Maria Bárbara Sebastião já viveu mais de metade da sua vida como funcionária da Associação de Futebol de Beja. Conheceu quatro sedes, centenas de dirigentes e, seguramente, milhares de inscrições de atletas.
Texto e foto Firmino Paixão
Um programa de ocupação temporária, por contingências do desemprego, projetou Bárbara Sebastião no final da década de 80 para o, então desconhecido, mundo do futebol. Sofreu pressões e esteve quase a abandonar um palco dominado pelos homens, mas conseguiu ser suficientemente autodidata, para vencer esses preconceitos. Hoje domina a modalidade e até já arbitrou jogos de futebol, mas mostra a sua sensibilidade de mulher, lembrando um miúdo odemirense que chorou e a fez chorar quando, na sua função de juiz, lhe deu ordem de expulsão. Uma recordação que ainda a emociona.
Ainda se lembra do dia em que começou a trabalhar na Associação de Futebol de Beja?Entrei em 1988. Estavam cá o senhor Rosa e o senhor Curva, comecei a trabalhar, mas não sabia fazer nada. Todos os dias o senhor Rosa me mandava para casa, porque achava que isto era trabalho de homens. A pressão era tanta que eu ia para casa todos os dias sem saber se no outro dia voltava.
Na verdade não estava identificada com o futebol?Eu não percebia nada de futebol, sentia-me um pouco deslocada e como ele não me ensinava nada, durante a sua ausência na hora de almoço ia espreitar o trabalho dele para tentar aprender alguma coisinha.
Venceu essa luta desigual e agora é a colaboradora mais antiga. Recorda todos os colegas com quem trabalhou, entre eles o Arnaldo Aguiar …Sou a funcionária mais antiga. Tenho boas recordações de todos os colegas com quem tenho trabalhado. Comecei a trabalhar numa altura de mudança de instalações da rua de Mértola, o Arnaldo Aguiar ainda ficou na praça da República e só nos juntámos mais tarde. Tenho vivido várias mudanças de sede, desde a praça da República, rua de Mértola, rua Pablo Neruda e agora na Eça de Queiroz, onde julgo que vamos ficar definitivamente.
Hoje já tem um conhecimento muito profundo do futebol?Nunca sabemos tudo, a legislação muda quase todos os dias. Surgem novos conceitos e atualizações, obrigamo-nos a leituras frequentes para acompanharmos as situações, porque o sistema informático também tem evoluído bastante. As minhas áreas são as inscrições e a tesouraria, mas gostava de trabalhar também a arbitragem, gosto muito dessa área.
Tem testemunhado o nascimento e, seguramente, o desaparecimento de muitos clubes?Tenho acompanhado muitos processos de novas filiações e muitas saídas de clubes. Muitos estão no Inatel e nunca mais voltaram ao futebol federado, ainda conheço e recordo muitos dos seus dirigentes, alguns terão mesmo desaparecido, mas também têm entrado alguns clubes novos.
Sente-se realizada com o trabalho que faz no futebol distrital?No fundo, eu não escolhi este caminho de estar sentada numa secretária agarrada a papéis. Gosto muito de movimento, sou muito ativa e gostava de um trabalho mais ativo. Não é o trabalho com que sonhei, mas é aquele que tenho e cá estou há tantos anos. E tenho que me dar por feliz por ter esta ocupação e ter um posto de trabalho em face do desemprego que existe por aí.
Gosta de futebol ou olha para ele como a sua obrigação profissional?Habituei-me a gostar de futebol. Tem sido a minha vida há 26 anos. Gosto do que faço, gosto das pessoas e do mundo do futebol. Sinto-me bem.
Também tirou o curso de arbitragem e andou a dirigir jogos por esses campos fora …Foi por influência dos dirigentes Mário Alves e Mário Burrica. Lançaram-me esse repto e eu aceitei, depois desafiaram-me a não guardar apenas o diploma, mas ir para os campos dirigir jogos. E lá andei sete anos, altura em que também fui cronometrista de futsal nos quadros da Federação. Depois, como trabalhava aqui e na área da arbitragem, surgiram incompatibilidades legais com as normas da Federação.
Está num palco que lhe dá legitimidade para avaliar o processo evolutivo do futebol. Que opinião tem?O futebol tem evoluído muito, sobretudo ao nível da formação. Também a classe dirigente está diferente para melhor. Lidei com muitas pessoas que tinham alguma dificuldade em gerir as situações, mas hoje existe mais conhecimento. Houve um rejuvenescimento na classe dirigente.
Recorda algum episódio que a tenha marcado e queira partilhar?Quando aqui cheguei, embora inexperiente mostrava disponibilidade para atender os dirigentes dos clubes. Um certo dia, um disse-me isto: “não quero ser atendido por si, você não percebe nada disso”. Ficou à espera de outro colega e eu passei à frente. Cansou-se de esperar enquanto via o meu desempenho, até que me disse: “vá lá, em todo o caso atenda-me lá”. Mas teve mesmo que esperar, porque eu já não aceitei atendê-lo.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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