Francisco Fernandes foi sempre uma voz crítica sobre os caminhos por onde o futebol, nacional e regional, estava a enveredar. Não se enganou.
Texto e foto Firmino Paixão
Campeão distrital com o castrense na última época, assumirá o seu lugar na 3.ª Divisão num ano em que se anuncia o fim deste patamar do futebol português, ou seja, as equipas ou sobem para a 2.ª Divisão Nacional ou regressam ao regional, por isso o treinador do castrense alerta para a necessidade de os clubes olharem mais profundamente para o futuro e dá o exemplo do castrense, que, subindo ou não, mantém um plantel da região, competitivo e com grande potencial de progressão.
O futebol amador está a morrer? Infelizmente o futebol amador está em decadência, sabemos que o futebol português de vez em quando tem coisas que ninguém percebe. Todos os anos têm vindo a experimentar alterações, com modelos que nos outros países já tentaram e depois desistiram deles e nós andamos agora a percorrer esse caminho. O futebol amador está a morrer e isso entristece-me muito.
Vamos para o último ano de 3.ª Divisão…Ao que parece será esta a última época, passando a existir uma 2.ª divisão amadora. Mas há cerca de 1 200 praticantes que ficam de fora. Se queremos qualidade temos que perguntar para onde irão todos esses jogadores. É verdade que o distrital pode ganhar mais qualidade, mas os jogadores não cabem em todas as equipas. Outra aberração será o facto de iniciar uma segunda fase do campeonato sabendo que o segundo grupo de seis equipas já está despromovido e que servirá apenas para os clubes gastarem dinheiro. Isto é brincar ao futebol.
Sempre alertou para a iminência desta degradação…
Estava a ver que cada vez mais perdíamos qualidade. Há menos jogadores, menos motivação. Vinha falando nisto há muitos anos e não me enganei. Tenho sido uma voz crítica e, neste caso, não gostaria de ter razão, mas a verdade é que vejo as coisas cada vez mais difíceis e mais degradadas. Os jogadores deixaram de sonhar, de ter ambição e gosto pelo jogo. E como, e quando, é que vamos dar a volta a esta situação? As pessoas que decidem não pensam nisto, é tudo feito em cima do joelho, sem diálogo, impondo regras sem ouvirem as pessoas.
Como é que o castrense vai reagir a este cenário?Independentemente destes ou daqueles objetivos, o castrense tem um olhar mais para além do presente. Temos que pensar no futuro, nos próximos dois a três anos, e o castrense, seja comigo ou com outro treinador, terá que acautelar o futuro. O clube tem condições, tem uma boa direção. O presidente gostava de manter o clube enquadrado numa prova nacional, por isto a equipa deste ano é um pouco projetada para o futuro. Quero uma equipa com determinação, sem medo, ambiciosa, que entre em campo para ganhar.
Com alguns reforços?Não conseguirei ter uma equipa apenas com jogadores do Alentejo porque há posições que não consegui preencher e agora temos que optar por dois ou três jogadores de fora da região.
Se não subirem de divisão perde-se o investimento feito até aqui?Há equipas que fizeram grandes investimentos, inclusive na região, mas o nosso investimento enquadra-se naquilo que são as possibilidades do clube. Vamos para um campeonato atípico, com uma equipa com grande margem de progressão sem limitarmos o pensamento à época em curso, mas olhando já para os próximos anos. Se o castrense, eventualmente, descesse de divisão ficaria com uma equipa com grande futuro, com média de idades baixa e a maioria da região, um grupo que pode dar muitas alegrias ao clube no futuro.
Mas o pensamento está na subida…Neste momento não pensamos em descidas ou subidas, pedimos que a equipa entre em campo dando tudo para ganhar, mas nós já temos condições para no futuro chegarmos a uma segunda divisão. Temos que ver a diferença competitiva que existe. O campeão distrital do próximo ano vai para uma 2.º divisão. É um fosso muito grande para uma equipa que não esteja preparada. Naturalmente que desejo a todas as equipas da região o melhor sucesso, cada um trabalha como quer, mas vemos que o castrense a o Mineiro estão a trabalhar com uma boa base da região, e o Moura, com 15 ou 16 jogadores de fora, se não subir esta época como é que dá continuidade ao trabalho no futuro? Esses jogadores ficam em Moura no distrital?
Nunca se falou tanto alentejano na 3.ª Divisão Nacional?Há muito que eu gostava de ver isto e este ano concretizou-se. No passado falava-se mais algarvio, com todas aquelas nuances que a gente sabe em finais de campeonato. Espero que as equipas se respeitem, que façam bons jogos e que tragam mais gente para os estádios. Desejo que, independentemente das incertezas deste campeonato, seja um ano em que o Alentejo consiga promover os seus jogadores e o seu futebol. Temos qualidade, não somos uns coitadinhos, mas temos que nos unir e tomarmos decisões em conjunto.
Francisco Fernandes
Nascido em Cabeça Gorda (Beja), em 3 de janeiro de 1960 (52 anos)
Percurso como jogador: Desportivo de Beja, Zona Azul,
Vitória de Setúbal, União da Madeira, Nacional, Olhanense, União de
Santiago do Cacém. Internacional sub/19
Percurso como treinador: Odemirense (duas épocas), Ferreirense,
Moura, Desportivo de Beja (quatro épocas), Vasco da Gama Sines (duas
épocas), Aljustrelense (cinco épocas), castrense (três épocas). Títulos:
campeão distrital da 1.ª Divisão (com subidas à 3.ª Divisão) pelo
Odemirense, Ferreirense, Moura, Aljustrelense e castrense. Taça Distrito
de Beja com o Ferreirense e Moura. Super Taça com o castrense. Subida
do Vasco da Gama de Sines da 3.ª à 2.ª Divisão.Fonte: http://da.ambaal.pt
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