogatana eram uma bênção que os moços adoravam. Mas, quando o ímpeto da moçada se prolongava, lá estava o “tio” Firmino a lançar o estridente grito indicando que o tempo se havia esgotado. Histórias hilariantes que em nada se compadecem com a atual realidade. Hoje, o Complexo Desportivo Fernando Mamede, em Beja, contempla um campo relvado, dois sintéticos, uma pista de atletismo, agora remodelada, e infraestruturas dignas, de entre outras componentes que fazem jus a vertentes desportivas em pleno desenvolvimento. Longe vão os tempos em que a figura proeminente do “tio” Firmino impunha regras num cingido espaço onde a quantidade de jogadores não ia, quiçá, para além das quatro dezenas, incluindo o futebol dos mais novos, ao invés do momento presente que o número de atletas do Desportivo, só nos escalões de formação, se estende a cerca de três centenas.
Fonte: Facebook de Jose Saude

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