O futebol teve atividade remota em Nave Redonda, está documentada a existência de uma equipa que jogava, pontualmente, num campo lavrado, mas foi, apenas, em 1986 que o sonho se concretizou – a fundação do Grupo Desportivo Cultural e Recreativo “O Beira Serra Naverredondense”.
Texto e foto Firmino Paixão
A obra nasceu da necessidade de afirmação no plano do associativismo, ou, como refere Márcio Coelho, jovem presidente do clube, para simplesmente demonstrar que ali existe gente, a meio caminho entre Messines e Monchique, na fronteira serrana entre o Alentejo e o Algarve. Com pouco mais de uma centena de habitantes, Nave Redonda tem enquadramento administrativo na freguesia de Saboia. A maior parte da sua população ativa desloca-se diariamente para trabalhar no Algarve, ao fim de semana, o percurso é feito em sentido contrário pelos atletas da região vizinha que vestem as cores do Beira Serra, treinados por Paulo Rafael, que aqui nos dá a conhecer um pouco da realidade do clube de futebol mais ao sul do território alentejano.
Como analisa a vossa participação no campeonato?
O campeonato não nos tem corrido tão bem como desejaríamos, mas isso também tem a ver um pouco como a nossa inexperiência, porque é o primeiro ano que estamos a competir, depois de um longo interregno. Estamos a tentar fazer o nosso melhor, mas temos sentido algumas dificuldades.
Quer enumerar as principais?
Nós andamos aqui porque gostamos muito disto, deixamos de estar com a família, privamo-nos de muitas outras coisas, mas juntamos um grupo de amigos, pessoas que gostam muito de futebol e especialmente da Nave Redonda, onde somos todos muito bem recebidos, por isso, gostamos de cá estar e com motivação para levarmos por diante este projeto. Esperamos melhorar a nossa prestação, creio que com um esforço de todos levaremos a nau a bom porto.
É importante manter este projeto desportivo numa povoação de dimensão tão reduzida …
É tão importante que lhe vou deixar esta ideia. A Nave Redonda tem pouco mais de 100 habitantes, e ao fim de semana deslocamos vinte pessoas de Messines e Albufeira, porque praticamente só temos dois jogadores da terra, o resto são todos do Algarve, depois com a equipa que chega para nos defrontar, juntamos um grupo que é cerca de metade do número de pessoas que lá vive. E aos fins de semana é a única atividade que lá existe para entretenimento da população.
E as condições de trabalho?
Nós não treinamos. Juntamo-nos, apenas, ao fim de semana para jogar. Cada jogador pode treinar individualmente, de resto não temos qualquer outro tipo de preparação, daí as nossas grandes dificuldades em relação a outras equipas que estão no campeonato. Julgo que, tirando o Beira Serra e o Saboia, todas as outras treinam durante a semana.
O Beira Serra deixou o futebol do Inatel para competir a nível oficial. Não estão arrependidos de terem dado esse passo?
Não, não estamos arrependidos, exatamente porque somos um grupo de amigos quer seja no Inatel, quer seja na Associação de Futebol de Beja. Jogamos por gosto e pelo prazer de estarmos reunidos. A diferença é que a competição oficial é um bocadinho mais exigente, mas quando entrámos já tínhamos consciência disso.
O recrutamento de jogadores é feito essencialmente no Algarve por falta de recursos locais …
No Algarve trabalha-se muito na área da formação e cada vez mais os clubes em atividade são menos. Só existe primeira divisão distrital, não há segunda, nem futebol do Inatel, então, os jogadores que saem dos juniores e não conseguem vingar nas respetivas equipas seniores, ficam disponíveis e como há falta de jogadores, nesta zona serrana de fronteira entre o Alentejo e o Algarve, torna-se fácil esse recrutamento.
Que apoio tem o clube para se manter em atividade?
Os nossos maiores apoios vêm da Câmara Municipal de Odemira, também da Junta de Freguesia de Saboia e, naturalmente, de algumas atividades que o clube organiza durante o Verão. Um dos motivos que nos fez abraçar este projeto da segunda divisão distrital foi a existência de um maior apoio do município de Odemira, porque competindo a este nível existe uma projeção diferente do concelho. Temos apoio para as deslocações, as coisas só se complicam se alguma vez o Saboia e o Nave Redonda jogarem fora de casa no mesmo dia.
Que objetivos desportivos trouxeram para esta temporada?
Não temos o objetivo de andar lá em cima, mas naturalmente que jogamos sempre para ganhar. Tentamos dar o nosso melhor em cada jogo e tentamos empatar as equipas que andam lá nos lugares de cima da classificação, se conseguirmos tudo bem, caso contrário também não virá mal nenhum ao mundo. Mas o ideal é mostrarmos o nosso futebol, naturalmente condicionado pelas carências que temos, mas queremos chegar ao final de cada jogo com a consciência de termos sido dignos e de termos representado bem o nosso emblema.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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